Anta da Foz do Rio Frio, Ortiga, Mação, Médio Tejo, Portugal. Monumento fúnebre com vista para o rio Tejo.
O relato do meu encontro com este lugar:
Poucos minutos passavam das 8h, um dia de céu limpo. Uma ligeira brisa soprava e o rio Tejo brilhava de tão dourado que estava. Tinha acabado de chegar à Anta da Foz do Rio Frio. Estava bem pertinho da povoação de Ortiga, numa encosta junto ao rio. Demasiado fácil lá chegar, demasiado difícil perceber a dimensão do que o caminho esconde. Um conjunto de pedras cuidadosamente alinhadas formando um circulo e uma espécie de corredor de entrada. Mesmo sem perceber de imediato o que representava ou a idade que tinha, facilmente percebi que era diferente, que era importante. Outra coisa que percebi facilmente foi o porquê de estar ali, a presença do rio não dava para enganar. Quase como chamamento de paraíso para a última viagem de alguém. Uma vista majestosa, que emanava tranquilidade. Difícil é encontrar resposta para algo tão belo e peculiar, ter perdurado no tempo, quase como se tivesse sido congelado ou simplesmente esquecido pelo próprio tempo. A expectável construção da anta remonta ao ano de 3200 a.c.(sim! impressionante). Percebem a razão do meu espanto e admiração? Com os olhos postos no meu Tejo e num silêncio apenas interrompido pelo vento, viajava no tempo. Imaginava o que se tinha passado por ali, quem por ali tinha circulado e mais uma vez a agradecer o facto de, provavelmente, este monumento ter sido ignorado durante séculos. E também não deixando de me interrogar “o lugar é tão bonito, podiam ter construindo uma casa e não um templo funerário”. Sim, eu sei que naquele tempo as prioridades eram outras. O misticismo que este lugar confere, fazem os meus olhos brilharem mais do que o próprio Sol. É o que eu chamo de uma simplicidade complexa. Um lugar que me obriga a questionar (e inquietar-me) de uma forma complexa e profunda, e ao mesmo tempo alimenta-me de uma tranquilidade que apenas os momentos mais simples e genuínos o conseguem fazer. Circundei várias vezes a anta, terminando por sentar-me junto a ela, sozinho e no completo silêncio a admirar o rio. Mas tarde e depois mais uma mão cheio de viagens pelo imaginário, movido pelos sentidos, percorri o caminho de volta (até ao carro) com aquele sentimento chamado de “a nossa história não acaba aqui”.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.