Entre os dias 30 de Setembro e 7 de Outubro (tinha de voltar no aniversário da minha querida mãe) existe em viagem (no modo descoberta) pelas belíssimas ilhas do Faial, Pico e São Jorge. No ano passado estive pela primeira vez nos Açores, numa épica viagem pela ilha São Miguel. Gostei tanto, que o desejo de conhecer as restantes ilhas nasceu de imediato em mim. Na hora da escolha (da próxima), não existiram grandes dúvidas. Muito pelas recomendações feitas na viagem a São Miguel, confirmadas depois nas minhas buscas (aquelas que alimentam os sonhos). Utilizando uma linguagem selvagem, com uma cajadada iria matar 3 coelhos, ou seja, com uma viagem, riscava 3 ilhas da minha lista de “next stop”. SPOILER ALERT: mais tarde, voltei a apagar o  risco, gostei tanto, que ainda não estava dentro do avião para regressar a casa e já estava a pensar no regresso. 😉

Faial, Pico e São Jorge fazem parte do grupo central do arquipélago dos Açores (juntamente com a Terceira e Graciosa). Formando uma espécie de sub-grupo chamado Ilhas do Triângulo, pela proximidade entre si, e claro, por, geometricamente, formarem um delicado triângulo no meio de um imenso oceano.

Dividi o meu tempo, quase que ao segundo, pelas 3 ilhas, com o objetivo de conhecer o melhor que cada uma tem para oferecer. O que se segue, é a compilação do meu diário de bordo (o “bordo” nunca fez tanto sentido. Ilhas, oceano, barcos, navegadores…). Formando no seu conjunto, peça a peça, uma única experiência por este triângulo mágico, para muitos a localização da Atlântida (sim, aquela mítica cidade sub-aquática). Espero conseguir leva-los a viajar (e a sonhar…e depois, a sair do sofá e ir lá). 

#FAIAL

-> 30 de Setembro, 2016

Cheguei por volta das 18h00 e esta coisa do aeroporto (ainda para mais tenho de fazer 150km para lá chegar), despachar bagagem, revisões a tudo e mais alguma coisa, espera pelo avião, 3 horas dentro do avião, depois o avião atrasa-se meia hora, chegar, recolher a bagagem, ir do aeroporto para a cidade (neste caso Horta), é um bocado massacrante. Quanto mais viajo, quando mete aviões e aeroportos, mais me cansa esta parte da viagem. Enfim, já passou.

Na chegada à Horta (cidade muito bonita, localizada a cerca de 10 minutos do aeroporto), fiquei logo num belo cantinho. No Hotel do Canal, como uma vista muito bonita para a marina e para a ilha do Pico. A 200m do mítico Peter Sport Café e 500m da (fofinha) praia do Porto Pim. Deixei as malas no hotel e fui dar um passeio pelas redondezas. A marina, carregada de barcos, eleva o sentimento náutico que este lugar têm. É terra de navegadores e aventureiros. Muitas terras de mares e oceanos, vêem-se associados a ele por diversos motivos. Pela pesca, pelo transporte de mercadorias, pela praia (e mergulhos), e por mais não sei quantos. No Faial, pelo menos eu sinto, que é terra de aventureiros das águas. Uma história ou outra (ou muitas) comprovam isso, tanto no passado longínquo (no tempo dos piratas) como no passado recente. Eu hoje (tive essa grande sorte) falei com um desses aventureiros, que comprovou esse meu sentimento. Na hora de escolher o lugar para jantar, fiz a pergunta da praxe à menina da recepção “onde é que é bom?”. Falou-me de alguns, mas a história de um ofuscou de imediato todos os outros. Disse a menina “o restaurante Genuíno, que é do sr. Genuíno, que deu duas voltas ao Mundo sozinho de barco, fica logo ali no Porto Pim e é muito bom”. Alto lá! Duas voltas ao Mundo sozinho de barco! (não bastava uma, vez duas 😉 ). Já vi Hollywood fazer filmes biográficos por muito menos. Fui lá, está claro. E quem me recebe? O sr. Genuíno! Muito simpático, com a casa cheia lá me disse que me resolvia o meu problema. Até calhou bom a casa estar cheia, assim deu para alguns minutos de conversa. Durante a espera, atirou logo “então e como veio para ao Faial? quer dizer, eu sei que chegou de avião, mas por que motivos veio cá parar”. Mesmo conversa de navegador. Noutro tempo a minha resposta poderia ter sido “olha vou descobrir o existe a Oeste daqui” ou “ando a saquear uns barcos ingleses e vi-me me encher de rum (era o que todo o pirata que prezasse beberia)”. Mas a minha resposta foi também era viajante, de uma era digital. Nem falei muito das minhas viagens, quer dizer o homem deu duas voltas ao Mundo num barco de 4 metros, pouco tinha a dizer 🙂 . Rapidamente lhe perguntei, “porquê? porquê viajar sozinho no mar, durante quase dois anos?”. A resposta foi tão simples como verdadeira, “sempre vi aventureiros a chegar, sempre sonhei ser como eles. Um dia chegou a minha vez”. Acho que é (quase) sempre assim que tudo começa. Para viajantes, futebolistas ou bombeiros. Acabada a enriquecedora conversa (arranjei uma mesa), lá jantei um belo naco de atum (dos açores). Juro que tinha mais de três dedos de altura. 🙂

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-> 1 de Outubro, 2016

Acordei por volta das 7h30. Era o primeiro dia de viagem e nestes dias a adrenalina apaga qualquer tipo de molenguice. Corri (quer dizer, não foi bem correr) de imediato para janela, no meu quarto no Hotel do Canal, para ver como estava o (sempre instável) tempo (e claro, é impossível não notar a imponente montanha do Pico, mesmo em frente à minha janela). Parecia tudo impecável.

O meu “mentor” e apoio logístico na ilha do Faial, seria o Bruno, da Tobogã Azores. Troquei vários emails com o Bruno, nos dias anteriores à chegada aos Açores, sobre qual a melhor opção para mim, para retirar o melhor do Faial, no pouco tempo que iria ter nesta ilha. O trilho dos 10 Vulcões, que liga a Caldeira (1000m de altitude e ponto mais mais alto da ilha) ao Vulcão dos Capelinhos, junto ao mar, na ponta oeste da ilha, pareceu-nos desde o início a melhor opção. Têm cerca de 21km e passa por alguns dos mais emblemáticos lugares da ilha, e por 10 vulcões. Para fazer a pé. Como acaba num ponto 21km afastado do ponto inicial, precisava de alguém que me levasse e fosse buscar. Desde logo que o, super prestável, Bruno se prontificou a fazê-lo. Combinámos às 9h00 na porta do Hotel.

Tomei um belo pequeno almoço. Coloquei na mala o essencial (casaco, comida, água e mais umas pequenas coisas). Às 9h00 lá chegou o Bruno. Demorámos cerca de 20 minutos a chegar
à Caldeira, ponto inicial da minha caminhada. Estava um frio dos diabos lá em cima. Vento frio e um nevoeiro a soar a místico. Assim que o Bruno partiu, antes de começar (verdadeiramente) a caminhada, fui ao miradouro (oficial) da Caldeira, para ter o primeiro contacto com a mesma. É muito mais imponente do que imaginei. Nenhuma das fotografias que vi, faz justiça à beleza e dimensão da coisa. Não perdi muito tempo no miradouro, porque iria “levar” com a Caldeira nos primeiros 4km (contornei metade da Caldeira). Comecei a caminhar no sentido anti-horário, aquele que vem marcado nos mapas como os sentido correto para os 10 Vulcões, embora o trilho completo da Caldeira seja circular e cada um escolhe o sentido por onde começar. Caminhei cerca de 500m, em ligeira subida, com a enorme Caldeira do meu lado esquerdo. Dou de caras com um grupo de vacas e dois novilhos no meu caminho (sim, um novilho. Um novilho é touro mais pequeno). Estava a cerca de 100 metros dos animais. Parei de imediato e fiz umas contas de cabeça: “epá um novilho não é uma vaca, é um touro pequeno, na minha terra (Ribatejo) os touros são sempre mais bonitos do outro lado da cerca. Mesmo que os novilhos dos Açores sejam mais zens que os do Ribatejo, é melhor não arriscar a levar uma marrada e ir parar ao fundo da Caldeira”. Voltei para trás. Não quis arriscar e chegar mais perto para saber se era manso. E depois não tinha qualquer ponto de fuga. O trilho era estreito e um precipício de cada lado. A sorte é que também dava para ir por outro caminho (fazer a Caldeira no sentido horário). E assim foi. O pior, é que esta alternativa não é o caminho oficial por acaso. Muito mais íngreme e escorregadio e com um nevoeiro cerrado. Mas lá segui, antes isto que uma (má) relação com novilho açoreano.

Todo o trilho seguiu no perímetro da Caldeira. Sempre que o nevoeiro limpava um pouco lá dava para espreitar lá para baixo (nem sei qual a altura desde a base até lá abaixo, mas por certo que ainda são umas valentes dezenas de metros). Depois de cerca de 2km o céu limpou por completo, quase que por milagre e de um momento para o outro (normal nos Açores). Juro que assim que limpou, pensei que estava a ver o céu do meu lado esquerdo, e na verdade estava, mas além do céu, era um azul do oceano imenso. Foi uma alegria tão grande, por ver tamanha beleza. Parecia uma criança acabada de receber um brinquedo novo. Lá segui todo contente e muitas vezes indeciso entre olhar para o mar ou para a Caldeira (a sorte é que, muitas vezes, bastava olhar em frente para ver os dois). Esta Caldeira tem um encanto que ainda não consigo explicar, confesso que no início tinha muito aquela ideia de “caldeira sem água!?”, mas agora sinto uma atração especial por este gigante “alguidar” verde (está coberto por vegetação).

