Brava, ilha de Cabo Verde.
Saí da ilha do Fogo já noite. A viagem de ferry dura pouco mais de 30 minutos. Já tiva visto Brava ao longe, a partir do Fogo, mas pouco sonhei com ela. No barco, com caracteres gregos, com a janela junto ao meu banco apenas a representar um vazio escuro, apenas sentia o longo balançar do barco na ondulação do mar cabo-verdiano. Cheguei ao porto da brava ainda meio às escuras, e preocupado com o destino da minha bagagem. Bagagem encontrada, entrar num hiace e viajei para Nova Sintra, a cidade da ilha. Naquele dia não conheci muito além da rua do meu hotel. Apenas senti o cheiro da Brava e gostei.
No dia seguinte, com pouco mais de meio dia para conhecer a especial ilha Brava, foi seguir o mesmo processo cabo-verdiano, entrar numa hiace e deixar-me ir. A ilha é pequena e desnivelada, mas o carisma tocante. Tudo parece genuíno. Talvez pela dificuldade do acesso, talvez por não ser um ponto de rota turística, talvez por um grande conjunto de razões políticas e estruturais. Tudo parece estar quase igual ao que era há 100 anos atrás. E talvez seja essa uma das principais bênçãos da Brava. Parece uma planta, bonita, que nunca levou qualquer químico. Nasceu e cresceu naturalmente, braviamente. Toda esta genuinidade sente-se na paisagem, na comida, na cultura, na arquitectura e, sobretudo, nas pessoas. Em todas as ilhas (que visitei) de Cabo Verde encontrei pessoas boas e simpáticas, mas na Brava vi nas suas gentes dos olhares mais ternurentos com os quais já me cruzei em viagem.
Fiz quilómetros contornando a ilha. Subi aos pontos mais altos, visitei baías de sonho, bebi uma cerveja num tasco local, visitei aldeias, comi um pelo peixe que ainda cheirava a mar e levei com o vento e com o cheiro de África. Estive pouco tempo, mas vivi-o bem. Fossem sempre assim, todos os momentos da vida.
Já no barco de regresso ao Fogo, fiz a tal jura de amor, tão típica dos romances fugazes: “Prometo voltar, Brava!”