Sou um admirador confesso do Alto Alentejo. Sinto-me bem lá. É quase como um sensor que se liga (tipo as luzes automáticas de casa de banho) e activa, em mim, uma sensação de bem estar, assim que piso aquela região. Ora bem, passei um fim de semana no Hotel de Charme Pateo dos Solares, que fica em Estremoz…Alto Alentejo. Já estão a adivinhar o que aconteceu por lá? Senti-me, terrivelmente, bem por lá. (terrivelmente, porque já sentia vontade de não sair de lá 😉 ).

Muitas vezes digo que o Alto Alentejo é intemporal. É meio a brincar, porque este meu “intemporal” quer dizer que não existe uma altura melhor que outra para o visitar. No Verão, sabe-me bem as noites quentes. Na Primavera, o cheiro dos campos que nasceram de novo. No Inverno, as noites à lareira, tão típica do Alentejo, com um bom vinho alentejano. No Outono…no Outono sabe-me bem o Sol, sem o calor do Verão. E foi Sol de Outono, ou para muitos, o Verão de São Martinho, de nos (sim, a minha Liliana foi comigo) brindou, com a sua presença, o nosso fim de semana em Estremoz. Tão bom! (já estou a escrever sobre o final. É um defeito que eu tenho)

Saímos de Abrantes ao final da tarde, de 6a feira, para uma viagem de 1h30m até Estremoz. Essa 1h30 mágica que não custa nem muito, nem pouco. Sempre que faço esse tempo de viagem e chego a um lugar completamente diferente de onde estou (Portugal tem essa capacidade), penso “porque não faço isto mais vezes!” (sim, ainda mais vezes). Só tive pena de já ser noite. Adoro conduzir pelos campos alentejanos. Chegamos por volta a hora de jantar. O Pateo dos Solares fica bem no centro de Estremoz. Pelas suas ruas estreitas, quase sempre de apenas um sentido, deu para ter um primeiro “mini tour” noturno por Estremoz, até à chegada ao hotel. Nesse momento, tive o primeiro susto, ao pensar “como raio, vou estacionar o carro nestas ruas” que pareciam ter saído um conjunto medieval do Playmobil (esse conjunto de brinquedos old school. Sim, eu sei, estou a ficar velho). Mas quando o GPS anunciou “chegou ao seu destino”, percebi que o Pateo dos Solares tem um portão no qual se pode entrar e estacionar confortavelmente. Tive o primeiro dejá vu medieval, ao relembrar os tempos em que era cavaleiro 😉 . Pela ligação com todo o centro histórico, proximidade com o castelo, e arquitetura do complexo, embora me pareça com traço do início do séc. xx, fez-me viajar ao passado. Daquelas viagens boas, que relembram o nosso passado e que me relembra que não fomos feitos em nenhuma fábrica de tecnologia de ponta.