Ia tão contente com o dia e paisagens bonitas que passei a placa de viragem para os 10 Vulcões (na verdade ela estava caída, mas mesmo assim passou-me). Eu já estava a estranhar e sentia-me a dar mais que meia volta (o meu percurso na Caldeira iria terminar no ponto mais a oeste), mas nem liguei muito, ia tão bem disposto, só quando vi que já estava a ser demais é procurei a minha localização do telemóvel. Resultado: estava no ponto mais a norte da Caldeira. Percebi logo tinha feito 1/4 de percurso enganado. Voltei para trás tipo flash. Lá encontrei a placa caída e saí do trilho da Caldeira.

Depois foi fazer alguns quilómetros em zig zag em estrada larga, de piso vulcânico e vegetação densa (e muito verde) nas laterais. Muito giro este contraste. Do nada (mas sem me enganar) surge uma placa de viragem dos 10 Vulcões para dentro da floresta. Era o início da secção das levadas. Percurso engraçado, em floresta densa e fechada, lado a lado com os famosos canais de água, cheio de mini pontes cobertas de musgo. Silêncio absoluto e um cheiro a terra molhada incrível. Acabado o trilho das levadas, entro numa nova secção, com um tipo de floresta completamente diferente (foi sempre assim, parecia que estava a entrar em diferentes mundos), quase sempre a descer, por uma escadaria (ou plataformas) gigante, numa boa relação entre a mão do homem e a natureza. Nem dava para ver o céu. Do nada acaba este trilho, entro numa estrada rural, com uma vista fabulosa para campos de pasto açoreanos e um mar gigante azul. Um mix entre o verde e o azul, com umas estradas vermelhas pelo meio, com uma amplitude de visão gigante. Passo do escuro da floresta, onde não via além de 2 metros à frente, para um cenário  de cores carregadas, com um horizonte infinito à frente, enfim, Açores.

Entro por um caminho de pasto muito bonito, onde caminho pouco tempo. De seguida entro numa estrada de terra vermelha, onde já sentia (e via) o mar cada vez mais perto. Caminhei, caminhei pela estrada vermelha, acabou a estrada vermelha, começou o alcatrão (que estava a apanhar pela primeira vez). Andei pelo alcatrão e estranhei estar a andar por lá durante tanto tempo, pelo que li e pelo que o Bruno me disse não existia nada assim. Comecei a desconfiar que tinha perdido o trilho e que consequentemente estava perdido, uma vez que apenas me estava a guiar pelas marcações do caminho. Tive a certeza do erro assim que cheguei a Praia do Norte (uma aldeia). O trilho não passava por nenhuma aldeia. Não tinha nenhuma noção onde tinha falhado a placa (desconfio que tenha sido na estrada vermelha), nem fazia ideia onde iria apanhar o trilho novamente. Não tive outra alternativa, além de “perguntar” ao meu telemóvel qual o caminho para o Vulcão dos Capelinhos. Ele lá me disse e lá segui, completamente desconsolado, pelo alcatrão durante cerca de 4km. Se os primeiros 15km, passaram a correr e sem qualquer dor ou cansaço. A cabeça começou a trabalhar ao contrário, nestes 4km, já me doía tudo, e só queria que acabasse depressa.

Seguia pelo alcatrão e nem a vista mar me animava, sofria de um misto de dor nos pés e frustração por estar a caminhar por um caminho “normal” quando poderia estar caminhar por maravilhosos trilhos verdes ou por florestas encantadas. Mas também sabia que este sentimento não iria ser para sempre, e acabou repentinamente quando voltei a encontrar o trilho. Até acelerei o passo. Na placa dizia que faltava 1,5km para o Vulcão dos Capelinhos (só!? na verdade não me soube mal essa informação, já vinha com os pés em chamas). Ao entrar na última secção do trilho, senti que tinha “aterrado na lua”. Nem vislumbre de uma planta (e de verde), tudo cinzento e castanho, num campo aberto. Se retirassem o azul do mar e verde das florestas (nas minhas costas), acho que ficaria assustado com dimensão dantesca desta paisagem. Estava a entrar no Vulcão dos Capelinhos e no resultado (aparentemente) final da erupção dos Capelinhos ocorrida em 1957 (muito jovem, portanto). Estava uma ventania, como acho que nunca vi. Caminhava com dificuldade pelo vento e areia (misturada com pedra vulcânica) que me cravejava as pernas. No meio desta secção liga-me o meu Pai: “Tás perdido!!?? Vi no facebook que estavas perdido!”, resultado de uma foto que coloquei a coçar a cabeça e a dizer “Acho que estou perdido”, era meio a brincar, na verdade tinha perdido o trilho, porque quem tem o google maps nunca está completamente perto. Para complicar ainda mais a preocupação do meu pai, na altura que ele me liga, com o vento o meu chapéu voa (para verem o vento que estava) e tive de correr para aí 100 metros atrás dele, sobre as areias lunares, perante a minha resposta ofegante, acho que ele pensou: “este gajo está mesmo mal”. Lá recuperei o chapéu e lá lhe disse que estava tudo bem. Ainda me disse mais uma: “olha que eu li que a actividade sísmica por aí está com números elevados” (não me perguntem o que ele andou a ler, ao que eu respondi: “ainda bem me estás a dizer isso agora, estou em cima de um vulcão bastante recente”. Acho que com esta última frase o acalmei. Mas na verdade foi um pensamento errado, ele retorquiu: “EPÁ!! vê-la isso!!”, acho que com esta exclamação, na verdade ele quis dizer: “vê-lá se o melhor não é vires embora daí”. A tudo isto se pode chamar, preocupação de Pai. E do lado de cá é muito bom sentir isso. Na verdade, acho que ele estava a sentir de uma certa impotência. Se tiver um furo na minha bicicleta ou outra avaria, a 50km de casa, ele vai-me buscar em meia hora. Aqui, estava perdido num lugar onde não conhecia ninguém. Se estivesse em perigo, só passado um dia, conseguira chegar para me “salvar”. Acho que vou sentir o mesmo pelos meus filhos.

Passado o telefonema do meu Pai, cheguei ao “sobrevivente” (é de bom material, que aguentou uma erupção mesmo ao lado) farol dos Capelinhos. O farol tem como “cave” o Centro de Interpretação dos Capelinhos, um espaço que me pareceu muito interessante, mas que infelizmente já não apanhei aberto (no Verão tem um horário mais alargado). Terminada caminhada do dia, era tempo de avisar o Bruno, da Tobogã Azores, que tinha chegado e esperar por ele (a minha boleia para a Horta). Criei empatia de imediato com o Bruno, partilhamos de muitos ideais e escusado será dizer, que se quiserem fazer o trilho dos 10 Vulcões no Faial, será com ele que devem falar (se quiserem fazer canyoning também com ele que devem falar).

Após uma agradável conversa, lá cheguei ao “meu” Hotel do Canal, com vista para imponente montanha do Pico. Banho merecido e ida ao mítico Peters (mesmo ao lado do hotel) para comemorar. Bife dos Açores para o jantar e o famoso Gin Tónico para sobremesa.

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#PICO

-> 2 de Outubro, 2016

Levantei-me por volta das 6h00 no Hotel do Canal (Horta, Faial). Arrumar o que tinha para arrumar na mala e mochila, tomar o pequeno-almoço tipo flash, dizer um “obrigado e até à próxima” às simpáticas pessoas do hotel, e seguir para uma caminhada de meia hora pela avenida da (muito bonita) cidade da Horta. Ainda era noite, mas foi bom caminhar completamente sozinho e ouvir os pássaros (cagarros!?) a acordar. Seguia para o porto da Horta, no extremo Este da avenida, iria apanhar o barco “Gilberto Mariano” para a cidade de Madalena, na ilha do Pico.

Durante a viagem, com cerca de meia hora de duração, deu para o Sol nascer e para aproximar da imponente montanha do Pico. É impossível passar despercebida. Numa ilha com cerca de 40km de comprimento, ter uma montanha com quase 2500m de altura, torna-se difícil de esconder “a coisa”, quer se esteja no mar ou em terra (ou em outras ilhas, como o Faial ou São Jorge). Foi engraçado perceber durante a viagem os hábitos locais. É estranho para alguém do continente, como eu, mas aquela viagem mais parecia uma viagem de autocarro. Muita gente vive no Faial e trabalha no Pico (e vice-versa). Era domingo, e uma equipa de futebol (do Faial) seguia juntamente comigo no barco para um jogo na ilha do Pico. Ok, isto até pode parecer meio parvo para quem é das ilhas. Mas joguei quase 300 anos futebol e nunca fui de barco para um jogo. Achei engraçado (ou diferente) 😉 presumo que seja a coisa mais normal do Mundo por aqui. Outra coisa engraçada que senti na viagem de barco, é que se no Faial achava que o Faial era uma espécie de janela para o Pico, com vistas muito bonitas para a ilha ao lado, na viagem o sentimento inverteu-se, a partir o Pico, a ilha do Faial também ganha um encanto (ainda) maior, com tão bela perspetiva.

