Por volta das 13h00, num dia frio de Outono, chegava ao Folgosinho. Aldeia carismática no lado Norte da Serra da Estrela. Ia a caminho do restaurante Albertino para almoçar.
“Tens que ir ao Albertino!”. Frase ouvida por mim vezes sem conta. Vinda de amigos, conhecidos ou, simplesmente, vinda de pessoas com quem me cruzei entre os temas Serra da Estrela ou comer. Naquele dia a Alice e a Liliana estavam comigo, íamos almoçar juntos. Mas seguíamos em carros diferentes (eu andava a trabalhar e elas a passear), e eles já estavam no Albertino quando cheguei a Folgosinho. Procurei lugar para estacionar, percorri algumas ruas de pedra e lá encontrei o Albertino. Entrei. A entrada é feita por um café, que estava cheio de gente ao balcão. Sem dizer nada e depois de dois passos dentro do café, estava uma senhora de braços no ar a falar alto para mim “estamos cheios!”. E eu ainda meio perplexo com aquilo, lá apontei para o restaurante, ainda sem dizer nada. Ao que a senhora, ainda de braços no ar, voltou-me a dizer “Tem reserva? Sem reserva hoje não dá!”. Aproximei-me da senhora, entre as pessoas que enchiam o café e lá lhe disse “tenho pessoas sentadas no restaurante à minha espera, a minha mulher e a minha filha”. A senhora mudou de face, para uma simpática, e lá disse “ah! Uma bebé (a Alice a marcar pontos em Folgosinho), pode subir, estão no último piso”. Lá subi para o último piso. Estava cheio. A Alice já comia a sua sopa e a Liliana tinha à sua frente as entradas do Albertino. Não era manteiga e azeitonas, era cozido à portuguesa. Ri-me e ela, entre um sorriso, só me encolheu os ombros, como que a dizer “aqui, é a sério!”. Sentei-me e chegou logo em seguida um empregado e disse “já sabem como isto funciona?”, respondi que não e ele rapidamente explicou “são 16 por pessoa e vêm 4 travessas de comida para a mesa, uma de cabidela de coelho, outra de feijoada de javali, outra de borrego assado no forno e outra de leitão”. Tive que me rir. Tinha acabado de perceber o porquê de tanta gente me recomendar o Albertino e o porquê do seu sucesso. O Albertino é, sem rodeios e meias palavras, Portugal à mesa.
Depois de uma barriga cheia de Portugal, lá voltei ao piso 0, o do café. Sem pedir nada, apenas com a aproximação do balcão, a mesma senhora das “reservas”, colocou 3 jarros em cima do balcão, com dois copos de shot ao seu lado. 3 aguardentes caseiros, para ajudar na digestão do almoço e ficar ainda mais ligado a este lugar. Lá provei as 3 aguardentes e, para além ter acendido uma fogueira dentro do estômago, desejei ficar por ali o resto do dia. Falar com as pessoas e viver o Folgosinho. Tudo parecia-me genuinamente genial.
Que o Albertino viva, pelo menos, para sempre. É sinal que pessoas como eu também vão viver para sempre, culturalmente. Uma das formas mais bonitas da imortalidade.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.