Casei-me ontem com a minha Liliana. (em segredo)
21 de Fevereiro de 2017.
“Isto é mesmo verdade. Casei-me ontem com a minha Liliana. No dia de aniversário dela. Tudo isto em segredo.
Já disse várias vezes. A nossa história dava um filme.
Começámos a namorar no dia 13 de Abril de 2003, tínhamos 18 anos. Nunca mais nos separámos. Somos muito diferentes, mas as virtudes de um encaixam na perfeição nos defeitos do outro. Acho que formamos uma bela equipa e acabámos por crescer juntos. Vivemos muito, já passámos por muitas coisas boas e más. Embora às vezes me lamente de tanta acção, a nossa vida nunca foi monótona, sempre tivemos algo com nos entreter. Acho que todas as coisas más que já passámos apenas fazem engrandecer as boas. Tudo isso ajudou a poder afirmar, com exatidão, que conheço tão bem a Liliana como me conheço a mim. Acho que ela pode dizer o mesmo sobre mim.
Apesar das nossas diferenças (boas diferenças), sempre tivemos de acordo em 3 objectivos comuns. Casar, comprar uma casa e ter filhos. Tentámos fazer isso, por essa ordem.
Há dois anos decidimos casar. Tínhamos tudo preparado e quase tudo comprado, para casar no dia 30 de Maio de 2015. Mas infelizmente, vivemos uma tragédia daquelas que apenas acontecem aos outros, ou nos filmes. Pensávamos nós. O Pai da Liliana morreu umas semanas antes do nosso casamento. Não preciso dizer muito sobre isto ou sobre o que nós e a nossa família sentimos. Está bem claro que não foi fácil. Cancelámos o casamento.
Com o andar do tempo, a dor dá lugar à saudade e tentámos várias vezes voltar ao nosso casamento. Ainda tentámos fazer tudo como o “primeiro”, mas esbarrámos muitas vezes nos nossos medos e percebemos que não podíamos voltar atrás e fazer como se nada fosse. Mas tínhamos de seguir em frente e resolver este problema na nossa cabeça. Por um lado, não conseguiríamos ter um casamento que lembrasse o primeiro e por outro não queríamos ficar a lamentar o resto da vida o facto de não termos casado.
Após 1000 ideias e outras tantas tentativas, há cerca de um mês durante um normal e apressado almoço, falámos sobre o aproximar dos anos da Liliana e sobre o que iríamos fazer. Como tínhamos acabado de comprar um casa (não podíamos esperar eternamente pelo objectivo casar), dissemos em jeito de brincadeira: “e se casássemos nesse dia?”. Podíamos juntar tudo, anos, inauguração da casa e casamento. Aquilo que era para ser uma brincadeira, deixou-nos a rir, não de graça, mas de entusiasmo. Na noite desse dia, esta ideia passou de uma tentativa para algo real. Iríamos casar no dia 21 de Fevereiro. Como? Em segredo e na festa de anos da Liliana. Na festa, iríamos revelar a nossa aventura do dia aos nosso familiares e amigos.
Uma das grandes mágoas da Liliana, sempre foi o vestido de noiva. Já o tinha, gostava muito dele e não o poderia usar. Portanto, teria de usar o vestido nesse dia. Decidimos fazer uma sessão de fotos com os nossos vestidos de noivo, para guardar imagens felizes do nosso dia. E onde? Era o nosso dia e teria de ser num local que gostássemos muito (e bonito). Gostamos muito do Alto Alentejo e no Alto Alentejo gostamos muito do hotel Torre de Palma. Depressa averiguámos essa hipótese e com a maior das generosidades e simpatia, recebemos de imediato um “sim, com todo o prazer”, numa espécie de “mi casa és su casa”. A nossa sessão seria no Torre Palma. Quase com a mesma velocidade escolhemos o Hugo Coelho para as fotos, que mais do que captar momentos, conta histórias em imagens e era mesmo isso que nós queríamos. Um história para contar.
O nosso dia começou a ganhar vida. Casar no registo civil pela manhã, sair para o Torre de Palma para uma fotos à tarde. Que seriam mais que umas fotos, já que seria a primeira vez que eu iria ver a Liliana vestida de noiva. E no final do dia voltar a casa e fazer uma surpresa a toda a gente.
Pelo meio ainda tivemos um azar, a nossa casa nova não iria estar pronta para a grande festa. Tivemos de alterar esse plano e fazer a festa na nossa casa “velha”. O entusiasmo ultrapassou facilmente este obstáculo.