À minha espera no porto estava a Sónia (natural da Figueira da Foz, mas residente e apaixonada pelos Açores há alguns anos) da empresa Espaço Talassa (empresa que me “guiou” durante a minha estadia no Pico). Entrar na carrinha e fazer uma viagem entre Madalena e Lajes do Pico, cerca de 30km sempre junto à costa. Lajes do Pico seria a minha base durante a estadia no Pico. Foi o primeiro pedaço de terra a ser povoado na ilha, que deu origem a uma série de primeiras “coisas”, como a primeira (mini) igreja. Segundo reza a história o primeiro povoador da ilha chamava-se Fernão Álvares Evangelho e supõe-se que viveu na ilha durante um ano, somente na companhia de um…cão. Dizem que o cão é melhor amigo do homem, mas mesmo assim deve ter sido uma história “ligeiramente” solitária 😉 . A história mais recente desta laje em cima do oceano (o nome não é por acaso), ficou marcada pela caça à baleia (ou baleação), entretanto proibida em 1987 em Portugal. E foi por essa altura (1987), que se deu uma história romântica (sem romance), daquelas que nos inspiram em filmes vindos do outro lado do Atlântico (Hollywood, para quem a geografia não é o forte 😉 ). Na altura do final da caça a baleia, onde as pessoas das Lajes do Pico ainda não sabiam muito bem o que fazer, chegou à ilha de iate o velejador francês Serge Viallelle, na ilha (entre outras coisas) conheceu o sr. João Vigia, vigia de baleias, ou seja num posto de vigia no cimo de um monte, com os seus binóculos indicava a presença e localização de baleias aos baleeiros, que nos seus barcos, depois de preciosa indicação, iam lá caça-las. Com a extinção da caça às baleias, para que serviria um vigia de baleias em 1987? Para pouco, não é? Mas, voltando ao início da história, o Serge conheceu o sr. João, o Serge tinha um barco e o sr. João convidou o Serge a ver baleias (não para as matar, apenas para as ver 😉 ). Da torre da vigia o sr. João indicou ao Serge (que estava no mar) a posição das baleias e voilá (o Serge é francês, sem dúvida que “voilá” é a melhor expressão 😉 ), apareceu a primeira baleia. Ao que consta o Serge ficou encantado com tamanha visão (e quem não ficaria, ao ver um animal com quase 30 metros no meio do oceano e ainda com uma vista lindíssima para o topo do Pico). Aqui a grande diferença é que o Serge, poderia ter guardado aquele momento só para ele, mas viu o potencial que esta atividade poderia ter. Deste dia e da amizade entre um francês e um picaroto, nasceu o Espaço Talassa e o Whale Watching nos Açores. Para além disso, a quase extinta profissão do sr. João Vigia, ganhou novo fôlego. Entretanto o sr. João, já faleceu, sendo o seu nome (nos dias de hoje) bastante entoado pela vila, ganhando estatuto de lenda (aqueles que vivem para sempre). O Serge, ficou pelas Lajes, e o Espaço Talassa tem quase 30 anos de vida, um pequeno hotel, um restaurante e uma diversa oferta de atividades pela ilha, incluindo o cada vez mais apreciado Whale Watching. Uma história inspiradora, não?

E foi neste cenário (mar e terra) que saí neste dia às 9h00 para uma “sessão” de Whale Watching. Um briefing inicial em terra na “sede” do Espaço Talassa, onde se enquadra a experiência. Eu já tinha feito uma atividade de Whale Watching em São Miguel e já sabia que um dos momentos “decisivos” se dá no final do briefing. Já estava à espera dele. O momento: aparece o Serge, vindo do posto de vigia e diz “estive com o Marcelo (o vigia, vão conhecer a história dele noutro artigo) e hoje ainda viu baleias”. Isto meus senhores, são más notícias. A probabilidade de ver baleias, caiu a pique. Saí para o mar numa lancha, com um grupo de alemães de meia idade e um jovem casal belga. Percorremos algumas milhas no mar, afastando-nos da ilha do Pico. Primeira paragem para falar com o Marcelo. Com o barco “parado” e com a oscilação provocada pelas ondas, a rapariga belga (a do jovem casal) cedeu. Ficou branca, cabeça fora do barco e vá de vomitar. No tempo dos piratas esta pobre rapariga poderia ser atirada ao mar, com o efeito espelho a funcionar, a sua má disposição, a propagar-se-ia pela restante tripulação, e isso não seria coisa boa aturar. Neste caso, para além de pena da rapariga (que deve ter tido umas 3 horas terríveis), o efeito espelho chegou até mim, não vomitei, mas a minha barriga deu para aí 300 voltas e a minha cabeça mais umas 300. Pensava que isto dos enjoos no mar era mito (aquela coisa do sentir para crer), mas afinal é verdade. As notícias do Marcelo eram nulas e o hidrofone (microfone aquático) não captava nada. O barco voltava a “calvagar” pelas ondas. Aqui o enjoo aliviava. Voltámos a parar, para o mesmo procedimento (Marcelo+hidrofone), mais 3 ou 4 vezes, sempre sem sucesso. Esta profissão não vive do meio termo, ou a desilusão de não ver baleias ou um sucesso estrondoso de ver baleias. Como isto não é o Jardim Zoológico, a incerteza de ver ou não ver, leva a que a experiência seja sempre intensa e até ao último momento existe aquela esperança. Mas aqui é caso para dizer que ninguém vai embora sem ter um “doce”, a população de golfinhos risso ou moleiros (para as gentes do Pico) residentes na ilha, deixa-se (quase) sempre ver. Não têm 30 metros, têm 3 metros, mas são uns animais lindíssimos e vê-los em “casa” tem outro encanto. Assim foi, cerca de meia hora a acompanhar uma pequena viagem de uma família de golfinhos risso. Após mais umas tentativas de avistamentos dos gigantes dos oceanos, era tempo de voltar a terra, desta vez a viagem foi feita junto à costa, proporcionando uma outra experiência, o “Pico Watching”, com vistas impressionantes para terra e para a montanha do Pico.

Já em terra, apesar de feliz pela experiência (apesar do enjoo), fica sempre aquela pena de não ter visto baleias. Espero que se aplique a máxima “à terceira é de vez”. Já “queimei” duas tentativas vem ser ver baleias. Na terceira elas vão aparecer.

O resto deste dia foi passado nas Lajes, a terra da baleias, entre passeios à beira mar, pequenas conversas locais e kimas de maracujá (o melhor sumo do Mundo). Era tempo de poupar energias, que amanhã era dia de subir ao topo do Pico e ponto mais alto de Portugal.

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-> 3 de Outubro, 2016

Era dia de subir ao topo da Montanha do Pico, ponto mais alto de Portugal, com uma altitude de 2351m. Tudo isto numa ilha com cerca de 40km de comprimento. Dá um bocado nas vistas 🙂 . Não é bem como subir ao topo ao topo da Serra da Estrela, onde a subida é muito mais gradual (até pode ser feita de carro). Na Montanha do Pico, é sempre muito inclinado, por caminhos estreitos e com alterações climáticas constantes.

Acordei dor volta das 6h30, no Whale’come, em Lajes do Pico. Sabia que subir esta montanha não era o fim do mundo e que provavelmente até já tinha tido desafios mais complexos. Mas não há como evitar aquele frio na barriga, aquela ansiedade de quem não consegue dominar por completo o que vem por aí. Acho que é esse pequeno medo e incerteza que move todos os aventureiros, e o sucesso de cada um, independentemente da escala da sua aventura, está na sua capacidade de o dominar. Numa primeira fase, na coragem de aceitar o desafio e numa fase posterior, o imediatamente antes do desafio e o durante, conseguir controlar o medo, aquele que se sente no desconhecido, e com controlo, desfrutar da aventura. O pós desafio, é história, em que quem o concluí, com maior ou menor dificuldade, é uma espécie de herói. Portanto, às 6h30 sofria de um misto de curiosidade e pequeno medo pelo que vinha aí. Até porque este seria o meu 4º dia entre as ilhas do Pico e Faial e constantemente estava a levar com a imponência da Montanha do Pico. Já tinha percebido que não era o mesmo que subir umas escadas. Muitos me tinham dito que era dificílimo, outros que era fácil e outros que chamam de maluco a quem só pensa em subir aquilo. Como diria o outro: “só de elevador”. Enfim, estava meio baralhado.

Como o pequeno almoço apenas iria abrir às 7h30 e a partida estava marcada para 7h15, esperei tipo ninja pela chegada das senhoras do pequeno almoço. Mesmo à porta da cozinha para me verem bem. Não foi preciso chorar muito, muito simpaticamente me alimentaram, tal como se coloca gasolina num carro antes de uma grande viagem, fora da hora de trabalho. Ainda era noite nas Lajes, mas a temperatura estava agradável e o dia parecia ir nascer limpo. O Serge seria a minha boleia até o ponto de partida para a subida e comigo já esperava um casal de alemães, todo artilhado, quase que parecia que iriam subir o Evereste. Entretanto o Serge chegou e partimos para uma viagem de cerca de meia hora em direção à montanha. 

Entretanto o dia nasceu. O dia bonito junto à costa, transformou-se numa espécie de filme de terror com o aproximar da montanha. Micro clima a funcionar a toda a toda a velocidade. Chegamos à Casa da Montanha. Localizada a cerca de 1000m de altitude e porta de entrada para quem sobe a montanha. É literalmente a porta de entrada (tem mesmo uma porta para a montanha 😉 ), sendo obrigatório a todos os montanhistas passarem por ali, deixarem os seus dados, e no caso de se aventurarem sozinhos, sem um guia especializado, levam consigo um GPS localizador, com uns botões de alerta, caso a coisa dê para o torto. No meu caso, estava à minha espera na Casa da Montanha a Cecília, guia encarregue de me conduzir até ao topo. A mim e ao casal de alemães, iria juntar-se, um austríaco, uma canadense e duas inglesas. O tempo do lado de fora da Casa da Montanha estava horrível, muito frio, chuva e nevoeiro. Assistimos a um pequeno video de segurança, mais um pequeno briefing e partimos em direção ao topo da montanha. O tempo estimado seriam 4 horas para subir, 4 horas para descer.

