Aldeia de Benfeita. Freguesia do concelho de Arganil, 400 habitantes, uma das portas de entrada para a magnífica Serra do Açor. Já me perdi por esta aldeia vezes sem conta. A construção em pedra não abunda por aqui, mas faz, orgulhosamente, parte do núcleo das Aldeias do Xisto. Talvez por isso, dentro do grupo de aldeias de pedra rugosa, seja conhecida como aldeia branca.
Quase todo o seu território, enquanto freguesia, está absorvido pela Serra do Açor. Confesso-me um admirador devoto deste lugar. Fraga da Pena (sim, a cascata) e Mata da Margaraça são as suas figuras mais célebres, mas, em segundo plano, existem lugares maravilhosos como as aldeias de Pardieiros ou Enxudro.
Numa recente visita a esta aldeia, em formato de viagem-diário, escrevi estas palavras:
“Estaciono o carro e começo a exploração a pé. Mais um vez, não sigo o perfil de explorador. Não vou à procura dos pontos chave, vou à procura do seu coração. Procuro o largo da aldeia, junto a uma pequena ribeira que atravessa a aldeia. Compro uma água e sento-me a observar as gentes de Benfeita. Simples, não. O dia caminha para o fim e a temperatura mantém-se elevada. Esta ribeira, entre outras riquezas, produz frescura. Observo um dos momentos altos do dia em Benfeita, chegou a hora da missa. E uma parte da população caminha para a Igreja. Mais uma vez, recordo a minha infância, recordo a minha avó a ir à missa e eu a jogar à bola no adro da igreja. Muito bom ver que os velhos costumes ainda se mantêm. Acabo a minha água e sigo o caminho da ribeira, quase como seguindo o movimento da aldeia. Chega o final do dia, marcado pelo final da missa. É quase como um recolher obrigatório. Pessoas a chegar do trabalho, comerciantes a fechar “os tascos”, fumo a sair das chaminés, como um movimento natural, alinhado entre todos. O movimento humano nestas aldeias começa cedo e acaba cedo, apenas em dias de festa a rotina se altera. Amanhã é novo dia em Benfeita”.
A próxima visita está marcada para breve.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.