Jerusalém

 

Jerusalém, a terra santa. Pode dizer-se que é uma espécie de centro religioso do mundo (ou um dos maiores), sendo um lugar sagrado para três religiões distintas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Consegue-se perceber-se, facilmente, e só por este facto, que é e foi um dos lugares mais apetecíveis (é difícil arranjar um único adjetivo para qualificar este lugar) do ponto de vista da posse. É e foi, por isso, palco de conquistas e reconquistas, ao longo de toda a sua história. Estive lá no passado mês de Outubro e mesmo com o passar dos dias, ainda me é difícil perceber e dar voz à minha experiência chamada Jerusalém. É, sem dúvida, um dos lugares mais extraordinários, e ao mesmo tempo estranhos, do mundo. 

Ora bem, uma breve história de Jerusalém, assim para contextualizar a coisa. Vou reforçar, breve história. A história deste lugar é tão longa, com tantas variantes e com tantas personagens importantes, que é facílimo uma pessoa perder-se nela. Começando pelo início, assim como todas as boas histórias. A sua lenda inicia-se como cidade Jebusita, isto bem fundo na era a.C., sendo depois conquistada por David que fez de Jerusalém capital do Reino de Israel e Judah (como este momento há mais de 3000 anos ainda têm tanta influência nos dias de hoje). Após a morte do rei David, iniciou-se o reinado do seu filho Salomão, que construiu o famoso Templo de Salomão, que mais tarde deu lugar ao Templo de Herodes, do qual ainda sobrevive uma peça bem conhecida chamada Muro das Lamentações. Com a morte do Rei Salomão, o Reino de Israel e Judah divide-se formando dois reinos, o de Israel e o de Judah, ficando Jerusalém como capital do Reino de Judah. Pouco tempo mais tarde, a Assíria conquista o Reino de Israel, assim como Judah e Jerusalém, consequentemente. Depois existiu uma série que conquistas e reconquistas, com gregos e arquemênidas à mistura, até que por volta do ano 63 a.C. aparece o Império Romano na jogada. O general Pompeu Magno, que andava em guerra com Júlio César, conquistou vários territórios a Oeste de Roma, na esperança de reforçar o poder. Um desses territórios foi Jerusalém, que por volta do ano 40 a.C. passou a pertencer ao território, renomeado, de Judeia, como uma província romana. Por volta do ano 30 d.C., com Pôncio Pilatos como governador de Judeia, dá-se, muito provavelmente, o acontecimento mais “famoso” da história de Jerusalém, a crucificação de Jesus de Nazaré, mais conhecido como Jesus Cristo. Todos conhecemos esta história, não é? Agora vou acelerar. Jerusalém no início da era d.C. era uma cidade com inteiro traço romano, mas sempre muito contestada pelo povo judeu (conquistaram-lhes o território, dá para perceber a revolta). Entre mais uma revoltas e reviravoltas, e com Adriano como imperador romano, iniciou-se uma espécie de processo de judaização do território, proibindo todos os Judeus de entrar em Jerusalém. Esta proibição, com maior ou menor rigor, durou cerca de 8 séculos (muito tempo, não é?). No “reinado” de Adriano, a Judeia passou a denominar-se de Síria Palestiniana. 

Depois disto, e da marca do Império Romano, Jerusalém passou por diversas mãos e crenças. Foi Bizantina, Templária, Persa, Islâmica ou Otomana. Lugar de muito sangue e muitas batalhas, onde foram construídas, como camadas, diferentes culturas. Esse legado, embora a intenção de quem chegava de novo fosse destruir tudo o que ligava a cidade ao seu antecessor, foi permanecendo no tempo, a grande escala e bem visível como o Muro das Lamentações ou o Santo Sepulcro, ou em pormenores, normalmente escavados, de vestígios do inicio dos tempos. A história contemporânea de Jerusalém, isto nos últimos 100 anos, começou com a conquista da cidade pelos britânicos e com a administração da cidade pela Palestina, vivendo, no início do séc. XX, em constantes divisões religiosas, entre Muçulmanos e Judeus. No ano de 1948, e já com os britânicos fora da jogada, Israel declara independência, fruto do fulgor conquistado com o final da 2a Grande Guerra Mundial. E tudo muda novamente. Em 1967, acontece a Guerra dos 6 dias, entre o recém criado Estado de Israel e os estados vizinhos Árabes, com particular destaque para o Egipto. Israel conquista e ocupa Jerusalém, passando esta a ser a capital deste Estado, e ao mesmo tempo, capital 

do futuro Estado palestiniano. Situação que com maior ou menor discussão, se mantém até aos dias de hoje.Bem, por tudo isto, visitar Jerusalém é quase como uma viagem de uma vida, dada a importância histórica deste lugar. Quando me refiro a Jerusalém particularizo, sobretudo, a Cidade Velha de Jerusalém. Jerusalém é um tema que divide opiniões e gera discussões. Vou manter-me neutro e focar-me mais nas sensações e emoções, e claro, na grandeza histórica deste lugar inigualável. 