A Cecília disse-nos que a primeira fase, cerca de 30 minutos, seria o aquecimento. Terreno mais plano, com um abrigo no final. No final dessa primeira fase, cada um deveria avaliar o seu estado, pois a partir daquele ponto, se alguém voltasse para trás, todo o grupo voltaria. Começamos a andar. Confesso que ainda não tinha tirado bem a pinta, dos restantes elementos do grupo. Estava em modo absorção do meio que me rodeava (e os elementos novos eram muitos). Mas logo após os primeiros metros de caminho, era impossível não reparar na senhora inglesa que seguia à minha frente. Seguia vestida com roupa de quem se levanta no domingo de manhã para arrumar a casa, leggings, camisola de malha, sapatilhas, mochila de pano e um impermeável que mais parecia um saco plástico gigante, de tão frágil que era. Com chuva que caía e o frio que estava, só pensei “vais sofrer tanto”. Passados 5 minutos de caminhada, o meu pensamento já era outro “com esta senhora, nem à hora de jantar chegamos lá acima”. Acho que não fazia a mínima ideia ao que ia, se a roupa era má, sofria mais um pouco, escorregava mais um pouco, mas poderia ter sucesso, mas com a condição física de quem “nem para a missa vai a pé” a coisa poderia tonar-se impossível. Se no inicio fiquei um pouco transtornado a pensar como alguém assim se mete numa coisa destas, colocando até os outros em risco, depois fiquei até com um pouco de pena. A senhora acho que se apercebeu onde estava metida e seguia cheia de medo. No final de 15 minutos de caminhada já seguia afastada do grupo e com alguma dificuldade. Ainda tentei ajudar, mas estava num terreno perigoso e tinha de garantir primeiro a minha segurança. Lá chegamos ao final da primeira fase, a de aquecimento. Chovia muito e seguimos para dentro de um pequeno abrigo. Aí o silêncio era total, já se tinham apercebido que estaria ali um problema e que com o estado do tempo e com dificuldade a aumentar, o mais certo era voltarmos para trás. A Cecília perguntou como estavam todos. Todos disseram que estavam bem. Ficámos mais um pouco no abrigo, uns comiam, outros vestiam mais qualquer coisa. Na hora da partida, eis que a outra senhora inglesa ganha coragem e diz que não tinham condições para continuar, que iriam prejudicar o grupo. Todos respiraram de alívio. É sempre muito chato alguém desistir e ficar para trás. Mas neste caso foi o melhor para todos. As duas senhoras inglesas voltaram para a Casa da Montanha e o resto do grupo partiu em conquista da montanha.

Rapidamente me apercebi que a primeira fase, era mesmo só o aquecimento. Não é que seja impossível ou muito difícil, mas com chuva, vento e nevoeiro, torna cada passo, um passo, ou seja, temos de pensar a cada passo, movermo-nos mais devagar do que o normal, temos de fazer mais força para não escorregar, o corpo segue frio da chuva e o não ver 2 metros à frente, aumenta a sensação de insegurança, tudo isto acumulado a uma escalada constante, sem qualquer plano horizontal. Mas apesar deste desconforto sentia-me bem, acho que uma dose de sofrimento é sempre necessária para uma experiência deste género ser completa. Como ninguém seguia completamente confortável, todos a olhar constantemente onde metiam os pés, apesar de todos seguirem bem, as conversas na subida não foram muitas. Sensivelmente a meio da subida encontrámos um monte de pedras, com uma forma pouco natural, a Cecília disse-nos que era um monte dos desejos. Deveríamos lançar 3 pedras e pedir 3 desejos. Segundo a Cecília, apenas no caso de sermos muito boas pessoas, a montanha iria conceder tais desejos. A rapariga do Canadá, enquanto lançava a pedra, revelou o seu desejo, o tempo melhorar, pelo sim pelo não, pediu o mesmo desejo 3 vezes, não fosse alguma pedra falhar. Todos desejaram que ela fosse boa pessoa. Eu não sou muito dado ao misticismo, mas de vez em quando, tenho de pensar nisto. Não é que as nuvens se foram, a chuva acabou e levamos com um Sol que quase me obrigou a despir o casaco. Isto nem demorou 5 minutos desde o lançamento da pedra. Levamos logo com uma vista incrível para o mar e para a ilha do Faial. Lindíssimo. Aquela vista que vemos a partir da pequena janela do avião, mas desta vez estava com os pés bem assentes na terra. Imaginei como seria subir com céu limpo. A dificuldade iria cair para metade, o que não é objetivamente bom (pelo que expliquei em cima), mas a vista seria fabulosa. Iria demorar muito tempo a completar a tarefa, de tanta foto que iria tirar. E foi com este tempo que chegamos à cratera da Montanha do Pico. Nesta cratera devemos estar a uma altitude a rondar os 2000m, aqui muitos acampam para ver o nascer do sol (sim, sobem o Pico de noite). Esta coisa da montanha e da altitude (e mais tenho vertigens) tem um encanto especial. Percebo que se aventura a escalar até aos pontos mais altos do Mundo e depois apenas está no topo alguns minutos e volta a descer. Tem algo de especial, faz-nos sentir maiores. Após uns minutos a admirar a cratera, seguimos para última escalada. Subir ao piquinho. Pequena montanha muito íngreme, onde aí sim, estaria o topo da montanha e ponto mais alto de Portugal. Aqui é mesmo a escalar, mãos na rocha e toca a subir. É impossível esconder o sorriso quando se chega ao topo. Ok, não foi o fim do mundo para chegar aqui, mas senti-me quase como um super herói, cheguei onde muitos não chegaram, fui por instantes a pessoa “mais alta” de Portugal e acima de tudo estava num lugar absolutamente fabuloso. Infelizmente as nuvens não nos deixavam ver além da cratera. O tempo lá em cima estava bom, mas estávamos acima das nuvens e essas não nos deixavam ver o mar, nem as restantes 4 ilhas do grupo central, que com céu limpo, poderiam ser avistadas deste ponto. Só pensava “que fotos poderia tirar a partir daqui”. Tenho de voltar mais vezes 🙂 .

A Cecília, encarregou-se de não “adormecermos” no topo da montanha. Era tempo voltar, antes que o mau tempo voltasse. E na verdade não demorou muito a voltar. Começamos a descida, já com um nevoeiro cerrado, sem chuva, mas mais denso que o que encontrámos na subida. Na descida o grupo seguia mais descontraído, do género “já chegámos ao topo e isso já ninguém nos tira”. Mas a descida, embora menos rigorosa fisicamente, implica redobrada atenção, principalmente em terreno molhado. As escorregadelas eram constantes entre o grupo, eu tive direito a duas, uma delas quase que parecia a entrada num qualquer escorrega do Slide & Splash. O resultado foi apenas chapa e lá segui satisfeito da vida. 

Acho que muitos foram os que fugiram ao mau tempo, encontrámos mais cabras da montanha que pessoas. O que faz com que, mais uma vez, o mau tempo (sem ser excessivo) não é completamente mau, ter a montanha (quase) só para nós, é um privilégio e calculo que uma experiência completamente diferente de apanhar uma pequena multidão na montanha. O grupo, com aquelas baixas iniciais, ficou bastante homogêneo, todos seguiam ao mesmo ritmo, sob a batuta da simpática Cecília. Mais rápido do que pensávamos, chegamos ao abrigo. Sabíamos que em poucos minutos estávamos na Casa da Montanha. É uma espécie de caminhada triunfal, estes últimos metros, apesar a “cereja estar no topo do bolo”, neste caso no topo da montanha, o sentimento só fica completo quando acaba a descida, uma vez que não existe nenhum teleférico ou algo parecido que nos traga para baixo, é preciso ainda um bom par de horas (no meu caso, foram 3 horas) a caminhar com inclinação negativa.

Por fim cheguei à porta, neste caso de saída, da Casa da Montanha. Muito satisfeito por tão gratificante experiência. Recebi um diploma a atestar o meu sucesso, despedi-me dos meus colegas de aventura e segui novamente para Lajes do Pico. Foi rápida a despedida da montanha, quase como quando um familiar nos deixa no aeroporto e o avião já está a partir. Parece que fica a faltar algo. Senti o mesmo aqui. Acho que precisava de mais tempo na base da montanha a olhar para o topo da montanha, e pensar no que tinha acabado de fazer. Mas rapidamente segui para o meu cantinho ao pé da baleias, o bom tempo voltou, voltei o ver o, agora, “meu pico”, imponente, mas bem ao longe. Olhei, a partir das Lajes, para o piquinho acima das nuvens e senti-me bem pequenino. Vou voltar. É estranha esta saudade da montanha.

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-> 4 de Outubro, 2016

Pela primeira vez, durante esta minha viagem, não tinha hora para acordar. Tinha deixado este espaço (a manhã do dia 4) na “agenda”, ou no plano de viagem, completamente livre. No dia anterior tinha subido à Montanha do Pico e não fazia ideia como o meu corpo iria reagir. Pelo sim, pelo não, optei, antecipadamente, por dar descanso a um corpinho provavelmente massacrado.

Mas acordei bem. Por volta das 8h30 já estava de pé e o meu corpo afirmava “estou pronto para outra”. Tive que lhe dizer, “calma! Subir ao Pico, outra vez, só para o ano”. Estava nas Lajes do Pico (que foi a minha base na ilha do Pico), no Whale’come. Pequeno hotel da (mítica) empresa Espaço Talassa (sim, aquela que “inventou” o Whale Watching nos Açores), mesmo ao lado da sua sede e ponto de partida para ver baleias. Com um imenso oceano à minha frente e com a imponente Montanha do Pico do meu lado direito (é impossível de esconder). Saí para o pequeno almoço ainda sem saber bem o que iria fazer. Mas ao passar pela rua (a caminho do restaurante do Whale’come e lugar do pequeno almoço), vi a agitação da equipa do Espaço Talassa, a preparar mais uma saída para o mar. Tinha ficado com um nome na cabeça, desde a minha saída para o mar, dois dias antes. Marcelo, o vigia das baleias. Nunca tinha pensado na parte do “num Oceano tão grande, como sabem onde estão as baleias?”. Quer dizer, sair para o mar para ver baleias, não é bem aquele programa que faço todas as 6as feiras à tarde, é uma coisa rara, o que, de certa forma, a torna especial, mas nunca tinha pensado muito em como, no mar, durante o Whale Watching encontravam as baleias. Seria com um sensor? As baleias tinham um chip? Não sei, vivemos em 2016, e já dou por mim a perguntar coisas ao meu telemóvel (e ele responde). Vivemos numa época em que existe tecnologia para tudo e mais alguma coisa, seria quase natural, existir uma coisa dessas para o Whale Watching. Tudo isto, sem pensar muito no assunto. Mas no dia em que saí para o mar, só ouvia o pessoal dizer “o Marcelo não está ver nada”, “o Marcelo viu qualquer coisa”, “o Marcelo diz que estão golfinhos ali”, Marcelo isto, Marcelo aquilo, ao início ainda me perguntei se Marcelo não seria o nome que deram ao sensor de ver baleias, tipo a Siri do meu iPhone (sim, é à Siri que pergunto coisas e ela responde-me sempre de forma muito simpática). Mas não, o Marcelo era uma pessoa “verdadeira”, com os seus 30 anos, que tinha como profissão vigiar baleias e que tinha como posto de trabalho uma torre de vigia, num ponto alto da ilha com uma visão privilegiada para o Oceano Atlântico. Existirá profissão mais romântica do que esta, em 2016? Duvido!