Pela hora da chegada e com a fome a apertar, e porque, no Alentejo vale tudo menos passar fome. Foi dar uma pequena volta pelo hotel, deixar as malas no quarto e seguir para jantar. Existem várias hipóteses para se comer bem em Estremoz (Alentejo, lembram-se 😉 ), mas houve uma que me chamou logo a atenção. Mercearia Gadanha. Antiga mercearia transformada em restaurante, que na verdade não é só um restaurante, também continua a ser uma mercearia, que procura oferecer o melhor e mais genuíno que a região tem para oferecer, que mistura o passado com o futuro, feito por uma equipa de gente nova, alentejana, sem medo nenhum de arriscar…e mais, as fotos das suas sobremesas, na página de Facebook, apesar de já convencido, por tudo o resto que evidenciei, me fizeram soltar um, utilizando uma expressão de leiloeiro, “arrematado!”. Era este o restaurante perfeito para o nosso jantar. Isto foi o antes, já cheio de entusiasmo, mas garanto, o durante foi bem melhor. Best of, com entrada direta para os meus favoritos. Entra-se pela mercearia, é-se recebido de sorriso na cara e com aquele sotaque característico. Depois de sentar à mesa…bem, aí, é deixar a magia acontecer. Queijinhos, pãozinhos, manteigas disto e daquilo, azeitonas de várias cores, enchidos do melhor, enchidos com ovos mexidos, que sabem ainda melhor, e o vinho? Aí o vinho! Parece que liga com aquilo tudo e faz o tempo parar. Não existem horas. Apenas comida, bebida e uma boa conversa. Estava mais que convencido e ainda não tinham chegado os pratos principais. Lombo de Novilho e Mil-Folhas de Bacalhau. O Novilho estava muito bom, mas o bacalhau rebentou com tudo. Nem vale a pena dizer muito mais, aplico aqui a máxima “uma imagem vale mais que 1000 palavras” (vejam a foto em baixo). Se num outro contexto teria deixado passar a sobremesa, aqui não podia ser. Relembro que tinha sido as fotos da sobremesa que influenciaram a minha escolha. Apesar de, naquele momento, já apresentar semelhanças com o Sancho Pança, de tanto (e tão bem) que comi, avancei para a sobremesa. “Chocolate e Avelã ’15”, era este o nome da escolhida. Tão bom. Só por vergonha, não pedi mais uma dose para levar para o hotel num tupperware e comer quando me passasse o inchaço na barriga. Que lugar fantástico.

Lá regressamos, satisfeitos da vida ao “nosso” hotel. Naquela altura já estava rendido a Estremoz.

Após uma boa noite de sono, passeio matinal pelos jardins do Pateo dos Solares, que conta com uma bela piscina, que iria ser bastante minha amiga, caso o tempo estivesse mais ameno. A longa planície alentejana, também não falta nas vistas do jardim, com destaque para o castelo de Évora Monte a surgir, lá ao fundo, num ligeiro socalco. Já disse que esta gente não gosta de brincar à comida? Mais uma boa dose ao pequeno almoço, do bom e do melhor.

Em seguida o nosso programa iria-nos levar para algo recomendado por todos (por todos…aqueles com quem falamos em Estremoz…e ninguém melhor, que alguém de Estremoz, para dizer o que fazer em Estremoz 😉 ). Não falharam. Fomos ao mercado de Estremoz. Todos os sábados de manhã, lá está ele. Acho que ri do primeiro ao último minuto. Desde velharias da 2a Guerra Mundial, conjuntos de farmácia antigos, posters e sapatos old school, pratos, talheres, copos e afins, que pareciam saídos de um filme de época…só pensava “mas de onde é que saíram todas estas coisas”. Estava a adorar e apetecia-me levar quase tudo. Por pouco que não iniciei uma profissão de restaurador. E esta era apenas uma secção. Existiam outras, umas de animais, outras de plantas, artigos para casa de banho, produtos da horta, queijos e enchidos, sem faltar a roulote das farturas pelo meio, mais plantas e enchidos, e depois frutos secos, tudo tão misturado, que no final parece quase perfeito. Não fosse o tempo estar contado (tínhamos uma visita marcada a seguir), assistia ao final da feira (acho que não tem fogo de artificio, mas ficava até acabar). Ainda andámos por lá uma 1h30m e, sinceramente, nem dei pelo tempo passar. Do melhor e mais genuíno que Estremoz tem para oferecer. Ah…ainda trouxe 10 queijos e 1kg de castanhas para casa. (ainda tive a olhar para uma  laranjeira, mas ficou lá 😉 ).

