episódio 10: É DIFÍCIL VOLTAR
O meu caminho a Caminho de Santiago acabou há cerca de uma semana. Ainda existem noites que sonho com o caminho e dias que acordo pronto para caminhar. Já estou a melhorar, mas acho que sofro de uma espécie de síndrome do caminho.
Aqui depende sempre da forma como cada um absorve o caminho (não vos posso garantir que irão sofrer do mesmo ao fazerem e regressarem do Caminho). Da maneira que se entrega, e o que sofre e vive por lá. Apesar de ser uma pessoa viajada, que já viu e viveu algumas coisas, o caminho toca-me de uma maneira que poucas viagens e experiências me tocam. Não sei se é pela dificuldade de caminhar com a mochila, se pelo misticismo característico de um caminho milenar (sim, já percorrem este caminho há mais de 1000 anos!), se pelas pessoas que vamos encontrando no caminho, com as suas diferentes histórias, se por ter caminhado quase sempre sozinho, num país que não é o meu…ou então, pela mistura disto tudo (acho que deve ser por aí). Para mim, foi difícil voltar.
Por um lado, é sempre bom voltar a casa (com saúde). Abraçar aqueles que mais gostamos e contar o que vivemos. E aqui começam as primeiras questões e dificuldades (é claro que não é a parte de abraçar que mais gostamos, fiquem descansados). Existe uma vontade muito grande em contar as histórias e lições do caminho, mas por mais entoação e pormenor que se coloque nas palavras (atenção que eu sou contador de histórias profissional), parece que fica aquém do que foi vivido. Por muito que se conte, existe sempre aquele sentimento difícil de descrever, que obriga a um “não consigo explicar” no meio da história. Não é que exista algum problema em ficarmos com histórias só para nós. Provoca-me é sentimento esquisito de “nem estou cá, nem estou lá” e faz com os primeiros dias de “vida normal” sejam meio complicados (complicados se calhar é demasiado forte, são diferentes, vá!).
Tal como escrevi no inicio, isto não acontece a todos. Como por exemplo um grupo de 4 amigos que encontrei no autocarro de regresso a casa, que mais pareciam saídos de uma tarde de saltos para água num parque aquático algarvio, tal era a adrenalina. Eu estava diferente, parecia que estava na pausa. Passei a viagem sem ler, sem ouvir música, sem falar para ninguém e sem dormir. Apenas a relembrar o caminho. Bateu em mim de forma diferente deste grupo. Atenção que isto não faz de mim um espécie de guru do caminho há espera de canonização, nem tão pouco melhor “caminhante” que as pessoas deste grupo, mas com toda a certeza apesar de termos feito, provavelmente, o mesmo caminho, caminhámos de forma diferente.
Mas (e ainda bem, caso contrário seria meio assustador), muitos com quem falei ao longo do caminho (os repetentes do caminho), descrevem este sentimento como “o vício do caminho” e provavelmente o pós-caminho tratar-se-á de uma espécie de ressaca, que nos provoca primeiro algum abalo, como uma espécie de saída de um aquário onde existe um mundo encantado, e depois, consequentemente, nos provoca uma vontade enorme de voltar. Já estou na fase da vontade de voltar.
O meu caminho a Caminho de Santiago acabou há cerca de uma semana. Ainda existem noites que sonho com o caminho e dias que acordo pronto para caminhar. Já estou a melhorar, mas acho que sofro de uma espécie de síndrome do caminho.
Aqui depende sempre da forma como cada um absorve o caminho (não vos posso garantir que irão sofrer do mesmo ao fazerem e regressarem do Caminho). Da maneira que se entrega, e o que sofre e vive por lá. Apesar de ser uma pessoa viajada, que já viu e viveu algumas coisas, o caminho toca-me de uma maneira que poucas viagens e experiências me tocam. Não sei se é pela dificuldade de caminhar com a mochila, se pelo misticismo característico de um caminho milenar (sim, já percorrem este caminho há mais de 1000 anos!), se pelas pessoas que vamos encontrando no caminho, com as suas diferentes histórias, se por ter caminhado quase sempre sozinho, num país que não é o meu…ou então, pela mistura disto tudo (acho que deve ser por aí). Para mim, foi difícil voltar.
Por um lado, é sempre bom voltar a casa (com saúde). Abraçar aqueles que mais gostamos e contar o que vivemos. E aqui começam as primeiras questões e dificuldades (é claro que não é a parte de abraçar que mais gostamos, fiquem descansados). Existe uma vontade muito grande em contar as histórias e lições do caminho, mas por mais entoação e pormenor que se coloque nas palavras (atenção que eu sou contador de histórias profissional), parece que fica aquém do que foi vivido. Por muito que se conte, existe sempre aquele sentimento difícil de descrever, que obriga a um “não consigo explicar” no meio da história. Não é que exista algum problema em ficarmos com histórias só para nós. Provoca-me é sentimento esquisito de “nem estou cá, nem estou lá” e faz com os primeiros dias de “vida normal” sejam meio complicados (complicados se calhar é demasiado forte, são diferentes, vá!).
Tal como escrevi no inicio, isto não acontece a todos. Como por exemplo um grupo de 4 amigos que encontrei no autocarro de regresso a casa, que mais pareciam saídos de uma tarde de saltos para água num parque aquático algarvio, tal era a adrenalina. Eu estava diferente, parecia que estava na pausa. Passei a viagem sem ler, sem ouvir música, sem falar para ninguém e sem dormir. Apenas a relembrar o caminho. Bateu em mim de forma diferente deste grupo. Atenção que isto não faz de mim um espécie de guru do caminho há espera de canonização, nem tão pouco melhor “caminhante” que as pessoas deste grupo, mas com toda a certeza apesar de termos feito, provavelmente, o mesmo caminho, caminhámos de forma diferente.
Mas (e ainda bem, caso contrário seria meio assustador), muitos com quem falei ao longo do caminho (os repetentes do caminho), descrevem este sentimento como “o vício do caminho” e provavelmente o pós-caminho tratar-se-á de uma espécie de ressaca, que nos provoca primeiro algum abalo, como uma espécie de saída de um aquário onde existe um mundo encantado, e depois, consequentemente, nos provoca uma vontade enorme de voltar. Já estou na fase da vontade de voltar.