Voltando ao início da conversa, saí para tomar o pequeno almoço e vi a algazarra proporcionada por uma saída para o mar, para ver baleias. O que me lembrei de fazer? Ir conhecer o Marcelo! Não tinha pensado nisto antes, mas assim que pensei, pareceu-me logo a melhor ideia do Mundo. Tomei o pequeno almoço à pressa, perguntei se podia ir ver o Marcelo (a resposta foi sim!), vi mais ou menos onde ficava a torre de vigia, peguei numa bicicleta emprestada (impossível existir melhor meio de transporte para “caminhar” para um boa ideia) e segui em busca do Marcelo. Confesso que também tinha a esperança de ver baleias, mesmo que ao longe e de binóculos. O dia estava bonito, com o Sol a brilhar de vez em quando. Segui junto ao mar e até deu para ter uma perspectiva diferente das Lajes do Pico (a bicicleta a fazer magia). Como podem imaginar, para ver baleias a várias milhas da costa, para além de uns (bons) binóculos, é preciso estar num ponto alto. Portanto, acabada a marginal das Lajes, apanhei uma subida que nunca mais acabava (na verdade, acabou, tinha cerca de 2 quilómetros). Eu ria-me, mas deu para suar (e bem, e tirar quase toda a roupa que tinha). Acabada a subida, lá cheguei à romântica torre de vigia. Deixei a bicicleta junto à estrada. Com a esperança “aqui ninguém rouba bicicletas”. Segui, já a pé, por um estreito caminho entre muros de pedra, sempre a ver a torre e o mar. Bati à porta da torre. Aqui tive um pouco de receio. Tinham-me dito que o Marcelo às vezes estava de mau humor. Mas, ou tive sorte, ou as pessoas estavam enganadas, o Marcelo recebeu-me muito bem na “sua” torre, ao ponto de me sentir em casa. Verdade (também é verdade que sou um bocado sentimental e, às vezes, exagero). A pequena torre, com, não mais, de 10 m2, tinha dois andares, praticamente iguais. O Marcelo estava no andar mais alto. A torre pareceu-me estar no mesmo estado (mas bem conservada, a decoração é que era a mesma. Atenção, isto é bom!), em que estaria no tempo em que a vigia das baleias, era para as caçar e não para as admirar. Isto há 30 anos. A única diferença, no que toca a equipamento, seria o telemóvel do Marcelo.

Já instalado no piso superior da torre de vigia da Queimada, deixei o Marcelo trabalhar. Sentei-me e disse que não o iria chatear. Estava a mentir. Fiz-lhe 300 perguntas!! Estava hipnotizado com aquele lugar. Com uma vista imensa, delimitada por um freixo horizontal, que atravessava toda a frente da torre. Sinceramente, pensei que não já existissem lugares assim e profissões como esta. Não invejava o Marcelo, mas admirava-o. O Marcelo, sem tirar os olhos do mar, ia-me respondendo a tudo. Disse-me que aprendeu a profissão com o Pai, também ele vigia e, que aquele era o dia a dia dele, entre Março e Outubro, com um dia de descanso por semana, mas que mesmo nesse dia, o do descanso, ia espreitar as “suas” baleias. O Marcelo, mais do que um olhar apurado e conhecedor, é todo ele uma rede de contactos. Parecia uma secretária de uma multinacional a receber chamadas, ora de outros vigias, ora de pescadores (muitas vezes a chamar, indignado, piratas aos pescadores ilegais. Só me dizia, entre a chamada “temos que proteger o que é nosso”). Naquele momento percebi como ele dominava o mar imenso que tinha à frente. Aqui aplica-se a máxima “quem não sabe, é como quem não vê” e o Marcelo sabe.

Fiquei cerca de duas horas com o Marcelo. Mais do que suficiente para reforçar a admiração pelos vigias de baleias. Acredito que esta profissão não seja para qualquer um e acredito que nunca irá ser ensinada em nenhuma universidade. Eu melhor que ninguém sei que não é para qualquer um, porque bem espreitei pelos binóculos e nada (nem sabia para onde estava a olhar), só vi uns golfinhos e ele teve fixar os binóculos, para o meu olhar não ir parar a nenhum ponto distante. Para selar a despedida, apesar de ser eu o agradecido, o Marcelo ofereceu-me um belo chocolate suíço do seu lanche da manhã, segundo ele “tenho um monte deles em casa, sempre que vem um cliente da Suíça, digo-lhes, querem ver baleias? Têm que me dar um chocolate!! Felizmente há muitas baleias para ver nos Açores (e muitos clientes suíços), e muitos deles voltam e já trazem chocolates antes de irem para o mar”.

Eu é que não vi nenhuma baleia. Nem no mar, nem na vigia. Lá me despedi definitivamente do Marcelo. Segui na “minha” bicicleta, agora sempre a descer. Nem me lembro de pedalar até às Lajes. No caminho (rápido), de sorriso nos lábios, só pensava em como boas experiências podem surgir do nada. Belo momento.

Para a minha tarde estava programada um visita ao Túnel Lávico da Gruta das Torres e um passeio pela, diferente, vinha do Pico. O tempo teria que ser bem controlado, pois ao final da tarde (18h00), iria apanhar o barco para cidade de Velas, na ilha de São Jorge. O barco partiria da principal cidade da ilha do Pico, Madalena, bem perto da Gruta das Torres e da vinha da Criação Velha, que iria visitar. Tudo em caminho, portanto. Arrumei a minha trouxa e almocei no Whale´come. Iria partir por volta das 14h00. Já no final do almoço, aparece o Marcelo no restaurante. Assim que me viu, a rir-se disse-me logo “tiveste mesmo azar! Depois de saíres, o barco seguiu para o lado de São Jorge e lá viram um belo cachalote”. Ri-me sem achar piada nenhuma. Mas ainda não perdi a esperança. Até já sonhei com baleias. Tenho de resolver este “problema” rapidamente. Acho que nos meses de Abril e Maio, não falha. Vou voltar por essas datas.

À minha espera, às 14h00, estava a simpática Sónia, responsável pelas actividades em terra, do Espaço Talassa. Para me acompanhar durante as actividades da tarde. Connosco, iria também, um casal de norte americanos. O homem com cerca de 70 anos, mas bem estimado, e a mulher com cerca de 40. A viagem, de cerca de 30km, seguiu quase sempre junto à costa, com algumas paragens técnicas, para admirar algumas praias da ilha do Pico. Sem areia, semi-selvagens, mas todas muito bonitas. Quase todas tinham vista para a vinha e para a Montanha do Pico, e também para ilha do Faial.

As vinhas são muito curiosas. Todas elas baixas, colocadas entre pequenos compartimentos, definidos por pequenos muros de pedra. Tudo isto em solo vulcânico. Não sou perito em geologia, nem em vinha (apesar de gostar muito de vinho), mas parece-me algo extraordinário. Ainda para mais com micro clima do Pico, perito em repentinas mudanças de “humor”, com ventos fortes, chuvas e se necessário, em 5 minutos vem o Sol. Nem o mítico Borda d’Água safa a malta daqui. Não é à toa que a vinha do Pico é Património da Humanidade.

Demos um pequeno passeio pela vinha. Tive pena de não fazer todo o trilho da vinha da Criação Velha, com cerca de 9km. Mencionado várias vezes, por prestigiosas publicações internacionais, como um dos mais belos pequenos trilhos do Mundo. Não o fiz (o tempo não estica), mas consegui perceber o porquê de tais menções. Para completar o passeio ainda tive direito a uma pequena prova de vinhos, acompanhado com queijo e pão. E existe melhor coisa para se fazer numa vinha?! Parece-me que não!

Descontraídos, sentamo-nos na base dos muros, com toda uma panóplia de paisagens e cores distintas para admirar. Aqui perguntei ao americano, se estava a gostar dos Açores e se era primeira visita às ilhas. Respondeu-me que estava a gostar muito e que não era a primeira vez. Disse-me, meio a rir-se, que a primeira visita não tinha sido bem programada e que não tinha sido feita por vontade própria. Pensei, não é fácil alguém se enganar no caminho e vir parar aos Açores, tipo quando acaba a A23 e falhamos a placa de Lisboa e seguimos para o Porto, ou querer ir de comboio para Santarém, mas deixar-me dormir no Entroncamento e, quando acordo, estou em Lisboa. Como se riu, percebi também, que não tinha vindo ao hospital aos Açores e perguntei-lhe o que lhe tinha acontecido. Disse-me “ia num veleiro dos Estados Unidos para Inglaterra. Apanhei 3 tempestades pelo caminho e, não morri 3 vezes, por sorte. Tive que desviar a rota para os Açores”. Pensei, “uau!!”. Depois perguntei-lhe se já tinha ido a Portugal continental, ai foi a sua esposa a responder, muito rapidamente “o Pastel de Belém é o meu doce preferido de todo o sempre!”. O homem continuou a conversa, “temos um barco em Lagos, onde iremos começar, em breve, a última grande viagem da minha vida, durante 10 anos vamos fazer uma volta ao Mundo de barco”, só pensei “uau, uau, uau”, continuou “depois disso, compro uma quinta, planto uma vinha, e fico por lá até morrer”. Só lhe consegui responder, com a boca meio aberta, “parece-me um bom plano”. Quando já estava, tipo criança, a preparar-me para lhe fazer 350 perguntas e sonhar um bocado, diz a Sónia “bem, temos de ir, que está na hora da nossa visita à Gruta Torres”. Isto meus amigos, foi pior que tirar um chupa-chupa a miúdo de 5 anos, e dizer-lhe que não come mais porque está a chover. Não sei se foi por isto ou não (querer dizer, é claro que não foi por isto, apenas reforçou o sentimento), não gostei muito da visita à gruta. É imponente, muito escura, com certa de 1,5km de percurso. Acredito que para alguém com particular gosto ou conhecimento prévio (maior que o meu) sobre este tipo de fenómenos possa apreciar mais a experiência. Apesar de ser um espaço natural, com muito pouca intervenção do homem, senti, esta visita, muito como uma visita, do meu tempo de escola, a um qualquer museu e, eu, estava muito mais numa de vinhos, vinhas e conversas sobre viagens, do que para visitas a museus. 😉

Acabada a visita à gruta, era tempo de seguir para o porto da Madalena e seguir de barco para Velas, ilha de São Jorge. A viagem tinha a duração de cerca de 1h15m e ia ter a sorte de ver o pôr do sol no mar. Confesso que com a conversa do Marcelo, já no barco, ainda espreitei, de vez em quando, para o horizonte para ver se via alguma baleia. Mas em vão. Nada de baleias.