Next stop: Herdade das Servas. Uma das muitas adegas de Estremoz e uma espécie de Santuário para quem gosta de vinho. Super bem cuidada, sem descurar o traço tradicional. Parece (talvez até é) um cenário de filme. O edifício principal divide-se em 3, com loja de vinhos, restaurante e, claro, adega. Fizemos a visita guiada, com a simpática Mafalda. A “fábrica” de vinho está bem preparada para receber pessoas e dá para perceber podo o processo até chegar à garrafa. Pena ser sábado e não estar ninguém a trabalhar na adega. Mas, por outro lado, soube bem o silêncio do local de estágio (do vinho) e tê-lo só para nós, entre as centenas de barricas de vinho, onde o cheiro não engana (aquele cheiro bom de adega, se ainda não foram, vão já amanhã visitar uma, que não sabem o que andam a perder). É bom material. Apesar de durante esta visita só termos falando com a Mafalda, sente-se o amor desta gente pelo vinho, acho (eu sei, sou um romântico), sinceramente, que é por isso que sai tão bom. Está-lhes no sangue, passa de geração em geração, faz parte do tudo o que sempre conheceram e tratam de forma natural. Muito bom. E, uma visita a uma adega sem provar vinho, é daquelas coisas que deveria ser proibida por lei. É claro que nos sentamos à mesa e provamos 3 vinhos da casa. Um tinto, um alvarinho (muito bom) e um rosé (não sou fã, mas este até me soube bem). Como sou um rapaz old school, se passasse a tarde toda a beber do tinto, era uma pessoa feliz  (não sejam malandros, que não estou a pensar no efeito).

A adega já estava vista, a loja também, só ficava a faltar o restaurante. E se por todos os outros lugares por onde passamos em Estremoz ninguém brincou à comida, aqui, até mítico Bud Spencer (já falecido, mas continuo a idolatrá-lo), conhecido pela sua forma física e força ao nível do Hulk (não o do Porto, mas aquele verde), diria que estava cheio e que não iria conseguir comer as migas até ao fim. Muito bom, mas acho que levaria dois dias, para conseguir comer tudo o que colocaram na mesa. Mais uma vez, queijos, enchidos de toda a espécie, pão (meu Deus, o pão), azeitonas, sonhos de farinheira, enfim…um banquete do Alentejo. Mais uma vez, já parti cheio para a segunda parte. Com os pratos principais, fomos ao fundo da questão e pedimos de olhos fechados “o mais típico que tiver aí!”. Cação de Coentrada e Migas com Entrecosto. Alentejo old school, no seu melhor. Tudo isto acompanhado por um tinto da Herdade das Servas (aqui, até parecia mal existir outro). Mais uma vez o relógio parou. Para terem uma noção, já estava a escurecer quanto saímos da Herdade e demos por terminado o almoço. Neste ponto é que o Alentejo é incomparável com outro lugar qualquer (pelo menos que eu conheça), a mesa parece que tem cola, e, por momentos, penso que poderia viver nela para sempre. Muito bom e todos muito simpáticos.

A Herdade das Servas fica a cerca de 4km de Estremoz. Viagem feita, para ficar pelo Pateo dos Solares. Quase que nem demos por ela e já estávamos sentados à mesa outra vez (!!!). Desta vez no restaurante do hotel. Acho que nem fiz a digestão, continuou tudo no mesmo processo. Mais uma vez sem falhar. Pedimos por favor para nos darem meias-doses, mas ninguém nos deu ouvidos. Sempre com um sorriso sincero e orgulhoso, como que a dizer “no Alentejo é assim”. Voltando à comida 🙂 mais um clássico, Sopa de Tomate Alentejana. A fome voltou à primeira colherada. Tão boa, que até parecia mal ficar algum bocadinho no prato. 

Para bem da nossa saúde, esta refeição foi mais curta que as anteriores. Sem faltar mais um pequeno passeio noturno pelas redondezas do hotel (para ajudar na digestão).

Na manhã seguinte já bem próximo da partida, não quisemos deixar de conhecer o ponto com melhor vista de Estremoz. A Torre do seu Castelo, hoje convertido em Pousada, mas com todas as áreas comuns visitáveis. Uma paisagem muito bonita. Ainda existiam mais alguns pontos que gostaríamos de conhecer por aqui, mas o fim de semana estava a acabar e é sempre bom deixar alguma coisa para a próxima visita.

Fim de semana em Estremoz, com Pateo dos Solares+Mercearia Gadanha+Herdade das Servas+Mercado de Estremoz é uma experiência memorável…que não vai ficar indiferente a ninguém (mesmo para quem já conhece o Mundo inteiro). Se forem como eu…bem, já estou a contar os dias para voltar.

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