Era bem cedo quando entrei pela porta de Jafa. Uma das 8 portas da Cidade Velha. Isto em Outubro de 2018. E a cada passo, a já agitada mini cidade muralhada, parecia em silêncio. Sentia- me a entrar numa bolha, muitas vezes adjetivada em filmes de fantasia como universo paralelo. O que estava a viver, as pedras por onde caminhava, as muralhas que atravessara, eram reais. Mas sentia-me num filme que incorporava o conceito de viagem no tempo. O impacto visual é grande, mas esta viagem e consequentes emoções também são fruto de todas as milhares de histórias que ouvi sobre este lugar durante a minha existência. A gestão das expectativas nem se colocou, o lugar amarrou-me no primeiro segundo. 

A Cidade Velha, toda entre muralhas, está dividida em 4 bairros. O Cristão, o Muçulmano, o Judeu e o Arménio. Neles existem 3 crenças distintas. O Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. Não é necessário placas a identificar os bairros. Tudo se vê e tudo se sente, com bastante clareza. Não procurei seguir um roteiro ou fazer um check em lugares obrigatórios. Sentia-me a navegar pelas ruas, quase como estar dentro de um labirinto, mas onde o objetivo não era encontrar a saída. Nesta “navegação” passei por todos os bairros. Toquei no Muro das Lamentações, estive no suposto local da Última Ceia, percorri todas as estações da Via Dolorosa, bebi um? e (,) comprei uns souvenirs no Bairro Muçulmano, comi um falafel no Bairro Arménio, fiquei, literalmente, fechado no Santo Sepulcro (apanhei uma procissão a meio da visita e fecharam todas as portas), percorri as ruas do Bairro Judeu, falei com pessoas de diferentes culturas e crenças, e naveguei, naveguei muito. Pelo presente e pelo passado. Já tinha estado em outros lugares religiosamente imponentes, mas nada comparado com Jerusalém. Existem muitos turistas, muitos peregrinos, muitos curiosos. Mas este não é um lugar imaculado ou transformado para turista ver. É um lugar real e quase que diria, transparente ou cru. E muito intenso. Não é uma peça de teatro, é uma história real. Sentia-me absorvido por tudo, por cada pormenor. 

Esta visão é muito cinematográfica, talvez eu seja assim, mas até me sentia fraco com o avançar do dia. Sim, parece quase a saga do Frodo com o seu anel (sim, estou a falar do Senhor dos Anéis). Não sou muito espiritual, sentia-me quase que apoderado pelo lugar. Apesar das expectativas serem muitas, e muito altas, tal como já referi, rapidamente foram superadas. Mas apesar disso, nada era como imaginava. O Santo Sepulcro é dos lugares mais frios e obscuros onde já estive. A minha ideia passava pelo universo de uma catedral graciosa. Mas lá está, foi quase como meter toda a mão na ferida. É um lugar transparente e sem folhetos turísticos. O Bairro Judeu e o seu muro famoso, é arrepiante. Não pela arquitetura, mas pelo choque cultural. Os judeus ultra- ortodoxos, são um povo diferente. Um diferença tão grande, que fugiu completamente às minhas expectativas. O Bairro Muçulmano parece uma teia, ao nível de um rolo compressor. É arrebatador e intenso, como em todos os países árabes, mas com algo de diferente que ainda não consigo definir muito bem. Apesar de todas estas diferenças, entre culturas e crenças, todos circulam pelos bairros uns dos outros. Não me parece que exista uma relação, mas parece-me que existe algum respeito. 

Já com a luz do dia a cair, voltei a sair pela porta de Jafa. Foi como a bolha rebentar e voltar a ouvir e a ver. A “outra” Jerusalém, não a da Cidade Velha, é uma cidade cosmopolita. Mas a Cidade Velha, bem, essa é outro mundo. Tenho de voltar para viver tudo de novo. Mas desta vez 

mais preparado para o que vou encontrar. Talvez encontre mais respostas para as emoções recebidas.

