ALICE
Qualquer pequeno barulho ou o movimento no elevador me faziam pensar: “é agora!”. Mas todos os barulhos foram em vão. Até que, muito tranquilamente e fora do meu ângulo de visão, oiço uma voz desconhecida, de alguém que aparentemente me estava a ver. Baixinho, mas sem esconder a voz, oiço: “parabéns”. A activação do meu cérebro não estava a funcionar em pleno. Pensei: “não vejo ninguém, será que é para mim?”. Levantei-me, vejo que era o pediatra que ia a entrar numa sala. Pergunto: “correu tudo bem?”. Ao que ele responde: “sim, está tudo bem. A mãe também está bem”. Mais aliviado e com vontade de lhe perguntar como era a minha filha, só lhe devolvi um sincero obrigado. Voltei a sentar-me. Já me conseguia rir levemente e já não olhava para o relógio. A sala continuava em silêncio. Passados cinco minutos, oiço umas rodas a lutarem contra o chão. Aí não tive dúvidas. Era a minha filha que vinha aí. Levantei e andei em direção ao som. Num ápice vi a enfermeira e uma espécie de incubadora que mais parecia uma televisão dos anos 80. A enfermeira assim que me vê, ri-se para mim e diz: “venha ver a Alice”. Bem, o tempo congelou. Consigo recordar todos os segundos do primeiro olhar que troquei (bem, na verdade, acho que ela ainda não me conseguia ver) com a minha Alice. Voltei a perguntar à enfermeira: “correu mesmo tudo bem? A Liliana está bem?”. “Sim, correu tudo bem.
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Episódio 1: A Liliana está grávida.
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