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#SÃO JORGE 

-> 5 de Outubro, 2016

Tinha chegado no dia anterior à ilha de São Jorge. “Aterrei” no porto de Velas, vindo do porto de Madelena, a bordo do Cruzeiro do Canal, ligeiramente mais pequeno que os seus “irmãos” Gilberto Mariano e Mestre Simão, que poderia antever uma viagem mais agitada, mas o mar estava calmo e a viagem, de cerca de 1h15, foi tranquila. Cheguei a Velas já era noite. O local onde iria dormir, Hotel Soares Neto (simples e eficaz), ficava apenas a 100m do porto, o que facilitou bastante a logística (foi basicamente sair pela porta do barco e entrar, imediatamente, na porta do hotel).

Como cheguei de noite, à qual se juntou uma chuva constante (e a juntar, ainda, um ligeiro cansaço da minha parte), pouco deu para conhecer Velas nesse dia. Foi basicamente, deixar as malas no hotel, sair para jantar no restaurante mais próximo e voltar ao hotel para dormir. Confesso que estava um pouco ansioso em relação ao dia que vinha aí. Não que tivesse medo ou que fosse encontrar algum tipo de dificuldade extrema. Mas desde o momento em que comecei a planear a viagem que, entre todas as maravilhas e experiências que iria encontrar nestas 3 ilhas, existiu sempre uma que se destacou. É difícil combater por (maior) protagonismo entre experiências como caminhar sobre um vulcão com (apenas) 50 anos, subir a uma montanha com 2500m de altitude, localizada numa ilha (só) com 40km de comprimento, ou viver lado a lado com baleias e golfinhos, num oceano imenso. Mas, quando descobri e pesquisei um pouco mais sobre a Fajã da Caldeira de Santo Cristo, aconteceu o que se pode chamar de paixão, não à primeira vista (porque nunca a tinha visto), mas à primeira impressão. Todas a fotografias, relatos, reportagens ou videos, me faziam perguntar “mas que raio de lugar é este?”. Essa minha ansiedade e não medo, poderia ser comparada a um casal que se apaixona pela internet e que, passado algum um tempo, irá ter o primeiro encontro, cara a cara. Eu estava prestes a ter esse primeiro encontro e a expectativa estava tão alta, que, sinceramente, estava com receio de sair desapontado (às vezes, elas (ou eles) parecem bonitos na foto e depois, ao vivo, não é bem assim. Mas, se forem como a minha avó, também não tem problema, ela diz que o que conta é o interior 😉 ).

Foi há cerca de 5 anos, que ouvi falar da primeira vez da Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Falaram-me de um lugar muito bonito, apenas acessível a pé, sem electricidade, onde vivia uma pequena comunidade e que tinha das melhores ondas da Europa. Lembro-me bem dessa conversa, lembro-me, que logo na altura fiz um pequeno filme (na minha cabeça) sobre esse lugar misterioso, mas, não bem sei porquê, nunca associei esse lugar a uma ilha em específico, era (apenas) um lugar nos Açores. Mais tarde, assisti a uma reportagem sobre as misteriosas amêijoas da lagoa da Fajã da Caldeira. Um produto (quase) exclusivo da lagoa (da Fajã da Caldeira). E são misteriosas porquê? Porque, supostamente, não deveriam estar ali! A pergunta sobre como apareceu este bivalve na Fajã da Caldeira, coloca-se várias vezes, sem uma resposta conclusiva. Uns dizem que foi um padre, outros os ingleses e outros, simplesmente, dizem que foram imigrantes (para mim, esta é a resposta certa, pena ser um pouco vaga 😉 ). Mas o que interessa mesmo, é que sobre a qualidade do produto ninguém tem dúvidas. Quando vi essa reportagem, associei logo esse lugar (o das amêijoas), ao lugar mágico do surf e das boas ondas. Continuei a não associar a nenhuma ilha dos Açores em especifico. Mais tarde, ou seja, um mês antes da (minha) partida, enquanto traçava o meu plano de viagem, dei caras com uma Fajã da Caldeira de Santo Cristo, lugar (aparentemente mágico) que todos recomendavam. Diziam-me: “impossível não ires lá”, “vais querer ficar lá” ou “o lugar mais incrível onde já estive”. No meio destas recomendações, falaram-me em amêijoas e surf e, aquele lugar, que estava guardado no canto dos lugares mágicos na minha cabeça, saiu cá para fora, com um nome e uma localização especifica. Foi quase um “esse lugar existe mesmo e, em breve vou visitá-lo”.

Rapidamente percebi que tinha de passar uma noite na Fajã da Caldeira. Existem por lá algumas opções para dormir, mas entre as recomendações, sempre esteve o Surfcamp do David (surfista, natural de São Jorge, com pouco mais de 30 anos) como o lugar a ficar. Não coloquei outra hipótese. Rapidamente enviei um email a reservar o meu lugar, disse quem era e ao que ia. Nem que dormisse no chão, tinha que ficar lá. Responde-me a Neide, colaboradora do David. “Podes ficar, mas….tem atenção a uma coisa, este lugar não é secreto, mas é sagrado”. Acho que ela ficou com um pouco receosa com a presença de um blogger, que não conhece de lado nenhum, mas que escreve para milhares de pessoas. Acho que é um receio legítimo. Mas, rapidamente, respondi, que mais do que promover, o meu objetivo é, acima tudo, valorizar. E que, com essa valorização, leve à preservação deste e de muitos outros lugares mágicos (e também lhe disse que só gente porreira vem ao meu blog 😉 ). Estávamos de acordo em relação à não massificação deste lugar (também, caminhar 5km a pé, para chegar a um lugar sem luz eléctrica, acho que não é para todos).

Voltando a Velas e ao dia em que, finalmente, iria conhecer a Fajã da Caldeira. Tal como no Faial tive o apoio do Bruno da Tobogã e no Pico tive o apoio da equipa do Espaço Talassa, em São Jorge iria ter o apoio do Luís Bettencourt da Aventour. O Luís fundou a Aventour no, quase que remoto, ano de 2000, levando só por isso um rotulo de quem, de certeza, conhece o melhor que São Jorge tem para oferecer. Chovia quase torrencialmente em Velas e tinha combinado com o Luís, por volta das 14h00, junto ao Hotel Neto. O Luis apareceu, com a missão de me orientar em São Jorge e, neste dia, me levar até à Serra do Topo, lugar onde iria iniciar a minha caminhada para a Fajã da Caldeira (existem duas hipóteses para chegar até lá a pé (a outra hipótese é de barco, mas mais complexa), as duas com 5km, uma a partir da Serra do Topo, percurso mais bonito, mas muito mais acidentado, e outra hipótese, a partir da Fajã dos Cubres, sempre junto ao mar, completamente plano, percurso mais acessível). A viagem entre Velas e a Serra do Topo tinha cerca de 30 minutos de duração, por isso deu para uma boa conversa com o Luís, também ele um viajante (um pouco mais aventureiro (ou radical) que eu). Falou-me das suas viagens, do potencial de São Jorge e, do aumento constante da procura (ou descoberta) pelas ilhas do triângulo (Faial, Pico e São Jorge), e falou-me da principal atividade da sua empresa, o canyoning (que parece que é uma maravilha em São Jorge, mas como não gosto muito de alturas, não é bem para mim). Lá chegamos à Serra Topo e, à chuva, juntou-se um serrado nevoeiro. Tinha  perguntado ao Luís qual a probabilidade de partilhar o percurso com mais viajantes, ao que ele me respondeu “quando chegarmos à Serra do Topo, logo vemos o número de carros”. Estavam zero carros na Serra do Topo, ao que o Luís concluiu “estás com sorte, vais sozinho”. Parece que no Verão chegavam às centenas, o número de pessoas a fazer este belo percurso. Não sou nenhum lobo solitário (gosto muito de falar com pessoas), mas gosto de (alguma) tranquilidade.

Lá arranquei para o caminho em direção à Fajã da Caldeira. A Serra do Topo estava a uma altitude de 650m e a Fajã da Caldeira a uma altitude 0m. Seriam 5km, quase sempre a descer até lá. Já tinha lido que o percurso estava muito bem marcado e o Luís confirmou-me, por isso segui tranquilo e sem mapa. A chuva tinha diminuído de intensidade e o nevoeiro até dava um encanto místico ao caminho. E o que dizer sobre este caminho? Ainda não tinham visto sequer a Fajã da Caldeira e já dizia para mim “este é o caminho mais bonito que já fiz!”. Entre zonas de pastagem, com pequenos muros cuidadosamente trabalhados (e umas portas de separação de zonas de pastagens, que dentro da minha maior masculinidade digo, que são das coisas mais fofinhas que já vi, dignas do Shire (a terra dos Hobbits)), que oscilavam entre espaços muito reduzidos (autênticos túneis naturais, com vegetação como cobertura) e espaços abertos, onde me senti no filme Jurassic Park (sem dinossauros, pelo menos não vi nenhum 😉 ). Tudo parecia perfeito, feito ao pormenor e com uma intervenção mínima do homem. A meio do percurso comecei a ouvir um barulho muito forte, quase como um helicóptero (embora nunca pensasse que fosse um), mas na verdade era um curso de água, cheio de lindíssimas cascatas (que quando se deixavam ver, era de ficar de boca aberta), que me acompanhou quase até à Fajã da Caldeira. Como tinha chovido muito durante a noite, as ribeiras abundavam de água, daí o barulho ser maior. Caminhava sozinho, por um paraíso e, sinceramente, estava tão deslumbrado que nem sentia mais aquela ansiedade de chegar à Fajã da Caldeira. A chuva não me deixava parar durante muito tempo, mas seguia o mais devagar que conseguia. Queria aproveitar tudo.