Grande dia. Após uns longos dias de preparação, porque apesar de diferente, era o dia do nosso casamento. Queríamos que, à nossa maneira, tudo estivesse perfeito. Pela manhã fomos ao registo em Abrantes para casar. Confesso que ia cheio de medo, de encontrar por lá alguém conhecido e estragasse, sem querer, a surpresa. Entrei tipo ninja para a sala do casamento, na tentativa de parecer invisível. A Liliana entrou 5 minutos depois. Ela não enganou ninguém. Não ia vestida noiva, mas não ia renovar o cartão de cidadão de certeza. Assim vestida, ia casar. Por sorte, não estava lá ninguém conhecido. O casamento no registo foi muito mais divertido do que pensei. Sempre pensei num processo industrial, mas muito pelo contrário, foi bastante pessoal e gostei muito da pessoa que o realizou. Nem assinámos nada (a Liliana até preparou uma caneta dourada), mas foi um momento empolgante. Confesso que estava um bocadinho nervoso. Epá, estava a casar-me! Depois de um autêntico cabo das tormentas, estava, finalmente, a casar-me com a minha Liliana. Trocámos alianças. Mais um momento épico, nunca usei um anel na vida. Confesso que me custou um bocado (passado um dia, já me começo a habituar).
Mais um momento ninja na saída do registo. Tudo impecável, ninguém conhecido. Seguimos para o Torre de Palma, para a sessão de fotos. Tudo correu lindamente. O dia estava muito bonito. O Torre de Palma é muito bonito. E o Hugo é um fotografo (e pessoa) 5 estrelas. Confesso que fiquei emocionado quando vi a Liliana vestida de noiva. Foram anos a pensar neste momento. Não a vi entrar numa igreja, mas foi tão ou mais emocionante, vê-la a sair do quarto vestida de noiva. Depois de tudo o que passámos, nos últimos tempos até foram mais os dias em que pensei que não a iria ver vestida de noiva, do que o contrário. Foi muito especial e acho que vou recordar, na minha cabeça, esse momento para sempre.
Acabada a sessão, por volta das 17h, regressámos a casa. Chegámos a Abrantes por volta das 19h e as pessoas iriam começar a chegar a nossa casa às 20h. Íamos morrendo de ansiedade. Essa hora passou em 5min. Imprimir as fotos, ir buscar o bolo, preparar o resto da mesa, preparar a sala para a surpresa, enfim, tudo a 1000. 19h45, começaram a chegar as primeiras pessoas. A sala com as fotos estava fechada. O resto das pessoas foram chegando. Confesso que nem conseguia falar muito bem para ninguém. Estava tão ansioso. Já com toda a gente, estava a chegar o grande momento. As pessoas entraram na sala e tínhamos a fotos da sessão da tarde penduradas na parede, mas viradas ao contrário. Chamámos as nossas mães para virar a nossas fotos. Um dos momentos mais emocionantes na minha vida. Tremia por todo o lado. Acho que quando viraram as primeiras fotos, poucos perceberam o que estava, realmente, a acontecer. Quanto todos perceberam o que se estava a passar (a minha querida mãezinha ia tento um ataque cardíaco de tanta emoção), lá disse: “meus amigos, isto não é só uma festa de anos. Isto também é a nossa festa de casamento. Casámos hoje.”. Confesso que me caíram 3 ou 4 lágrimas. Estava empolgado e muito feliz.
O resto da noite foi um misto de risos e abraços.
Eu e a minha Liliana tivemos um dia muito feliz. Não tivemos o casamento com que sempre sonhámos, porque, sinceramente excedeu todas as minhas expectativas. Foi um dia tão feliz. Deitei-me tão feliz e tão realizado, como nunca imaginei ou sonhei. Tivemos um dia muito diferente de um habitual dia de casamento. Vimos os nossos pais e amigos a chorar e rir, simplesmente pela nossa felicidade. Isto é tão simples, mas de uma grandiosidade sem escala. Senti-me amado. Acho que essa é a expressão certa. E sinto que mais do que bolos (embora existam bolos muito bons), um casamento é sobre isto. Amor e partilha.
Sinto-me muito feliz (acho que já perceberam isso) com o desfecho do nosso assunto “casamento”. Agora que já casámos e já comprámos uma casa, já só faltam os filhos (vou dar o meu melhor ).
Que comece mais uma viagem. Acredito que somos do tamanho das histórias que temos para contar. Tenho mais uma das boas.
Nota (muito importante): um obrigado gigante à incansável amiga Catarina (um pequeno génio) e ao Miguel (irmão da Liliana), por terem sido bons cúmplices da nossa aventura. Sem vocês, e a vossa ajuda, teria sido bem diferente (para pior). Obrigado.”