35 semanas. É o mesmo que dizer que…está quase. A minha Alice já tem mais 40cm e quase 2,5kg. Pesa mais que um melão e é maior que um ananás dos Açores, dos grandes. Supostamente, faltam 5 semanas para ela nascer. Digo supostamente, porque estamos a entrar naquela fase em que ela é que manda, pode sair a qualquer momento. Acho que esta fase volta quando ela tiver 18 anos. Pode sair a qualquer momento, a porta é que é diferente.
Confesso que neste momento começo já a sofrer um pouco da chamada “ansiedade paternal”. Antes era tudo um “quando ela chegar vai ser assim”, “será que vai sair parecida com a mãe?”, “será que vai ter o feitio do pai?”, “ainda temos tempo de comprar todas as coisas para ela”, “o parto vai ser assim”, “o parto vai ser assim”, enfim, tudo hipóteses longínquas e parece que foi ontem que a vi com o tamanho de um alfinete. Agora, com 35 semanas de vida em comum com a barriga da mãe, entro naquela fase “daqui a alguns dias já tenho a minha filha comigo”. A minha filha. Não estou assustado, mas sinto-me a borbulhar. Talvez seja um sentimento mais agudizado por ser o primeiro filho (neste caso, filha), mas nem o sinto por aí, sinto que vai nascer algo, verdadeiramente, meu e que está a mexer com tudo o existe dentro de mim.
Já sonhei várias vezes com a Alice. Aliás deve ser o meu sonho mais frequente dos últimos tempos. Falo com ela, brinco com ela, conto-lhe imensas histórias, enfim, mil e uma coisas. Mas nunca lhe coloquei uma cara. Como já disse um grande sábio “quero é que ela venha com saúde”, mas tenho muita curiosidade em a ver, em colocar uma cara nesta coisa chamada “amor incondicional”, que ainda coloquei a hipótese de ser daqueles mitos urbanos, mas que já percebi que não é. Existe mesmo. Já existe dentro de mim. Sim, ainda só estou na fase da cara. No que toca ao feitio, se ela for buscar um bocadinho do feitio do pai e um bocadinho do feitio da mãe, que são duas personagens bastante fortes, qual cocktail molotov, parece-me não será ela a ter que se adaptar ao mundo, o mundo é que vai ter que se adaptar a ela. Daqui uns meses eu conto-vos se ela sai aos pais ou às pedras da calçada.
Outra coisa importante, disseram-me que ela já me consegue ouvir e tenho trabalhado bem essa parte. Sempre a falar com ela, a dizer que gosto muito dela e a dizer para ela não chatear muito a mãe. Ainda não arrisquei em nenhuma canção (quero que imagem inicial dela sobre mim seja boa). Acredito que ela já conhece o Pai. Portanto, vamos ter festa imediata quando ela nascer. Sim, é claro que vou assistir ao parto. Sim, é claro que vou ser eu a colocar a primeira fralda. Sim, é claro que vou ser eu a vestir a primeira roupa. Sim, a despedida vai ser difícil quando a tiver que deixar no hospital (sim, só a vou poder visitar nos horários de visita). Esperemos que corra tudo bem e que sejam só dois ou três.
A coleção de roupa da Alice aumenta dia após dia e a minha evolução enquanto “pai de uma menina” está atingir um pico que nunca imaginei. Se há uns meses tinha dificuldade de distinguir os tamanhos de roupa, agora sinto-me a terminar uma pós-graduação em conjugação de peças de roupa. Sim, vai ser muitas vezes vestida pelo Pai. Sim, as senhoras das lojas de roupa abusam de mim.