vila de ARGANIL

Arganil. Vila quase escondida entre bonitos montes e vales. Localizada algures entre a Serra da Estrela e Coimbra. Desde muito cedo que ouvi histórias de Arganil, muito por culpa do meu pai e das suas visitas a Arganil para ver o Rally de Portugal. O nome Arganil tornou-se familiar, desde os primórdios da minha vida, associado a nomes como Ari Vatanen, Juha Kankkunen ou Miki Biasion (alguns do campeões dos anos 80). Mas apesar dessa familiaridade, nunca tinha visitado Arganil, ou, em concreto, a vila de Arganil. Talvez seja mesmo essa a premissa para esta história. A descoberta de um lugar familiar.

É difícil chegar a Arganil. Não aquele difícil impossível e sofrido. Mas um difícil complexo e apaixonante. Não é uma vila de beira da estrada, não é um lugar de passagem, não fica numa planície onde os quilómetros parecem metros. A viagem pelo centro da vila de Arganil, começa sempre muito antes de lá chegar. Quase como prólogo ou introdução, as curvas e contracurvas, os bosques, as florestas, as pequenas aldeias da serra, fazem do caminho para Arganil, uma experiência. Não é imediato, não é instantâneo, mas é absorvente e no caso, diria mesmo que magnético. Adoro lugares assim. Talvez, ainda sem chegar, já conseguisse visualizar o que iria encontrar. Um lugar genuíno. Confirmou-se.

“Aterrei” no centro da vila numa 5a feira de uma manhã de Inverno. Era dia do mercado semanal. Mesmo sem ter termo de comparação, sabia que a vila estava diferente. Vivia numa azafama diferente e com um colorido diferente. Fiquei tão feliz quando percebi que estava a visitar a vila no seu dia de mercado. Quando me perguntam: “o que fazes ou qual o teu comportamento quando chegas a um lugar novo?”. A minha resposta é quase sempre a mesma: “vou ao mercado local”. Por várias razões. Para sentir o local, para sentir num movimento de rotina, para perceber os recursos do território e claro, para sentir cheiros, emoções. Com a devida proporção, em comparação com, por exemplo, Barcelona, o mercado de Arganil balanceia genuinamente para o mesmo lado. Produtos e produtores locais. Produtos adaptados às necessidades das pessoas. Delicioso ver uma senhora com uma árvore na mão, para plantar na sua quinta. Delicioso ver um senhor a escolher as melhores ferragens, para as suas pequenas obras. Delicioso ver as jovens famílias estrangeiras, que habitam nas serras em volta de Arganil, a comprar os seus abastecimentos. Delicioso ver o amola tesouras à entrada do mercado a fazer o seu trabalho tranquilamente. Foi quase como estar perante uma lenda viva. Delicioso ver as aldeias a “descerem” à vila, para as suas gentes confraternizarem. Estava começar bem a minha viagem por Arganil.

Arganil, enquanto concelho e território é enorme. Quando me perguntam: “Arganil, o que tem para ver Arganil?!”. Talvez com a aquela típica ideia: “Arganil, pequeno lugar escondido entre serras, onde muitas vezes passou o rally”. Mas eu respondo sempre: “Arganil é um mini-mundo rural”. Arganil tem Piodão, tem as aldeias do xisto Benfeita e Vila Cova de Alva, tem a bonita vila de Côja, tem a Serra do Açor, com a sua Fraga da Pena e o seu parque natural, tem muitas praias fluviais, tem um passado romano, enfim, tanta coisa boa, que a própria vila de Arganil, muitas vezes, fica em segundo plano no seu próprio território. Não considero isso objetivamente mau. É apenas diferente. Tudo isto, transforma Arganil em muito mais do que um lugar fechado. Transforma Arganil numa viagem. Sempre.

Depois de deixar o mercado, que fica no topo da vila, foi como mergulhar pelas ruas apertadas deste lugar. Estava um nevoeiro cerrado, a criar um ambiente nostálgico. Arganil tem aquele sabor e cheiro ternurento de uma pequena aldeia, com serviços de um lugar maior. É aconchegante como algo que nos liga à terra. Não conhecia nenhuma das pessoas com quem me cruzei, mas senti-as próximas de mim, quase como que pelos seus passos, de tão sinceros que eram, conseguisse adivinhar qual a sua vida. Passei pela praça do município, comprei fruta no mini-mercado local, para o caminho, entrei na igreja, bebi uma água no café do teatro e sem pedir ouvi muitas histórias, quase como um super herói com um poder magnético de captar histórias. Ouvi histórias da antiga Cerâmica Argilense, que funcionou durante quase 80 anos e que hoje é um edifício belíssimo da vila. Ouvi histórias sobre o Santuário do Mont’Alto, que funciona quase como um Cristo Rei cá do sítio, e que lá no alto dos seus 615m de altitude abençoa toda a vila. Ouvi histórias sobre o drama dos incêndios de 2017. Ouvi histórias de alegria de gente que sente este lugar como algo inteiramente seu. Claro, ouvi histórias sobre o rally que finalmente, este ano, vai voltar.

Almocei num dos restaurantes do centro, uns belos rojões a ouvir mais umas histórias e a contar outras. Contei a história que me fez ouvir Arganil tanta vez na minha infância. Anexei que não sabia se por isso, ou por outra coisa qualquer, não me sentia como estranho, neste lugar perdido entre serras e difícil de alcançar. Sentia-me genuinamente bem. Genuinamente tranquilo na minha relação com esta terra pura. Sim, foi a primeira vez que visitei a vila de Arganil. 