A faltar cerca de 1km para o final do caminho, vi pela primeira vez a Fajã da Caldeira. Ainda lá no alto (cerca de 200m de altitude), uma aberta entre a vegetação, faz com que a Fajã, pequena plataforma, saída de uma enorme montanha para o oceano (esta Fajã teve origem na sedimentação dos detritos caídos da montanha), pareça um quadro (dos bons), de tão bonita imagem que é. Já tinha visto imensas fotos deste local, eu próprio tirei lá imensas fotos, mas nenhuma se equivaleu ao que os meus olhos viram. Pela beleza natural, pela diferença para tudo o resto que já tinha visto, pela comunhão com a vegetação do lugar onde estava, pelo verde escuro da montanha a contrastar com o imenso azul do mar, ou se, o mais provável, pela junção de todos estes pontos. Sentia-me um abençoado e (já) não tinha dúvida que estava prestes a chegar a um lugar especial. Fiquei tão deslumbrado com esta primeira aparição (da Fajã da Caldeira), que a partir deste ponto, só me apetecia chegar lá. Não corri, não aprecei o passo, mas comecei a pensar (mais intensamente) como seria (estar lá).

Passados cerca de 30 minutos, chegava a Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Ainda hoje, não consigo descrever bem o que senti, no momento da chegada. Um conjunto de, não mais, que 20 pequenas casas dispersas e uma igreja. Instaladas sobre um “pavimento” verde, entre uma montanha enorme verde escura e um imenso oceano azul. O caminho entre casas é estreito e em terra batida, delimitado por pequenos muros de pedra. O Surfcamp, onde iria dormir, era a primeira casa da Fajã (para quem chega através da Serra do Topo). Mas segui e passei pelo Surfcamp sem parar. Não queria falar com ninguém, queira aquele momento só para mim. Percorri toda a Fajã, como se estivesse em modo pausa, a contemplar. Fui até à lagoa, o outro extremo da Fajã e, depois, voltei para o centro, junto à igreja. Em frente à igreja, sentei-me no paredão de pedras (que impede que o mar galgue para junto das casas) e ali fiquei cerca de 1 hora. Nem dei pelo tempo passar. Fiquei apenas a olhar para o mar. Havia 2 ou 3 surfistas na água (mais tarde, descobri que eram meus companheiros de Surfcamp). De vez em quando olhava para trás (para a montanha) e pensava “mas que lugar é este”. Parecia que estava dentro de um filme, que oscilava entre a grandiosidade dos cenários do Jurassic Park, a graciosidade do Shire no Senhor dos Anéis e o misticismo da Praia. Passado este tempo de absorção, lá me levantei e segui para o Surfcamp.

O Surfcamp representa uma tradicional casa açoreana, em forma de paralelepípedo, revestido a pedra escura (de origem vulcânica) e com um enorme espaço verde na frente da casa (aqui não dá para contrastar, porque quase tudo é verde). Assim que caminhei pelo espaço verde, já entre os muros da casa, encontrei os primeiros companheiros (de surfcamp). Estava um grupo de 5/6 pessoas e um bebé, quase recém nascido, a rodear um homem com um enorme peixe na mão. Assim que me aproximei, todos de largo sorriso, me deram as boas vindas (todos eles hospedes) como se estivesse a chegar a suas casas e acho que antes de eu dizer alguma coisa, já me estavam a convidar para jantar. O Mica (o homem do peixe) tinha pescado uma enorme anchova (cerca de 8kg) junto à lagoa, que a juntar às lapas que tinha apanhado na manhã, era pretexto mais que suficiente para um banquete à moda da Fajã da Caldeira. Aos poucos fui conhecendo um pouco da história de cada um. O Mica, shaper de pranchas de surf e ex-surfista profissional. É da Ericeira e vê-se, a léguas, que é boa pessoa. A Pia, sua esposa, uma bonita austríaca, que fala bem português. A Sandra, simpática portuguesa de Peniche, casada com o Nixo, muito “boa onda”, surfista belga. Pais do pequeno Martim, que com apenas 3 meses conheceu (e viveu) a Fajã da Caldeira. Todos eles eram amigos e tinham vindo sob influência do Mica, que vem regularmente a este lugar há mais de 10 anos. A este grupo junta-se a Neide, o Manel e o Aires. Ela de Portimão, o Manel de Vila do Conde e o Aires de São Miguel. Este grupo representava os funcionários do Surfcamp. Quer dizer, não eram bem os funcionários, eram mais os “donos” da casa e recebiam (bem) amigos. No Surfcamp, ainda estava um grupo de 4 surfistas suiços, um grupo de 3 surfistas portugueses e um rapaz loiro (que faz yoga), não percebi qual a sua nacionalidade. Cheguei ao Surfcamp por volta das 18h00. Já andavam nos preparativos para o jantar. O espírito da Surfcamp, acompanhava a magia do lugar onde estava inserido. O David (o verdadeiro dono da Surfcamp) não estava, segundo a Neide tinha ido “lá fora”. Lá fora é termo utilizado para quem saí da Fajã. Como uma espécie de: a Fajã da Caldeira é uma coisa e o resto do mundo é outra. A Neide caminhava para um ano sem ir lá fora (não me parecia muito chateada).

O Surfcamp estava divido em 3 grandes espaços, a zona das dormidas (uma sala ampla, com várias camas e beliches, e dois quartos individuais), a cozinha e um espaço exterior, com uma mesa grande para refeições. Vinha sem bateria no telemóvel, apesar de que, com a pouca rede que existe por lá, pouco vale por ali um telemóvel com bateria. Mas, quase que por instinto, coloquei o telemóvel numa das fichas a carregar. Na maior das calmas, o Manel diz-me “podes colocar o telemóvel aí, mas não vai carregar, só temos electricidade das 21h00 à meia noite”. Apenas me ri. O que num outro lugar, poderia ser uma espécie de pequena catástrofe, aqui, era levado com uma leveza tal, que mais um ou dois dias assim, era levado a crer que para pouco precisaria do telemóvel (para ligar à família e a lanterna do telemóvel também dá jeito por aqui).

Todos ajudavam na preparação do jantar. O Mica tratava da anchova (fez sashimi de anchova com os lombos, uma coisa divinal), o Manel dos legumes e o Aires do arroz de lapas, isto na principais tarefas, os restantes entretinham-se em arranjar a mesa, provar a comida, discutir receitas e outras coisas mais. Apesar de não existir televisão, nem internet, a malta entretem-se bem por aqui. Quase ninguém se conhecia entre si (pelo menos antes de chegar), mas ninguém o diria à primeira vista (parecia uma pequena comunidade). A grande maioria, diria mesmo, todos excepto eu, estava ali pelo surf. Embora, acho que quem volta, por muito boas que sejam as ondas, não volta pelo surf. Volta pela Fajã (e para surfar). Acho muito difícil, alguém passar pela Fajã da Caldeira e sair indiferente. Entretanto, o jantar começou na grande mesa do exterior, literalmente à luz das velas. Ao pessoal (habitante) do Surfcamp, juntaram-se à mesa mais 5 ou 6 pessoas (habitantes da Fajã), uns para simplesmente conviver, outros para jantar. A anchova do Mica tinha sido motivo de curiosidade e, no caminho entre a lagoa e o surfcamp, tinha convidado algumas pessoas para provar a iguaria. Apenas tive um dia com o Mica, mas parece-me típico dele. Entre essas pessoas estava um simpático casal norte americano com cerca de 60 anos (que chegou com umas lanternas de mineiro na cabeça), habitués deste lugar.

Findo o jantar, a Neide anunciou que o David iria regressar amanhã “lá de fora” e perguntou se alguém precisaria de alguma coisa. Foram muitos os braços no ar. Num caderno, a Neide apontava os pedidos. Os pedidos variavam entre garrafas do vinho do porto, para os surfistas suiços, e um saco de tomates para o Mica, para fazer um belo arroz de tomate, segundo ele. Tive que me rir sozinho. Parecia que estava no filme a Praia (se não viram, vejam). Passava-se exactamente o mesmo. Um frenesim sempre que alguém ia “lá fora” para trazer compras. Aqui os habitantes não eram permanentes (do Surfcamp), cada um tinha uma vida “lá fora”, mas todos tinham cara de passar boas temporadas por lá, portanto, precisavam de mantimentos.  

Pouco passava das 23h quando me fui deitar. Na rua apenas se ouvia o mar (não dava para ver nada, pois não existia uma única luz). Deitei-me, mais uma vez a pensar, “que lugar é este”.

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-> 6 de Outubro, 2016

Caminhava para a última noite nos Açores com aquele sentimento de dever cumprido. Estava a ser uma experiência arrebatadora. Acordei por volta das 8h no Caldeira Surfcamp na mágica Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Tinha combinado no dia anterior com o Luís da Aventour, ir-me buscar no dia de hoje, por volta das 13h, na Fajã dos Cubres, saída Noroeste da Fajã da Caldeira. Seria cerca de 1h de caminhada (+- 5km), junto ao mar. Tinha tempo para aproveitar mais um pouco do paraíso onde estava.

