retratos do centro de portugal

Piodão, entre o xisto e a história.

Piodão. Aldeia mágica, localizada no concelho de Arganil, num vale algures entre a Serra do Açor e a Serra da Estrela. Teoricamente pertence ao grupo de aldeias denominadas como Aldeias Históricas de Portugal, mas na prática é uma aldeia construída em Xisto e construída em território das Aldeias do Xisto. Tipicamente, nas aldeias históricas, o granito é rei. Piodão poderia ser uma espécie de golfinho albino no meio delas, mas para mim é um unicórnio. Encaixa bem. Um dos lugares mais encantadores do centro de Portugal.

Umas das minhas viagens por Piodão:

“A aldeia que parece minúscula quando vista do alto da serra, ganha novos contornos e nova dimensão. Saio do carro, apressado, para viver tudo. Engraçado como, depois de tantos anos a viajar, ainda fico “louco” por uma pequena aldeia perdida na serra. A primeira imagem é da Igreja Matriz, que funciona como porta de entrada da aldeia. Sente-se a dimensão de histórias que esta aldeia deve ter para contar ao dar de caras com este antigo templo com algumas centenas de anos. Nesse momento, parece que a minha imaginação ganha nova força e imagino como seria chegar a este lugar há 200 anos. Sem estradas, sem automóveis. A Igreja, talvez com outra forma, já lá estaria. Imagino este lugar feito de pessoas boas, que nasciam por ali e que por ali morriam, que viviam do que a terra lhes dava e com as dificuldades inerentes a quem está longe de tudo. Imagino também como um lugar onde iriam parar alguns foras da lei, que queriam fugir dos olhares mundo lá fora, talvez para sempre, e que por ali assentariam arraiais, talvez com uma nova identidade, para começar uma nova vida. Consigo imaginar muitas coisas, são sonhos e imaginação que fazem lugares como este. Talvez, hoje, este lugar se mantenha assim, e é tão valorizado, pelos anos que se manteve esquecido no passado. Muitas vezes o tempo e a história fazem destas coisas. Começo a explorar a aldeia, sinto-me a entrar num labirinto. Nas ruas do coração da aldeia não entram carros e parece que foram construídas para o tamanho de uma pessoa. Facilmente me perco por ali, mais facilmente me encontro. Nem que seja por simples coisas, que não se ouvem, nem vêm em outros lugares. Ouço o sino da igreja ou o padeiro. O som é tão nítido, que assume forma de bússola. Quase como o som do tempo a passar. É difícil o contacto humano, a freguesia de Piodão apenas tem cerca de 200 habitantes, espalhados por 10 aldeias. Nem sei quanta gente vive permanentemente nesta aldeia. Mas quase todas as casas estão, imaculadamente, cuidadas. Acredito que muitas sejam segundas casas ou casas convertidas a turismo. Aqui a pessoas ganham novo valor, talvez noutro lugar não investisse o meu tempo a observar os poucos locais que por ali circulavam nos seus afazeres diários. Cuidar da horta, cuidar do espaço em frente a sua casa ou tão simples, tão importante e tão raro, conversar com os vizinhos Todos muito simpáticos e orgulhosos da sua terra. Percebo perfeitamente a razão do orgulho.”

Digna de um conto de fadas.

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre o que faz da região Centro de Portugal um lugar diferente. Podem consultar todos os retratos aqui.

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