Herdade da Sanguinheira, Longomel, Ponte de Sor, Alto Alentejo, Portugal.
Cheguei à Herdade da Sanguinheira na véspera do dia 25 de Abril, ao inicio da tarde, num bonito dia de Primavera. Fica a pouco mais de 25 minutos de distância de minha casa (de carro), e mais uma vez senti aquela ansiedade boa de descobrir algo novo, bem junto à porta de minha casa. Conduzi por estradas secundárias, que tanto gosto. Vidro aberto, braço meio de fora e um assistir à paisagem a mudar lentamente. Deixei a paisagem do Tejo e das terras férteis para trás, e entrei numa zona de montado, na clima romântico que só o Alentejo sabe oferecer. Passei pelas aldeias de Vale das Mós, Rosmaninhal e Longomel, até encontrar a placa a indicar o desvio para a Herdade. Mais 3/4km em estrada de terra batida, com estive a entrar numa espécie de universo paralelo que me permitiria desligar do Mundo. Cheguei à Herdade da Sanguinheira.
Fica num lugar muito especial. Hoje, administrativamente, pertence ao concelho de Ponte de Sor e à sub-região do Alto Alentejo. Mas o terreno da Herdade, cerca de 150ha, está em zona de fronteira com os concelhos de Abrantes e Gavião, e é território que, outrora, já pertenceu à antiga província do Ribatejo. Uma mistura de influências, com tendência a tornar lugares, em lugares especiais. Podemos dizer que esta Herdade tem cara alentejana e coração ribatejano (ou ao contrário, não interessa). Bem pertinho da Sanguinheira, ainda fica a albufeira da Barragem de Montargil e, por exemplo, as vilas de Chamusca e Golegã, bem no coração do Ribatejo dos cavalos e dos touros. Lá está a história das misturas outra vez.
A Sanguinheira pertence ao casal João e Ana Patrícia há cerca de 2 anos. São sensivelmente da minha idade e, certamente, aventureiros como eu. Foi o João, seu pai e seu irmão que me receberam neste dia. O lugar é muito bonito, a região sofre influências de várias culturas e eu adoro isso, mas nada se equivale a ser recebido, como se recebe alguém em sua casa. E é disto que estamos aqui a falar, receber alguém em sua casa. Rapidamente a fronteira do negócio se esbate, quase tão rapidamente nos sentimos em nossa casa e quase tão rapidamente ficamos amigos do João e de sua família. E é isto meus amigos, o novo luxo da hotelaria. A experiência. E quanto mais genuína ela for, mais valor ela tem. Está aqui ouro a luzir, porque a Herdade da Sanguinheira é feita com o coração.
Como já perceberam rapidamente criei uma afinidade com este lugar. Que outrora teve a sua base na criação de cavalos, com bem revelam as cercas de 30 boxes e picadeiro que ainda existem na Herdade. Hoje sem cavalos. Paralelamente ao antigo centro hípico, estruturas do passado recente mantêm-se, um edifício mãe bem cuidado, com jardim, terraço e uma, muito agradável, piscina. Onde se encontram 3 casas para hospedes e espaços comuns, como a zona de refeições e recepção. A certa de 50m deste edifício principal ficam duas casinhas, no cimo de um pequeno socalco, que completam o total de 5 habitações para hospedes da Herdade. Foi uma dessas casinhas, do cimo do monte, que me calhou em sorte. É literalmente uma casa. Tem cozinha equipada, sala, dois quartos e duas casas de banho, e uma esplanada com vista para o Alto Alentejo. Maravilha. Rapidamente me instalei e desliguei. Aqui o tempo passa bem mais devagar. Deixei o telemóvel para trás e fui caminhar pela Herdade. Apesar de eu muitas vezes fazer estes retiros, é sempre um carregar de bateria. Pelo menos é isso que sinto. A falta de barulhos faz-me ouvir melhor e a falta de artificialismos faz-me ver melhor, o que leva a que, consequentemente, consiga pensar melhor. Tudo isto que disse pode confundir-se com a expressão “qualidade de vida” ou pelo menos um complemento essencial.
Entre caminhar junto a ovelhas e ouvir o vento de final de tarde das árvores, finalizei o dia com uma conversa com o João, na esplanada junto à piscina. Entre a conversa, deu para assistir ao pôr do sol, com tempo a passar de devagar. Esta malta vive mais 100 anos. É incrível assistir ao pôr do sol num grande espaço aberto, sem casas ou outras coisas a atrapalhar o momento. É de uma serenidade sem preço. Voltei à minha casinha para jantar e para dormir que nem um anjinho (que não sou…mas gosto da expressão).
O acordar foi, literalmente, com os pássaros na janela. Não conseguido interpretar os sons produzidos, mas acredito (ou quero acreditar) que a intenção fosse dizer “está um bonito dia cá fora, toca a levantar” (acho que no Inverno, dos dias cinzentos, eles dizem contrário, “deixa-te ficar na cama”…é tudo uma questão de interpretação). Eram cerca de 8h30 e lá caminhei eu para o edifício principal, não para tomar o pequeno almoço, mas para recolher um cesto de verga com número da minha casinha, com o meu pequeno almoço. Com o cesto na mão existem múltiplas hipóteses, pequeno almoço junto à piscina, na casinha ou um estender a toalha e escolher um lugar especial nos 150ha de herdade. Devia estar rabugento, escolhi o pequeno almoço na casinha. Mas mesmo na casinha, comi, descansadamente, com vista para o glorioso montado do Alto Alentejo.
Estava a chegar a hora da partida e aqui rapidamente o tempo acelera. Existem lugares que facilmente ou rapidamente me tocam, e este foi um deles. Por ter quase contornos de segredo, por confluir várias culturas, pela simpatia e generosidade das pessoas, ou provavelmente por tudo isto junto, fica na cabeça e no coração. Entre abraços e promessas de regresso rápido, lá me despedi do João. Voltei à estrada de terra batida. Passados 3/4km senti-me a sair do universo paralelo, onde tinha entrado no dia anterior. Estranhei a primeira buzinadela.
PARA CONHECER PERTO DA HERDADE
#ABRANTES – fica a cerca de 30km e é a minha cidade. Só o facto de me poderem encontrar, já vale a visita (brincar). Podem e devem visitar o centro histórico, assim como um passeio na zona ribeirinha junto ao rio Tejo.
#GAVIÃO – a minha recomendação vai para uma visita à praia fluvial do Alamal. Muito bonita. Fica entre a barragem de Belver e Gavião. O rio Tejo corre de maneira graciosa e imponente por aqui. Uma fotografia a apanhar a praia, o Tejo e o Castelo de Belver, fica bem em qualquer álbum.
#PONTE DE SOR – fica a cerca de 10km da Herdade. Um passeio junto à ribeira de sor, bem no centro da cidade, para abrir o apetite, para um jantar de migas com entrecosto, ou uma açorda de bacalhau (sim, isto é Alentejo…come-se muito bem), num dos restaurantes que existem por ali, não é programa recomendado. É programa obrigatório.
CONTACTOS
Herdade da Sanguinheira
Longomel | 7400 453 Ponte de Sor
Coordenadas
N39.365368º, W7.992650º