Idanha-a-Velha. Esta aldeia raiana, localizada a poucos quilómetros da fronteira com Espanha, com pouco mais de 20km2 e cerca de 70 habitantes, já foi romana, sueva, visigoda, muçulmana e cristã. Esta constante troca de mãos, é comum a muitos lugares do nosso antigo país. O que faz a diferença nesta pequena aldeia, é ficou esquecida durante, talvez, centenas de anos. Facto que levou a que permanecessem, quase intactos, vestígios e património, desde o tempo da sua fundação. Facto raro, que a torna muito especial nos dias de hoje. Para mim, que passo a vida a sonhar e a imaginar coisas, com um gosto especial por história, chegar a Idanha-a-Velha é sempre iniciar uma viagem no tempo. No final de cada viagem (ou visita), a estupefação é sempre a mesma. Que raio de lugar especial é este?

Poderia começar por enumerar os múltiplos pontos de interesse histórico que a aldeia tem, como a Porta Norte e sua muralha adjacente, construída por romanos e recuperada por muçulmanos. Também poderia mencionar a capela de São Dâmaso, com vista para o rio Pônsul, cuja construção em 1748 visou honrar a memória o Papa Dâmaso I, Papa cujo o pontificado durou 18 anos com inicio no ano 366, que, segundo rezam as lendas, nasceu em Idanha-a-Velha, que na altura era uma cidade em ascensão do Império Romano. Já que mencionei estes dois pontos, não poderia deixar de referir a Sé Catedral ou Igreja de Santa Maria, localizada junto à porta Sul, que foi local de diferentes cultos, cristão e islâmico. Conseguem imaginar as histórias que as fundações deste magnifico edifício já viveu? E a Ponte Romana? Sim, não posso esquecer a Ponte Romana. Atravessa o rio Pônsul, com objectivo de estreitar caminho para uma importante via romana do passado, que ligava as importantes cidades de Mérida e Braga, com passagem por Idanha-a-Velha. Poderia ainda enumerar mais 10 ou 15 pontos, capazes de fazer um historiador (ou qualquer pessoa) delirar. Mas para mim, muito mais do que uma lista, interessante, de pontos de interesse, ou de monumentos visualmente impactantes para o mais ingénuo dos olhares, Idanha-a-Velha está viva, não é um museu ou algo historicamente intocável. É algo que não está parado e que ainda terá algo para acrescentar. Vivem cerca 70 pessoas nesta aldeia e apesar de tudo o que, historicamente importante, se viveu e construiu por aqui, são estas pessoas que dão sentido real a este lugar. É muito interessante assistir às conversas de algibeira entre vizinhas ou homens a deslocarem-se ao único café da aldeia, depois de um dia de trabalho, quase como um ritual. Também muito interessante é olhar para o solar apalaçado, gigante, que ocupada todo um quarteirão, bem no centro da aldeia. Apesar de inacabada, e agora abandonada, é impossível não cruzar o olhar com este espaço e imaginar o que por lá se viveu e se sonhou. É a Casa Marrocos, que pertencia a uma importante família da região do inicio do séc. XX. Portanto, será a mais recente história do legado de Idanha-a-Velha. E que, apresenta já um olhar para o futuro. Já que esta Casa Marrocos, que agora pertence ao município de Idanha-a-Velha, vai dar lugar a um hotel, que promete honrar toda esta longa e interessante vida de Idanha-a-Velha. Consta-se que a Casa Marrocos, tenha sido construída sobre um antigo Fórum Romano, com 2000 anos de (muitas) histórias a separar as duas construções.   

Outro ponto interessante de observar, na rotina diária da aldeia, é o cruzar dos locais com os arqueólogos, historiados e escritores, que ali buscam inspiração para o seu trabalho e para a descoberta de novas histórias sobre a vida passada e recente da aldeia. Na aldeia existe uma espécie de residência artística permanente ou oficina de arqueologia, edificada nos antigos palheiros de São Dâmaso. Digam-me lá se não enche de orgulho a todos os portugueses, assistir a alguém, vindo do outro lado do mundo e mestre na sua arte, ficar de boca aberta com uma pequena aldeia, que já foi muçulmana, romana, visigoda ou sueva, para ali viver durante uns tempos, numa residência, que já foi um palheiro com um nome de Papa, que não só ali viveu, como ali nasceu. É sempre um bom mote, para o inicio de uma boa história. E depois ver esses mesmos arqueólogos, a dançar com os locais nas festas de Verão da aldeia, que é histórica, acho que até mesmo eles, nem se apercebem da importância que esse tipos de encontros, simbolicamente representa. É, acima de tudo, um valorizar de quem lá vive. Um simples, “sentir-me especial, por fazer parte de uma história especial”. Acredito que serão esses momentos, também entre conversas entre muros na aldeia, com partilha de histórias de antepassados, quase impedindo a chama da fogueira, que representa a história da aldeia, se apague.  São esses momentos de construção que farão com a história deste lugar continue a ser construída. 

Depois de um dia passado em Idanha-a-Velha, a cruzar olhares e histórias, com os locais que toda a vida ali viveram, com os turistas que por ali circulam, e com os artistas e criativos, que por ali se inspiram, fiquei com aquela sensação que tinha acabado de sair de uma viagem com várias camadas. Não acredito que existam no mundo muitos lugares como este. Onde um exíguo espaço dimensional, contempla histórias de épocas tão distintas e tão bem contadas. Ao sair da aldeia pela Porta Norte, já com noite a tomar o lugar do dia, imagino o último romano a sair da aldeia. Talvez tenha partido em direção a Mérida, talvez tenha partido a lamentar nunca mais poder voltar a ver a sua Egitânia (antiga denominação da aldeia), talvez tenha partido para conquistar outra cidade, ou talvez tenha saído amordaçado e prisioneiro de um grupo de bárbaros vindos no Norte da Europa. Por acaso imaginei o último romano, talvez por terem sido os romanos os fundadores da aldeia. Mas também poderia ter imaginado com teria sido a saída de um bárbaro, visigodo, suevo, muçulmano, templário, ou alguém da casa real portuguesa, ou alguém da abastada família Marrocos. Percebem a graça que este lugar tem?

Não vejo a hora de voltar, para mais uma viagem no tempo.

Idanha-a-Velha

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Urban Sketch

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Fora do Lugar

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