“Tu és maluco!”, “Se te acontece alguma coisa!” frases muitas vezes ouvidas por mim, no antes, durante e após….uma viagem sozinho. Daquelas de mochila às costas e por vezes no meio do nada. Agora, o porquê. Gosto de viajar sozinho. Sobretudo pela liberdade de escolha que te dá. Não tenho de me adaptar a ninguém, escolho os meus tempos, o que quero ver, escolho com quem falo e quanto tempo falo. Isto quase que soa a uma espécie de egoísmo de viajante. Para mim chama-se, quase contabilisticamente falando, rentabilizar um investimento.
Mas se me perguntarem se “é sozinho que mais gostas de viajar?”, a resposta é não. Adoro viajar com a Liliana. Acho que não é por acaso que me atura há quase 14 anos (uma vida, portanto). Sobretudo porque ela me dá espaço para ser eu a “conduzir” a viagem e depois também me dá prazer construir algo em viagem para que ela se sinta bem. Acho que a isto se chama química em viagem. E, sinceramente, acho-me um sortudo, por não é um “toma lá, dá cá” fácil de encontrar. A Liliana, enquanto minha companheira de viagem, só tem dois “problemas” (que na verdade não problemas nenhuns), o primeiro é não faz disto vida (como todo o comum mortal, adulto e trabalhador, tem 21 dias de férias), o segundo é que andar a pé ou de bicicleta, com a mochila às costas, é coisa que não lhe assiste muito. Portanto, em jornadas mais aventureiras vou sozinho. E gosto.
Mas quando a Liliana, não pode ou não quer, e viajo sozinho e rumo a não sei onde, sozinho, de mochila às costas, num local onde não conheço ninguém, muitas vezes num país diferente, onde muitas pessoas não percebem nada do que dizes, “que prazer isso dá?”. Acho que é mesmo este “sair da zona de conforto” que enriquece a viagem e a experiência. E…dá-me um prazer bestial! A tal liberdade que falei. Vou por mim. Tenho o meu para pensar, se apetecer parar meia hora para ouvir os pássaros paro, se me apetecer falar com alguém falo. É muito fácil meter conversa com alguém nestas situações, já que muitos te acham um espécie de astronauta e sofrem, ao te ver, um misto de admiração e curiosidade. Rapidamente lhe estas a contar a tua vida e tuas aventuras. E logo em seguida, a receber as histórias de vida de outros (completamente diferentes de ti), seus feitos e por vezes, as suas amarguras. É engraçado e enriquecedor. Porque, apesar de gostar de viajar sozinho, não só nenhum tipo de “lobo solitário”, gosto de falar com outros e conhecer gente nova. Acho que nenhuma outra situação estás tão exposto a novas interações. Por exemplo se fores, para um qualquer lado do Mundo com o teu grupo de amigos (que gostas de coração), com quem bebes cerveja nas 6as feiras e ris-te sem parar. A experiência vai muito parecida, quer seja em Abrantes ou Sri Lanka (acho que só muda a marca da cerveja). Não é que seja mau ou divertido. Mas prefiro viver como um português em Portugal e no Sri Lanka, viver um pouco dos costumes da malta de lá, conhecer e falar com malta de lá. Em grupo é difícil, sozinho ou em dupla, quando dás por ela, já está a acontecer. Na minha recente viagem pelo Caminho de Santiago fui sozinho, mas verdade nunca fui (cliquem aqui para verem quem conheci).
Mas é claro, que isto é uma coisa minha. Para muitos o prazer e riqueza da experiência era zero.
É de pequenas diferenças (culturais, paisagisticas, etc) que faz do nosso Mundo um lugar tão interessante e que me desperta uma curiosidade imensa em conhecer, lá está, com a Liliana ou sozinho, pelo meio falar e conhecer 1001 pessoas diferentes de nós, e no final partilhar a experiência com todos. Porque levo muito a peito aquela máxima “somos do tamanho das histórias que temos para contar”. Quero ser grande.