Episódio 7: PADRÓN – SANTIAGO DE COMPOSTELA
Esta foi a etapa mais longa (cerca de 25km), a mais emocionante e a que merece a descrição mais curta. Porquê? Porque todo o caminho é passado a pensar numa só coisa: “chegar a Santiago, chegar a Santiago”.
Mesmo que o inconsciente te diga para fazeres outra coisa, não há outra hipótese. Parece que Santiago tem uma força qualquer, que quando te aproximas dele, te absorve por completo. Só hoje olhei com atenção para os marcos do caminho que indicam os quilômetros. Nos outros dias quando dizem 118.583 ou 72.459, pouco dizem, mas começas a ver 10.429 ou 3.245 começas a ver que zero se está a aproximar e que finalmente (ou não) estás a chegar a Santiago.
Comecei o dia por volta das 7h45 e mais uma vez fui o último a sair do albergue. Segui quase todos os quilômetros sozinho (quer dizer vou sempre apanhando gente, disse para aí 500 vezes “buen camino”), maioritariamente por estradas de campo e pequenas aldeias (muito menos terra batida que nos dias anteriores). A excepção foi feita nos últimos quilômetros, onde caminhei e conversei, primeiro com um casal muito simpático de brasileiros, o Luan e a Joana, de Minas Gerais, mas a fazer um doutoramento em Lyon. Quando perguntei ao Luan como estava a ser, ele respondeu-me: “puxa cara, tou muito cansado, mas acho que amanhã vou sentir falta” (tão verdade Luan! coisas estranhas que o nosso corpo e mente pede). E já na última fase, acompanhei um grupo de 4 espanhóis, liderado pelo Matias, bancário de Valência, que seguia acompanhado pela sua esposa e cunhados. Uma conversa muito boa sobre o que é isto do caminho e o que o torna tão especial.
Mas a dado momento voltei a ficar sozinho e assim segui até à Catedral na Plaza del Obradoiro. É daqueles momentos difíceis de explicar. Parece um bocado cliché, mas é com o máximo de sinceridade que o digo, só vivendo. Senti um misto de alegria por chegar, por chegar bem, por chegar mais rico, e ao mesmo tempo uma certa nostalgia pelo que vivi neste últimos 6 dias a caminhar. Existe algo de místico neste caminho. Provavelmente, facto derivado da sua carga histórica milenar.
Não sou muito religioso, apesar de católico e de chamar por Deus de vez em quando. Mas acho que para qualquer um, ao fazer um caminho que tem a história que tem, chegar esta cidade e a uma catedral com quase 1000 (!!!) anos de história, vai mexer um pouco (calma, que acabei de fazer o caminho há 2 horas, ainda estou um bocado abalado).
Depois parece um filme a minha chegada. Chego sozinho, tiro umas 57 selfies com a catedral como pano de fundo. Sento-me um pouco, e passados uns 10 minutos, começam a chegar aos poucos pessoas ou grupos, com quem me fui cruzando dezenas de vezes no caminho, muitas vezes sem dizer mais que um “buen camino”. Os brasileiros, os espanhóis de Valença, o grupo de 4 (3 espanhóis e uma alemã, liderado pela querida Mariola), o Juan, um espanhol que cabelo comprido e sempre vestido de preto com quem me cruzei várias vezes e com o Carlos, um espanhol que foi meu vizinho de beliche por 3 vezes (foi dos que mais gostei, ressonar zero). Parecia aquelas imagens no final do filmes, em que mostra os bastidores. Parecia que nos conhecíamos há uma vida. Mas na verdade mal falamos e mal sabíamos o nome uns dos outros. Mas partilhámos o mesmo caminho e sem falarmos, todos percebemos o quanto isso foi importante. No final o Juan, o espanhol com ar rockalheiro, deu-me um abraço e disse-me: “Me alegro de verte aquí”. Foi sincero. Juro que fiquei emocionado (tipo a música do Bonga “tenho uma lágrima no canto do olho”)
Caminhar até Santiago não é fazer o caminho mais bonito (existem muitos com paisagens mais bonitas), o caminho mais duro (existem outros em que desafio físico é muito maior), não é uma porrada de coisas, mas é provavelmente o caminho mais especial de todos (para mim).
Agora vou descansar um pouco, para depois ver a missa às 19h30. Ahh…hoje não albergue para ninguém!! Tenho um quarto só para mim (sem ter que rezar para que o vizinho do lado ressone), no Hotel Moure (vou tentar deitar depois das 21h30 e acordar depois das 6h30…só para quebrar o ritmo frenético dos caminhos de santiago).