Arganil. Vila quase escondida entre bonitos montes e vales. Localizada algures entre a Serra da Estrela e Coimbra. Desde muito cedo que ouvi histórias de Arganil, muito por culpa do meu pai e das suas visitas a Arganil para ver o Rally de Portugal. O nome Arganil tornou-se familiar, desde os primórdios da minha vida, associado a nomes como Ari Vatanen, Juha Kankkunen ou Miki Biasion (alguns do campeões dos anos 80). Mas apesar dessa familiaridade, nunca tinha visitado Arganil, ou, em concreto, a vila de Arganil. Talvez seja mesmo essa a premissa para esta história. A descoberta de um lugar familiar.

É difícil chegar a Arganil. Não aquele difícil impossível e sofrido. Mas um difícil complexo e apaixonante. Não é uma vila de beira da estrada, não é um lugar de passagem, não fica numa planície onde os quilómetros parecem metros. A viagem pelo centro da vila de Arganil, começa sempre muito antes de lá chegar. Quase como prólogo ou introdução, as curvas e contracurvas, os bosques, as florestas, as pequenas aldeias da serra, fazem do caminho para Arganil, uma experiência. Não é imediato, não é instantâneo, mas é absorvente e no caso, diria mesmo que magnético. Adoro lugares assim. Talvez, ainda sem chegar, já conseguisse visualizar o que iria encontrar. Um lugar genuíno. Confirmou-se.

“Aterrei” no centro da vila numa 5a feira de uma manhã de Inverno. Era dia do mercado semanal. Mesmo sem ter termo de comparação, sabia que a vila estava diferente. Vivia numa azafama diferente e com um colorido diferente. Fiquei tão feliz quando percebi que estava a visitar a vila no seu dia de mercado. Quando me perguntam: “o que fazes ou qual o teu comportamento quando chegas a um lugar novo?”. A minha resposta é quase sempre a mesma: “vou ao mercado local”. Por várias razões. Para sentir o local, para sentir num movimento de rotina, para perceber os recursos do território e claro, para sentir cheiros, emoções. Com a devida proporção, em comparação com, por exemplo, Barcelona, o mercado de Arganil balanceia genuinamente para o mesmo lado. Produtos e produtores locais. Produtos adaptados às necessidades das pessoas. Delicioso ver uma senhora com uma árvore na mão, para plantar na sua quinta. Delicioso ver um senhor a escolher as melhores ferragens, para as suas pequenas obras. Delicioso ver as jovens famílias estrangeiras, que habitam nas serras em volta de Arganil, a comprar os seus abastecimentos. Delicioso ver o amola tesouras à entrada do mercado a fazer o seu trabalho tranquilamente. Foi quase como estar perante uma lenda viva. Delicioso ver as aldeias a “descerem” à vila, para as suas gentes confraternizarem. Estava começar bem a minha viagem por Arganil.

Arganil, enquanto concelho e território é enorme. Quando me perguntam: “Arganil, o que tem para ver Arganil?!”. Talvez com a aquela típica ideia: “Arganil, pequeno lugar escondido entre serras, onde muitas vezes passou o rally”. Mas eu respondo sempre: “Arganil é um mini-mundo rural”. Arganil tem Piodão, tem as aldeias do xisto Benfeita e Vila Cova de Alva, tem a bonita vila de Côja, tem a Serra do Açor, com a sua Fraga da Pena e o seu parque natural, tem muitas praias fluviais, tem um passado romano, enfim, tanta coisa boa, que a própria vila de Arganil, muitas vezes, fica em segundo plano no seu próprio território. Não considero isso objetivamente mau. É apenas diferente. Tudo isto, transforma Arganil em muito mais do que um lugar fechado. Transforma Arganil numa viagem. Sempre.

Depois de deixar o mercado, que fica no topo da vila, foi como mergulhar pelas ruas apertadas deste lugar. Estava um nevoeiro cerrado, a criar um ambiente nostálgico. Arganil tem aquele sabor e cheiro ternurento de uma pequena aldeia, com serviços de um lugar maior. É aconchegante como algo que nos liga à terra. Não conhecia nenhuma das pessoas com quem me cruzei, mas senti-as próximas de mim, quase como que pelos seus passos, de tão sinceros que eram, conseguisse adivinhar qual a sua vida. Passei pela praça do município, comprei fruta no mini-mercado local, para o caminho, entrei na igreja, bebi uma água no café do teatro e sem pedir ouvi muitas histórias, quase como um super herói com um poder magnético de captar histórias. Ouvi histórias da antiga Cerâmica Argilense, que funcionou durante quase 80 anos e que hoje é um edifício belíssimo da vila. Ouvi histórias sobre o Santuário do Mont’Alto, que funciona quase como um Cristo Rei cá do sítio, e que lá no alto dos seus 615m de altitude abençoa toda a vila. Ouvi histórias sobre o drama dos incêndios de 2017. Ouvi histórias de alegria de gente que sente este lugar como algo inteiramente seu. Claro, ouvi histórias sobre o rally que finalmente, este ano, vai voltar.

Almocei num dos restaurantes do centro, uns belos rojões a ouvir mais umas histórias e a contar outras. Contei a história que me fez ouvir Arganil tanta vez na minha infância. Anexei que não sabia se por isso, ou por outra coisa qualquer, não me sentia como estranho, neste lugar perdido entre serras e difícil de alcançar. Sentia-me genuinamente bem. Genuinamente tranquilo na minha relação com esta terra pura. Sim, foi a primeira vez que visitei a vila de Arganil. 

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