Fui dos últimos a levantar. Grande parte dos meus colegas de Surfcamp já tinham saído para o mar (e para as ondas). Tomei o pequeno almoço no local do jantar (do dia anterior), no exterior do Surfcamp. Na manhã da Fajã, o escuro deu lugar a uma vista maravilhosa para o mar e para a enorme “parede” verde escura que a limita. Nem me lembro do que comi, mas com aquele envolvimento, nem importa a comida, será sempre uma refeição maravilhosa. 

Dediquei aquela manhã a uma absorção final. Caminhei junto ao mar. Observei os surfistas sentado no muro da igreja. Falei com Aires e com o Manel sobre pesca. Fui vê-los a pescar na lagoa. Caminhei novamente junto ao mar. Por um lado, queria sair da Fajã, queria contar aos meus sobre o lugar maravilhoso onde estava (ali a rede de telemóvel, internet, etc, é zero!), já estava há alguns dias longe de casa e amanhã seria o dia do regresso. Por outro lado, quase que como uma ligação magnética, sentia que poderia viver ali para sempre. Sentia-me numa espécie de aquário, onde existia um mundo diferente, quase como se tratasse de uma realidade paralela, com uma beleza singular e sem muitos dos males do outro mundo (do real).

Por volta das 11h30m fiz a despedida final. Desejos de boa sorte e um até à próxima aos presentes, e um caminhar lento, pelos pequenos caminhos da Fajã da Caldeira. Estava a tirar fotos e a adicioná-las à pasta destinada aos lugares especiais, no grande disco rígido da minha memória. Passei a lagoa e fiquei a olhar, sem me mover, os últimos 30 segundos para a Fajã. Quase como se despede de alguém no aeroporto, que parte para uma longa temporada longe dos nossos olhos. Sei que vou voltar, mas a primeira visita é sempre especial, sei que esta vou recordar para sempre. Queria registar tudo, bem registado, na minha cabeça. 

Comecei a caminhar (sem voltar a olhar para trás) em direção a Fajã dos Cubres. Ao contrário da Fajã da Caldeira a Fajã dos Cubres tem acesso de carro, pormenor que faz dela a principal porta (de entrada e saída) para a Fajã da Caldeira. Ao contrário do desnivelado caminho a começar (ou acabar) na Serra da Topo, este caminho é sempre junto ao mar e sempre plano. Não é tão bonito como o acesso pela Serra do Topo, que eleva os padrões de beleza para um patamar quase inatingível, mas se não fosse este (injusto) objeto de comparação, era (e é) também um caminho de cortar a respiração. 

Caminhei lentamente, para aproveitar cada segundo. Cruzei-me com vários locais e visitantes temporários das duas Fajãs. Quando me cruzava com alguém não local, que seguia em direção à Fajã da Caldeira, o pensamento era sempre o mesmo “nem sonhas o que vais encontrar”. O primeiro “embate” com a Fajã da Caldeira é digno de ser filmado, tipo aqueles filmes de youtube que captam a reação das pessoas a elementos surpresa. Vendar os olhos de alguém e largá-lo no meio da Fajã da Caldeira, e aí tirar a venda, 8 em cada 10 abria a boca instintivamente. Então se alguém saísse de Nova Iorque ou de Paris e aterrasse de olhos vendados neste pedaço de terra, assim que lhe tirassem a venda, desmaiava. Acho que aconteceria o mesmo a alguém que vivesse toda a vida na Fajã da Caldeira e aterrasse de olhos vendados nos Champs Elysées às 6h da tarde. Seria quase o mesmo que ter óleo ao lume e atirar-lhe um balde de água para cima.

Após umas 300 paragens para fotos lá cheguei a Fajã dos Cubres. Apesar de bonita, sem o encanto da sua vizinha. Junto à igreja já estava o Luís à minha espera. Foi comer qualquer coisa, no único café da Fajã, em frente à igreja, e seguir caminho na sua carrinha. Para o dia de hoje estava destinado um mini tour por São Jorge. Sem andar, nem subir montanhas. Tinha uma tarde para conhecer alguns dos pontos mais interessantes de São Jorge. Ao contrário do que vivi no dia anterior, onde caminhei sem relógio e vivi o máximo que consegui de um só lugar, o dia hoje, poder-se-ia considerar uma versão express de São Jorge, com o Luís, um nativo, a guiar-me. Sem espaço para grandes aventuras, era ir lá tirar uma foto e seguir caminho. Está muito longe, de ser esta a minha forma favorita de conhecer novos destinos, ainda por cima paradisíacos e com tanto para oferecer como este. Mas considerei ser esta a melhor opção, tendo em conta o tempo que me restava.

Saímos de Fajã dos Cubres, em direção à famosa Fajã do Ouvidor. Muito conhecida pelas suas piscinas naturais. Também é possível o acesso a esta Fajã por carro, de longe a mais habitada e “industrializada”, em comparação com as duas anteriores. As piscinas são sem dúvida lindíssimas. Apesar do mar estar um pouco agitado e já não ser Verão, era impossível não pensar num mergulho (não passou do pensamento). A cor verde da água límpida da piscina a contrastar com a cor azul do mar, é digno de postal. A ausência de pessoas no restaurante local, em hora de almoço, dá para perceber que o Verão já tinha acabado e era tempo de caminhar (e descansar) lentamente até ao Inverno, para aí, começar a preparar a nova temporada.

Vistas as piscinas seguimos em direção ao ponto mais alto da ilha, o Pico da Esperança. Nesse momento, concluí uma espécie de mini desafio, estar no ponto mais alto de cada uma das três ilhas do triângulo atlântico. As vistas ali são de cortar a respiração. Entre pequenos picos e crateras de pequenos vulcões, dá para perceber o porquê de ser chamada de ilha do Dragão (existem outras histórias associadas). Ao olhar, a partir do ponto mais alto, para a silhueta da ilha, é muito semelhante ao dorso de um enorme dragão verde. Uma imagem muito engraçada e imponente. Deste ponto, para além de grandes vistas mar, conseguimos avistar com facilidade as ilhas do Pico e da Terceira (sendo a esta, a primeira vez, que lhe coloquei a vista em cima). Lentamente descemos do Pico da Esperança. Em seguida seguimos em direção ao extremo Noroeste da ilha, a Ponta dos Rosais, seguindo quase sempre com vista mar. Na Ponta Rosais, grande falésia, 200m acima do mar, encontra-se um farol abandonado, que dá um certo ar místico a este lugar. Perguntei ao Luís o porquê de estar abandonado, ao que ele me respondeu, que tinha sido o forte abalo provocado pelo terramoto de 1980 (o mesmo que deixou a Fajã da Caldeira quase que inacessível), que deixou o farol extremamente (ou definitivamente) danificado nas suas estruturas. Sendo que a falésia onde está apoiado, é uma espécie de areia movediça, e que qualquer dia vem parar cá abaixo. Nesse momento pensei, “ok, isto é bonito, mas não vou lá à ponta”. A vista é realmente incrível. Vi pela primeira vez a ilha da Graciosa, e ainda com mais facilidade se vêem as ilhas do Pico e Faial. Ainda reforçando a beleza do momento, o dia caminhava para o seu fim, e cor do pôr do sol, dava a este lugar um encanto digno dos melhores quadros naturais.

Terminado este momento, já com a noite a espreitar, foi seguir para Velas. Onde iria dormir e iria partir, no dia seguinte, em direção ao Faial, para apanhar o avião de regresso a casa. Já a soar a despedida, lapas grelhadas e queijo de São Jorge para o jantar, e um gin tónico (bebida típica de marinheiros e muito comum por aqui..na sua versão old school, esqueçam copos balão pepinos e canelas..aqui é gin barato, água tónica, uma rodela de limão e licor de anis, servido num copo de cerveja. Impecável!), na tasca ao lado do restaurante, como sobremesa. 

Amanhã, seria o dia do regresso e final desta incrível (daquelas que deixam saudades) aventura.

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-> 7 de Outubro, 2016

Era o dia de regressar, muito lentamente, a casa. Tinha voo no Faial, por volta das 15h00. Como estava em São Jorge, tinha de fazer a viagem de barco até ao Faial, com paragem no Pico. Viagem com cerca de 1h30 de duração. Acabou por ser uma despedida engraçada. Pois deu para recordar o que vivi, com as ilhas do triângulo como pano de fundo.

Este dia foi a conclusão de um bom livro. Sentia-me a sair de um aquário. A sair de uma espécie de perfeição a roçar o irreal. Cada ilha com os seus pontos particulares (diria mesmo especiais), completamente diferentes entre si e que em conjunto formam uma experiência monumental. Ao nível de triplas míticas como os Anjos de Charlie, os 3 Mosqueteiros (sendo eu o D’Artagnan 😉 ) ou Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, no ataque do Brasil no Mundial de 2002. 

Conheço apenas uma pontinha do Mundo, mas posso afirmar que…lugares tão belos como este, existem poucos.

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#QUANDO E COMO IR

A temperatura nos Açores é sempre amena, não é muito quente no Verão e não é muito fria no Inverno. Portanto o que existe para evitar, é (a maior) probabilidade de existir chuva. Vou ter de sugerir aquele clássico, entre Maio e Setembro, como melhor altura para ir. Se bem que nos restantes meses têm as ilhas praticamente só para vocês e a preços mais em conta. É sempre uma questão de colocar tudo na balança. Nota mental: melhor altura para ver baleias no Pico? Abril e Maio!

Tal como, quando vou ao supermercado e compro produtos nacionais. Quando voo também procuro, em primeiro lugar as companhias portuguesas. A SATA tem voos regulares para o Faial e Pico, diretos de Lisboa e Porto. Também existe a hipótese de ir para São Miguel ou Terceira e apanhar aí os voos de ligação (sempre têm possibilidade de acrescentar mais uma ilha na visita ao triângulo 😉 ).

Entre ilhas (Faial, Pico e São Jorge), não tem nada que saber, até porque não existe outra hipótese. Barco pela Atlanticoline. Têm ligações regulares entre as 3 ilhas.