Castelo Branco, Outubro de 2019.

Estava um dia bonito de início de Outono. O calor do Verão já tinha passado, o frio do Inverno ainda não tinha chegado e aquelas cores quentes da vegetação já se faziam notar. O castelo foi erguido em 1209 pelos Templários. Juntamente com outros castelos, como, por exemplo, o vizinho Castelo de Monsanto, faziam parte da linha de defesa do Tejo. Hoje, o castelo está parcialmente destruído, mas suficientemente presente para se perceber a sua importância e justificar a sua posição de primeiro lugar de visita. A vista para o grande núcleo urbano da cidade é incrível e encorajadora para o que vem aí. Depois de sentir o aroma da cidade lá bem no alto, comecei a descer pelas ruas adjacentes ao castelo como quem sobe ao alto de um escorrega de um parque aquático e entra em diversos cursos de água a toda a velocidade. Estava no coração do centro histórico de Castelo Branco. Ruas estreitas, traço antigo, troço empedrado, casas pequenas, roupa estendida na rua como manda a tradição e conversas de algibeira, que exigem mais do que um simples “bom dia”. Uma das minhas conversas de algibeira foi com a querida menina Rosário. Do alto da sua composta idade, só me pediu para não ser tratada por dona, menina estava bom para ela. A menina Rosário, vive no centro histórico de Castelo Branco, sempre lá viveu e não gosta de sair de lá. Parece-me romântico conhecer o mundo, mas também me parece romântico ser genuinamente fiel a um só lugar. A menina Rosário estava numa pequena praça, perto de sua casa. Já tinha ido à missa e já tinha feito os seus afazeres da manhã. Estava, simplesmente a ver a vida passar e alimentar o seu corpo com o bonito sol que brilhava naquela manhã. Depois do “bom dia”, a menina lá me contou como era a sua vida por ali. Simples, onde a simplicidade perfeita se parece aplicar. Trata por tu todas as flores do seu bairro, conhece todos os seus vizinhos, que lamentavelmente já não são muitos, e sabe a história de todas as casas que confluem com as da sua rua. Quem lá viveu e porque deixou de lá viver. Contou tudo, como o melhor dos guias certificados não conseguiria contar. Levou-me sorrisos e o desejo de mais conversas guiadas como esta. Nenhum centro histórico estará morto enquanto lá viverem pessoas como a encantadora menina Rosário.

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

 

facebook  /  instagram

O Meu Escritório é lá Fora!, todos os direitos reservados © 2019