Vila de Côja
Vila de Côja. Terra de Arganil, com cheiro a serra, com cheiro a rio, com cheiro a natureza e genuinidade. É um daqueles lugares que não vem no mapa. Talvez seja esse feito a sua maior graça.
Cheguei a Côja, vindo de Sul, numa solarenga manhã de final de Verão. Não me recordo bem de que caminhos tomei, para chegar a esta vila que já foi sede de concelho durante quase 500 anos. Sim, 500 anos é muito tempo e muitas histórias. Como já referi, não me recordo de que caminhos tomei, recordo que me deixei navegar por coordenadas. Senti que Côja não existia no mapa, talvez pela falta de referências que transformassem tal caminho num lugar familiar, talvez pelos muitos quilómetros que fiz, talvez porque não vem mesmo nos mapas, nos mapas do turismo, nos mapas dos lugares que toda a gente já visitou. Talvez seja essa a sua maior virtude e transforma, sempre, lugares fora de mapa em lugares únicos. Quase como sagrados. Cheguei e assim que encontrei um buraquinho, estacionei.
A primeira imagem que iluminou o meu olhar foi o rio que divide a vila. O rio Alva. Além de um recurso, que acredito que tenha sido muito útil no passado, transforma a vila num quadro. E esta questão do belo, supera quase tudo, quando estamos a colecionar memórias. Casas alinhadas em pequenas encostas, um rio no meio e uma majestosa ponte romana a ligar as duas margens.
Caminhei em direção à ponte e atravessei-a. Lentamente e a debruçar-me sobre os seus muros. De um lado, o verde da serra. Do outro lado, o rico património edificado da vila. Depois de passar a ponte, e já na margem oposta à margem da minha chegada, entrei num das pequenas ruas que alimentam o carisma do lugar. Algumas pessoas vagueavam pelas ruas de pedra sem pressas. Outras procuravam pequenas e estratégicas sombras, como refúgio do sol de Verão, que tantas vezes transforma os lugares do coração de Portugal em autênticas estufas. Caminhei sem parar e já ligado a Côja, senti-me num carrossel de coisas, que só os lugares fora de mapa oferecem. Aqueles movimentos diários, rotinas de pessoas sem presa. Sem pressa para conversar com o vizinho do lado, sem pressa para um simples bom dia, sem pressa para regatear preços, sem pressa para marcar a sua posição na vida deste lugar. A soma de todas as vidas, dão vida a este lugar. Senti-me um privilegiado, por poder viajar, de forma constante, em lugares que não vêm no mapa.
Côja, nas suas ruas, está carregada de pormenores, que se somam em património. Foi um lugar importante. Talvez já tenha figurado num mapa da normalidade e da cena geopolítica nacional. Rapidamente fiz várias viagens no tempo e facilmente imaginei como seria este lugar à centenas de anos atrás. Talvez não fosse assim tão diferente do que é hoje. Talvez seja isso que ainda ilumina este lugar nos dias de hoje. Continuei a caminhar. Passei pelo pelourinho, subi à igreja matriz, gabei a mercearia, entrei num lugar chamado Zé Tostão. Disse muitos bons dias. Distribuí muitos sorrisos. Sentei-me numa esplanada a ouvir o rio e deixei-me ficar.
Enquanto estava sentado, na tal esplanada, a ouvir o rio a fazer o seu caminho, saquei do meu caderno de viagem para escrever algumas notas. Comportamento rotineiro na minha pessoa. O que estava a sentir? O que tinha visto? Perguntas óbvias. Mas sem respostas claras. É claro que me estava a sentir bem, mas existia ali mais qualquer coisa. É claro que tinha visto coisas bonitas, mas senti que apesar de ter visto tudo ou quase tudo, existia muito mais além do que a vila me tinha mostrado. Existia dúvida nas minhas palavras, existia dúvidas no que estava a sentir em relação ao que estava a viver. Nunca num sentido negativo, mas sempre no sentido da inquietação da incerteza. Senti-me cómodo na minha posição incomoda e sem grandes respostas. Senti-me cómodo em perceber, mais uma vez, que os lugares aparentemente mais simples, são envolvidos por uma complexidade deliciosa. Senti que cada história conta. A história de cada pessoa. Percebi que talvez fosse essa a grande razão do meu formigueiro. O colectivo deste lugar é feito de pequenas e deliciosas singularidades. Percebi que nunca iria conseguir uma resposta racional em relação ao que estava a ver e, muito menos, ao que estava a sentir. É claro que não fiquei preocupado, apenas deliciado. Levantei-me, de sorriso “punho”.
Já perto da despedida e a caminho da ponte romana, entre mais alguns lançares de admiração ao rio, senti que uma senhora, de ar simpático, me lançava uns olhares de interrogação. Caminhei para perto dela, sorri e disse boa tarde. Depois de retribuir o boa tarde, perguntou-me o que eu andava a fazer por ali. Respondi-lhe que andava a retratar Côja. Ela sorriu e de imediato soltou a afirmação que marca esta história: “se não souber que titulo dar aos seus retratos, coloque-lhes o nome de Princesa, Princesa do Alva. É assim que Côja é conhecida”. Sorri e disse que o iria fazer. Fez sentido para mim. Talvez seja a resposta para das minhas interrogações. Côja é uma princesa. A Princesa do Alva (com todas as particularidades que uma boa princesa deve ter).
