Existem lugares que são especiais. Alguns tocam-nos de um forma que poucos conseguem entender. Outros, por sua vez, nascem especiais, uma espécie de talento puro, impossível de dar errado. É isso que sinto sobre a aldeia de Monsanto. Nasceu com um talento imensurável, sendo muito difícil de não tocar no coração de quem a visita. Estive em Monsanto e fiquei na Casa do Miradouro.

Era início de tarde quando cheguei a Monsanto. Sentia-se um calor forte de inicio de Verão, muito comum neste território raiano a dois passos da vizinha Espanha. Nem uma brisa soprava. Deixo o carro no parque à entrada da aldeia, uma espécie de primeira plataforma, antes de entrar no coração da mesma. É difícil (ou impossível) circular de carro pelas apertadas ruas de Monsanto. Um labirinto, onde as paredes são casas de pedra, cuidadosamente cuidadas, quase todas com belos arranjos florais no exterior, a contrastar com cinzento frio da pedra. No topo do labirinto está o castelo. Uma ruína graciosa, onde qualquer tentativa de reconstrução não seria bem-vinda. Está muito bem assim. Caminho pelas ruas da aldeia com as minhas malas, até encontrar a Casa do Miradouro. A aldeia está bem sinalizada, mas não é um bem necessário. Na sombra de cada casa está um pequeno banco de pedra, aí, a cada esquina se junta o verdadeiro coração do Monsanto. As pessoas. Foi num desses, bancos, à porta de sua casa, que encontrei a dona Conceição. Proprietária da Casa do Miradouro.

A dona Conceição vez o trajecto de tantos outros, nasceu por ali, migrou para Lisboa, para mais tarde voltar à casa de partida. Estes regressos de coração tornam a coisa mais sentida. Muitas vezes digo o novo luxo está na experiência, e se vou a Monsanto, a melhor experiência que posso ter é viver como alguém de Monsanto. E foi isso que encontrei na Casa do Miradouro. Uma casa no coração de Monsanto, de pedra, feita com o amor de quem está ligado à terra. Mesmo à terra. Quando isto acontece, é sempre o bom começo.

Monsanto, para mim, não é lugar para uma visita curta. É icônico, sim. Impressiona nos primeiros olhares. Mas o verdadeiro Monsanto é para se sentir, não só para se ver. É para explorar cada rua, sem pressa de chegar ao seu final. É interpretar as histórias que tempo não apagou. É conversar com as pessoas nos bancos de suas casas, aproveitando cada sopro fresco de sabedoria, sem olhar para o relógio. É ouvir o som do adufe, tão ligado a esta terra. É assistir ao pôr do sol no topo do castelo, sem pinga de ruído, onde calmamente as luzes da aldeia se iluminam, formam um conjunto daqueles que apenas pensávamos que existiriam noutro lugar, que julgávamos não existir. Isto é viver Monsanto, é ficar ligado a ele.

Durante 3 dias, não coloquei um pé fora de Monsanto. Acordava bem cedo, para assistir ao nascer do sol. Recebia mais tarde a Dona Conceição, na minha (sua) casa, para tomar um delicioso pequeno almoço, com tudo do melhor que a região tinha para oferecer, e que região tão rica, desde a cereja ao queijo, e ouvir a suas histórias, da sua vida, das suas viagens, dos viajantes que a visitavam e das pessoas ilustres de Monsanto. Muito bom. Mais tarde subia ao castelo, para ver uma planície sem fim (deveria ser difícil aos bandidos invasores, passarem despercebidos na aproximação a Monsanto). Voltava a descer as ruas da aldeia, sem cruzar os mesmos caminhos. Jantava cedo no Petiscos & Granitos ou na Taverna Lusitana. Dois restaurantes muito giros, bem no centro da aldeia. Subia novamente ao castelo, e aí, tal como num anfiteatro, assistia ao entrar gracioso da noite. Voltava a caminhar para o centro da aldeia, quase que literalmente, à luz das velas. Imaginava como seria esta aldeia à 100, 200, 300 anos atrás. Lentamente via o dia a acabar, no silêncio do belíssimo terraço da Casa do Miradouro.

Não vejo a hora de voltar. Marcou-me


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Monsanto
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