Existe caminho para ser percorrido. A chegada não coincide com a partida. É importante chegar, não como o momento mais importante, mas como o finalizar de um caminho, de um objetivo.
Encontrei esta senhora a finalizar o seu caminho. A sua expressão carregava dor, não a dor do caminho, muito provavelmente a dor que a levou a fazer este caminho. Olhava levemente para ela, num misto de pena e admiração. Depois olhava para mim, e não me sentia bem no papel de “observador” de dor alheia. Mas não conseguia desviar o olhar, tentar imaginar a causa da dor desta pessoa. Fátima transporta-nos para estas viagens, talvez suavizando a nossa dor com pensamentos do tipo “existem pessoas com problemas maiores que os meus”.
Entranto, a senhora terminou o seu caminho, de joelhos até à Capelinha das Aparições, levantou-se calmamente, sem mudar a expressão, arrumou as joelheiras dentro de uma bolsa e alguém, assumo que familiar, a abraçou. A expressão mudou nesse momento, quase como uma injeção de tranquilidade. Acredito que tenha sido muito importante chegar.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.