Hoje vai ser em jeito de desabafo, sobre algo que me apoquenta. Passo demasiado tempo a querer ser outra coisa. É melhor aplicar o plural aqui. Coisas. Passo demasiado tempo a querer ser “outras coisas”.
Querer ser outras coisas, não é objectivamente mau. Se eu me rendesse ao “deixa-te estar quietinho e não te queixes”, a esta altura era um miserável Engenheiro Civil, que às 10h15 da manhã já estava a olhar para o relógio, a contar os minutos para sair do trabalho. É bom uma pessoa lutar pelo que gosta e querer ser outra coisa. Se “a coisa” onde está metido, lhe está a fazer mal. Mas no meu caso pode ser considerado como informação a mais. Neste momento, estou bem, adoro o que faço, adoro o meu trabalho. Problema, estou sempre a quer juntar outras coisas ao meu role de sabedorias. E depois nunca quero saber só as coisas mais ou menos, quero saber muito. E para saber muito, leva muito tempo. E o tempo é um bem escasso. Portanto, neste momento sofro de um problema chamado: gestão de prioridades.
Comecei com a escrita, com a fotografia e com o empreendedorismo criativo. Foi com o gosto por estas três artes que comecei a explorar e a criar O Meu Escritório é lá Fora!. Quando percebi que gostava de escrever, e de escrever na primeira pessoa, devorei livros e livros. Procurava inspiração. Demorei algum tempo a perceber o que mais gostava. Muitas vezes caí na tentação de olhar primeiro para a forma como os outros iriam olhar para o meu trabalho, mas, felizmente, depressa deixei isso de lado. Passei a olhar mais para mim, como diz o outro “a seguir o coração” e criei a minha identidade. Acho que é fácil perceber quando um texto é escrito por mim. Podem gostar ou não gostar. Mas a identidade está lá. Demorou tempo, e fui beber a muitas “fontes”. Desde a literatura imaginativa de um Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien ou de umas Crónicas de Gelo e Fogo G. R. R. Martin (hoje uma saga conhecida como Guerra dos Tronos, que comecei a ler 10 anos antes da série começar), até a uma literatura de primeira pessoa, ligada a viagens e experiências, com nomes como Michael Palin, Jon Krakauer ou Bruce Chatwin, a surgirem entre muitos outros, que devorei. Demorou tempo. Não digo que cheguei ao fim. Mas encontrei um caminho. Sou um projecto em andamento, mas muito confortável com o caminho. Na parte da escrita, vou continuando a procurar inspiração e vou continuando a construir o meu caminho, que espero que nunca chegue ao fim. Na fotografia, o gosto por ser um bocadinho mais, chegou mais tarde. No inicio da minha viagem criativa a fotografia era apenas um complemento, uma espécie de anexo ao texto. Mas no último ano aconteceu uma viragem, e fiquei vidrado em fotografia. Hoje, muito mais do que um complemento, procuro contar histórias através de imagens. Mais uma vez, parti em busca da minha identidade. Não devorei o manual da minha máquina (que até comprei uma nova, para alimentar ainda mais este gosto), nem procurei investir muito nas questões técnicas. Procurei inspiração. Procurei passar para imagens aquilo que os meus olhos estavam, realmente, a ver, e aquilo que eu estava a sentir. Facilmente, as questões técnicas foram (ou vão sendo) ultrapassadas. E no final, o empreendedorismo criativo. Basicamente, foi transformar, a minha visão num negócio. Passar criatividade para algo mais pragmático e fazer com que os outros vejam valor comercial no meu trabalho e na minha criatividade. Com uma agravante que, por exemplo, um restaurante ou um supermercado não tem. É como ter uma loja que vende coisas, mas que não tem nada à venda. Esta complexidade, leva-me a considerar este empreendedorismo como algo criativo. Também aqui, segui um caminho de inspiração. Também aqui encontrei a minha identidade.
Bem, até aqui tudo bem. Três artes para me entreter. Está tudo a correr bem o “negócio”, só tinha de as manter ou desenvolver, e seguia a minha vida. O problema é que não sou assim. Neste momento sou igualmente apaixonado por: história de arte, cinema e video, arquitectura, ilustração e design, agricultura e viticultura e gastronomia. Todas estas artes com diferentes propósitos, mas que absorvem de tal maneira, que um dia com 48 horas não sei se chegava. E como me conheço bem, para o ano que vem, devem vir a existir novas paixões, portanto, 500 anos de vida, pode não chegar. Meus amigos, isto é angustiante. Perceber que não tenho tempo para tudo e que tenho de fazer escolhas, mesmo sabendo que nunca vou ficar completamente confortável com elas. Para terem uma noção do meu nível, estou a frequentar uma licenciatura em cinema, talvez vá abrir um restaurante em breve (é segredo!), quero ter uma vinha (e adega) e fazer o meu próprio vinho em breve, já comecei a desenhar mapas e estou a gastar em media um caderno Moleskine por mês, neste momento o Leonardo da Vinci, o Caravaggio ou o Vhils estão muito acima do Cristiano Ronaldo e do Messi na minha consideração (atenção que eu adoro futebol) e sonho com grandes nomes da arquitectura a idealizarem a minha (futura) casa (atenção que para mim, entre o sonho e a realidade, é um passo muito pequeno). Problema, que podia não ser problema (se tivesse apenas focado em 2 ou 3 coisas), detesto ser mais ou menos. E ser bom ou muito bom, para mim, não é ganhar prémios ou ganhar muito dinheiro (embora seja sempre bom). É eu olhar para a minha “construção” e dizer: “isto está muito bom”. E isso, meus amigos, com os termos de comparação e inspiração que tenho, pode ser considerada uma tarefa digna de um Hércules. E depois, cada vez mais, gosto de ser escritor, fotografo e empreendedor. Podia apenas entrar em modo: “sai uma, entra outra”. Mas não.
Para quem me conhece pessoalmente, o meu ser calmo do dia a dia, é apenas aparência, pois a minha cabeça parece uma panela de pressão em ebulição constante.
(nota: isto é apenas um desabafo. Sou muito feliz assim, mesmo angustiado 😉 )