Vila de Côja. Terra de Arganil, com cheiro a serra, com cheiro a rio, com cheiro a natureza e genuinidade. É um daqueles lugares que não vem no mapa. Talvez seja esse feito a sua maior graça.
Cheguei a Côja, vindo de Sul, numa solarenga manhã de final de Verão. Não me recordo bem de que caminhos tomei, para chegar a esta vila que já foi sede de concelho durante quase 500 anos. Sim, 500 anos é muito tempo e muitas histórias. Como já referi, não me recordo de que caminhos tomei, recordo que me deixei navegar por coordenadas. Senti que Côja não existia no mapa, talvez pela falta de referências que transformassem tal caminho num lugar familiar, talvez pelos muitos quilómetros que fiz, talvez porque não vem mesmo nos mapas, nos mapas do turismo, nos mapas dos lugares que toda a gente já visitou. Talvez seja essa a sua maior virtude e transforma, sempre, lugares fora de mapa em lugares únicos. Quase como sagrados. Cheguei e assim que encontrei um buraquinho, estacionei.
A primeira imagem que iluminou o meu olhar foi o rio que divide a vila. O rio Alva. Além de um recurso, que acredito que tenha sido muito útil no passado, transforma a vila num quadro. E esta questão do belo, supera quase tudo, quando estamos a colecionar memórias. Casas alinhadas em pequenas encostas, um rio no meio e uma majestosa ponte romana a ligar as duas margens.
Caminhei em direção à ponte e atravessei-a. Lentamente e a debruçar-me sobre os seus muros. De um lado, o verde da serra. Do outro lado, o rico património edificado da vila. Depois de passar a ponte, e já na margem oposta à margem da minha chegada, entrei num das pequenas ruas que alimentam o carisma do lugar. Algumas pessoas vagueavam pelas ruas de pedra sem pressas. Outras procuravam pequenas e estratégicas sombras, como refúgio do sol de Verão, que tantas vezes transforma os lugares do coração de Portugal em autênticas estufas. Caminhei sem parar e já ligado a Côja, senti-me num carrossel de coisas, que só os lugares fora de mapa oferecem. Aqueles movimentos diários, rotinas de pessoas sem presa. Sem pressa para conversar com o vizinho do lado, sem pressa para um simples bom dia, sem pressa para regatear preços, sem pressa para marcar a sua posição na vida deste lugar. A soma de todas as vidas, dão vida a este lugar. Senti-me um privilegiado, por poder viajar, de forma constante, em lugares que não vêm no mapa.
Côja, nas suas ruas, está carregada de pormenores, que se somam em património. Foi um lugar importante. Talvez já tenha figurado num mapa da normalidade e da cena geopolítica nacional. Rapidamente fiz várias viagens no tempo e facilmente imaginei como seria este lugar à centenas de anos atrás. Talvez não fosse assim tão diferente do que é hoje. Talvez seja isso que ainda ilumina este lugar nos dias de hoje. Continuei a caminhar. Passei pelo pelourinho, subi à igreja matriz, gabei a mercearia, entrei num lugar chamado Zé Tostão. Disse muitos bons dias. Distribuí muitos sorrisos. Sentei-me numa esplanada a ouvir o rio e deixei-me ficar.
Enquanto estava sentado, na tal esplanada, a ouvir o rio a fazer o seu caminho, saquei do meu caderno de viagem para escrever algumas notas. Comportamento rotineiro na minha pessoa. O que estava a sentir? O que tinha visto? Perguntas óbvias. Mas sem respostas claras. É claro que me estava a sentir bem, mas existia ali mais qualquer coisa. É claro que tinha visto coisas bonitas, mas senti que apesar de ter visto tudo ou quase tudo, existia muito mais além do que a vila me tinha mostrado. Existia dúvida nas minhas palavras, existia dúvidas no que estava a sentir em relação ao que estava a viver. Nunca num sentido negativo, mas sempre no sentido da inquietação da incerteza. Senti-me cómodo na minha posição incomoda e sem grandes respostas. Senti-me cómodo em perceber, mais uma vez, que os lugares aparentemente mais simples, são envolvidos por uma complexidade deliciosa. Senti que cada história conta. A história de cada pessoa. Percebi que talvez fosse essa a grande razão do meu formigueiro. O colectivo deste lugar é feito de pequenas e deliciosas singularidades. Percebi que nunca iria conseguir uma resposta racional em relação ao que estava a ver e, muito menos, ao que estava a sentir. É claro que não fiquei preocupado, apenas deliciado. Levantei-me, de sorriso “punho”.
Já perto da despedida e a caminho da ponte romana, entre mais alguns lançares de admiração ao rio, senti que uma senhora, de ar simpático, me lançava uns olhares de interrogação. Caminhei para perto dela, sorri e disse boa tarde. Depois de retribuir o boa tarde, perguntou-me o que eu andava a fazer por ali. Respondi-lhe que andava a retratar Côja. Ela sorriu e de imediato soltou a afirmação que marca esta história: “se não souber que titulo dar aos seus retratos, coloque-lhes o nome de Princesa, Princesa do Alva. É assim que Côja é conhecida”. Sorri e disse que o iria fazer. Fez sentido para mim. Talvez seja a resposta para das minhas interrogações. Côja é uma princesa. A Princesa do Alva (com todas as particularidades que uma boa princesa deve ter).