Onde dormi: Hotel Moure, Santiago de Compostela
Esta foi a etapa mais longa (cerca de 25km), a mais emocionante e a que merece a descrição mais curta. Porquê? Porque todo o caminho é passado a pensar numa só coisa: “chegar a Santiago, chegar a Santiago”.
Mesmo que o inconsciente te diga para fazeres outra coisa, não há outra hipótese. Parece que Santiago tem uma força qualquer, que quando te aproximas dele, te absorve por completo. Só hoje olhei com atenção para os marcos do caminho que indicam os quilômetros. Nos outros dias quando dizem 118.583 ou 72.459, pouco dizem, mas começas a ver 10.429 ou 3.245 começas a ver que zero se está a aproximar e que finalmente (ou não) estás a chegar a Santiago.
Comecei o dia por volta das 7h45 e mais uma vez fui o último a sair do albergue. Segui quase todos os quilômetros sozinho (quer dizer vou sempre apanhando gente, disse para aí 500 vezes “buen camino”), maioritariamente por estradas de campo e pequenas aldeias (muito menos terra batida que nos dias anteriores). A excepção foi feita nos últimos quilômetros, onde caminhei e conversei, primeiro com um casal muito simpático de brasileiros, o Luan e a Joana, de Minas Gerais, mas a fazer um doutoramento em Lyon. Quando perguntei ao Luan como estava a ser, ele respondeu-me: “puxa cara, tou muito cansado, mas acho que amanhã vou sentir falta” (tão verdade Luan! coisas estranhas que o nosso corpo e mente pede). E já na última fase, acompanhei um grupo de 4 espanhóis, liderado pelo Matias, bancário de Valência, que seguia acompanhado pela sua esposa e cunhados. Uma conversa muito boa sobre o que é isto do caminho e o que o torna tão especial.
Mas a dado momento voltei a ficar sozinho e assim segui até à Catedral na Plaza del Obradoiro. É daqueles momentos difíceis de explicar. Parece um bocado cliché, mas é com o máximo de sinceridade que o digo, só vivendo. Senti um misto de alegria por chegar, por chegar bem, por chegar mais rico, e ao mesmo tempo uma certa nostalgia pelo que vivi neste últimos 6 dias a caminhar. Existe algo de místico neste caminho. Provavelmente, facto derivado da sua carga histórica milenar.
Não sou muito religioso, apesar de católico e de chamar por Deus de vez em quando. Mas acho que para qualquer um, ao fazer um caminho que tem a história que tem, chegar esta cidade e a uma catedral com quase 1000 (!!!) anos de história, vai mexer um pouco (calma, que acabei de fazer o caminho há 2 horas, ainda estou um bocado abalado).
Depois parece um filme a minha chegada. Chego sozinho, tiro umas 57 selfies com a catedral como pano de fundo. Sento-me um pouco, e passados uns 10 minutos, começam a chegar aos poucos pessoas ou grupos, com quem me fui cruzando dezenas de vezes no caminho, muitas vezes sem dizer mais que um “buen camino”. Os brasileiros, os espanhóis de Valença, o grupo de 4 (3 espanhóis e uma alemã, liderado pela querida Mariola), o Juan, um espanhol que cabelo comprido e sempre vestido de preto com quem me cruzei várias vezes e com o Carlos, um espanhol que foi meu vizinho de beliche por 3 vezes (foi dos que mais gostei, ressonar zero). Parecia aquelas imagens no final do filmes, em que mostra os bastidores. Parecia que nos conhecíamos há uma vida. Mas na verdade mal falamos e mal sabíamos o nome uns dos outros. Mas partilhámos o mesmo caminho e sem falarmos, todos percebemos o quanto isso foi importante. No final o Juan, o espanhol com ar rockalheiro, deu-me um abraço e disse-me: “Me alegro de verte aquí”. Foi sincero. Juro que fiquei emocionado (tipo a música do Bonga “tenho uma lágrima no canto do olho”)
Caminhar até Santiago não é fazer o caminho mais bonito (existem muitos com paisagens mais bonitas), o caminho mais duro (existem outros em que desafio físico é muito maior), não é uma porrada de coisas, mas é provavelmente o caminho mais especial de todos (para mim).
Agora vou descansar um pouco, para depois ver a missa às 19h30. Ahh…hoje não albergue para ninguém!! Tenho um quarto só para mim (sem ter que rezar para que o vizinho do lado ressone), no Hotel Moure (vou tentar deitar depois das 21h30 e acordar depois das 6h30…só para quebrar o ritmo frenético dos caminhos de santiago).
Onde dormi: Hotel Moure, Santiago de Compostela