 

Jerusalém, a terra santa. Pode dizer-se que é uma espécie de centro religioso do mundo (ou um dos maiores), sendo um lugar sagrado para três religiões distintas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Consegue-se perceber-se, facilmente, e só por este facto, que é e foi um dos lugares mais apetecíveis (é difícil arranjar um único adjetivo para qualificar este lugar) do ponto de vista da posse. É e foi, por isso, palco de conquistas e reconquistas, ao longo de toda a sua história. Estive lá no passado mês de Outubro e mesmo com o passar dos dias, ainda me é difícil perceber e dar voz à minha experiência chamada Jerusalém. É, sem dúvida, um dos lugares mais extraordinários, e ao mesmo tempo estranhos, do mundo. 

Ora bem, uma breve história de Jerusalém, assim para contextualizar a coisa. Vou reforçar, breve história. A história deste lugar é tão longa, com tantas variantes e com tantas personagens importantes, que é facílimo uma pessoa perder-se nela. Começando pelo início, assim como todas as boas histórias. A sua lenda inicia-se como cidade Jebusita, isto bem fundo na era a.C., sendo depois conquistada por David que fez de Jerusalém capital do Reino de Israel e Judah (como este momento há mais de 3000 anos ainda têm tanta influência nos dias de hoje). Após a morte do rei David, iniciou-se o reinado do seu filho Salomão, que construiu o famoso Templo de Salomão, que mais tarde deu lugar ao Templo de Herodes, do qual ainda sobrevive uma peça bem conhecida chamada Muro das Lamentações. Com a morte do Rei Salomão, o Reino de Israel e Judah divide-se formando dois reinos, o de Israel e o de Judah, ficando Jerusalém como capital do Reino de Judah. Pouco tempo mais tarde, a Assíria conquista o Reino de Israel, assim como Judah e Jerusalém, consequentemente. Depois existiu uma série que conquistas e reconquistas, com gregos e arquemênidas à mistura, até que por volta do ano 63 a.C. aparece o Império Romano na jogada. O general Pompeu Magno, que andava em guerra com Júlio César, conquistou vários territórios a Oeste de Roma, na esperança de reforçar o poder. Um desses territórios foi Jerusalém, que por volta do ano 40 a.C. passou a pertencer ao território, renomeado, de Judeia, como uma província romana. Por volta do ano 30 d.C., com Pôncio Pilatos como governador de Judeia, dá-se, muito provavelmente, o acontecimento mais “famoso” da história de Jerusalém, a crucificação de Jesus de Nazaré, mais conhecido como Jesus Cristo. Todos conhecemos esta história, não é? Agora vou acelerar. Jerusalém no início da era d.C. era uma cidade com inteiro traço romano, mas sempre muito contestada pelo povo judeu (conquistaram-lhes o território, dá para perceber a revolta). Entre mais uma revoltas e reviravoltas, e com Adriano como imperador romano, iniciou-se uma espécie de processo de judaização do território, proibindo todos os Judeus de entrar em Jerusalém. Esta proibição, com maior ou menor rigor, durou cerca de 8 séculos (muito tempo, não é?). No “reinado” de Adriano, a Judeia passou a denominar-se de Síria Palestiniana. 

Depois disto, e da marca do Império Romano, Jerusalém passou por diversas mãos e crenças. Foi Bizantina, Templária, Persa, Islâmica ou Otomana. Lugar de muito sangue e muitas batalhas, onde foram construídas, como camadas, diferentes culturas. Esse legado, embora a intenção de quem chegava de novo fosse destruir tudo o que ligava a cidade ao seu antecessor, foi permanecendo no tempo, a grande escala e bem visível como o Muro das Lamentações ou o Santo Sepulcro, ou em pormenores, normalmente escavados, de vestígios do inicio dos tempos. A história contemporânea de Jerusalém, isto nos últimos 100 anos, começou com a conquista da cidade pelos britânicos e com a administração da cidade pela Palestina, vivendo, no início do séc. XX, em constantes divisões religiosas, entre Muçulmanos e Judeus. No ano de 1948, e já com os britânicos fora da jogada, Israel declara independência, fruto do fulgor conquistado com o final da 2a Grande Guerra Mundial. E tudo muda novamente. Em 1967, acontece a Guerra dos 6 dias, entre o recém criado Estado de Israel e os estados vizinhos Árabes, com particular destaque para o Egipto. Israel conquista e ocupa Jerusalém, passando esta a ser a capital deste Estado, e ao mesmo tempo, capital 

do futuro Estado palestiniano. Situação que com maior ou menor discussão, se mantém até aos dias de hoje.Bem, por tudo isto, visitar Jerusalém é quase como uma viagem de uma vida, dada a importância histórica deste lugar. Quando me refiro a Jerusalém particularizo, sobretudo, a Cidade Velha de Jerusalém. Jerusalém é um tema que divide opiniões e gera discussões. Vou manter-me neutro e focar-me mais nas sensações e emoções, e claro, na grandeza histórica deste lugar inigualável. 

Era bem cedo quando entrei pela porta de Jafa. Uma das 8 portas da Cidade Velha. Isto em Outubro de 2018. E a cada passo, a já agitada mini cidade muralhada, parecia em silêncio. Sentia- me a entrar numa bolha, muitas vezes adjetivada em filmes de fantasia como universo paralelo. O que estava a viver, as pedras por onde caminhava, as muralhas que atravessara, eram reais. Mas sentia-me num filme que incorporava o conceito de viagem no tempo. O impacto visual é grande, mas esta viagem e consequentes emoções também são fruto de todas as milhares de histórias que ouvi sobre este lugar durante a minha existência. A gestão das expectativas nem se colocou, o lugar amarrou-me no primeiro segundo. 

A Cidade Velha, toda entre muralhas, está dividida em 4 bairros. O Cristão, o Muçulmano, o Judeu e o Arménio. Neles existem 3 crenças distintas. O Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. Não é necessário placas a identificar os bairros. Tudo se vê e tudo se sente, com bastante clareza. Não procurei seguir um roteiro ou fazer um check em lugares obrigatórios. Sentia-me a navegar pelas ruas, quase como estar dentro de um labirinto, mas onde o objetivo não era encontrar a saída. Nesta “navegação” passei por todos os bairros. Toquei no Muro das Lamentações, estive no suposto local da Última Ceia, percorri todas as estações da Via Dolorosa, bebi um? e (,) comprei uns souvenirs no Bairro Muçulmano, comi um falafel no Bairro Arménio, fiquei, literalmente, fechado no Santo Sepulcro (apanhei uma procissão a meio da visita e fecharam todas as portas), percorri as ruas do Bairro Judeu, falei com pessoas de diferentes culturas e crenças, e naveguei, naveguei muito. Pelo presente e pelo passado. Já tinha estado em outros lugares religiosamente imponentes, mas nada comparado com Jerusalém. Existem muitos turistas, muitos peregrinos, muitos curiosos. Mas este não é um lugar imaculado ou transformado para turista ver. É um lugar real e quase que diria, transparente ou cru. E muito intenso. Não é uma peça de teatro, é uma história real. Sentia-me absorvido por tudo, por cada pormenor. 

Esta visão é muito cinematográfica, talvez eu seja assim, mas até me sentia fraco com o avançar do dia. Sim, parece quase a saga do Frodo com o seu anel (sim, estou a falar do Senhor dos Anéis). Não sou muito espiritual, sentia-me quase que apoderado pelo lugar. Apesar das expectativas serem muitas, e muito altas, tal como já referi, rapidamente foram superadas. Mas apesar disso, nada era como imaginava. O Santo Sepulcro é dos lugares mais frios e obscuros onde já estive. A minha ideia passava pelo universo de uma catedral graciosa. Mas lá está, foi quase como meter toda a mão na ferida. É um lugar transparente e sem folhetos turísticos. O Bairro Judeu e o seu muro famoso, é arrepiante. Não pela arquitetura, mas pelo choque cultural. Os judeus ultra- ortodoxos, são um povo diferente. Um diferença tão grande, que fugiu completamente às minhas expectativas. O Bairro Muçulmano parece uma teia, ao nível de um rolo compressor. É arrebatador e intenso, como em todos os países árabes, mas com algo de diferente que ainda não consigo definir muito bem. Apesar de todas estas diferenças, entre culturas e crenças, todos circulam pelos bairros uns dos outros. Não me parece que exista uma relação, mas parece-me que existe algum respeito. 

Já com a luz do dia a cair, voltei a sair pela porta de Jafa. Foi como a bolha rebentar e voltar a ouvir e a ver. A “outra” Jerusalém, não a da Cidade Velha, é uma cidade cosmopolita. Mas a Cidade Velha, bem, essa é outro mundo. Tenho de voltar para viver tudo de novo. Mas desta vez 

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