Mação, um destino improvável.
Expectativa, uma palavra tão simples que faz o nosso coração vibrar de emoção antes do início da próxima viagem. Tudo a ver com sonhos. Na face oposta, a mesma palavra, pode ter o efeito inverso (a chamada expectativa nula). O que pode levar a nem sequer embarcarmos na aventura da próxima viagem (pelo menos para aquele destino). Por isso considero a gestão das expectativas um dos pontos mais importantes no “ante-viagem”. Por um lado, uma expectativa desmesurada pode levar à desilusão e numa outra face uma expectativa negativa pode levar à surpresa e a um alavancar de outra palavra poderosa no universo das viagens. Memórias. Quem nunca contou ou ouviu histórias construídas na base de uma aventura inesperada? Sim, já me estão a perceber. E onde entra Mação no meio disto tudo? Não é um destino que surja com frequência no mapa de viagens dos “passageiros frequentes”. Não tem um monumento ou um evento que absorva atenções suficientes para aglutinar muitos “clientes”. Portanto, numa primeira análise, as expectativas em redor de Mação, como destino turístico, serão diminutas. Juro que percebo. Mas e se eu vos disser, com garantia de sucesso, que Mação será uma agradável surpresa e uma experiência que poderá levar o rótulo de inesquecível? Não acreditam? Então vou levá-los comigo numa viagem pelo território de Mação, um destino improvável.
Pouco passavam das 8h, um dia de céu limpo, tão típico de final de Verão. Uma ligeira brisa soprava quente e o rio Tejo brilhava de tão dourado que estava. Tinha acabado de chegar à Anta da Foz do Rio Frio, bem pertinho da povoação de Ortiga, numa encosta junto ao rio. Demasiado fácil lá chegar, demasiado difícil perceber a dimensão do que o caminho esconde. Um conjunto de pedras cuidadosamente alinhadas formando um circulo e uma espécie de corredor de entrada. Mesmo sem perceber o que representa ou a idade que tem, percebe-se facilmente que é diferente e que é importante. Outra coisa que se percebe facilmente é o porquê de estar ali, a presença do rio não engana. Tem uma vista majestosa, a emanar tranquilidade. Não se encontra resposta é para algo tão belo e peculiar ter perdurado no tempo, quase como se tivesse sido congelado ou simplesmente esquecido pelo próprio tempo. A expectável construção da anta remonta ao ano de 3200 a.c.(sim! impressionante). Percebem a razão do meu espanto e admiração? Com os olhos postos no meu Tejo e num silêncio apenas interrompido pelo vento, viajava no tempo. Imaginava o que se tinha passado por ali, quem por ali tinha circulado e mais uma vez a agradecer o facto de provavelmente ter sido ignorado. E também não deixando de me interrogar “o lugar é tão bonito, podiam ter construindo uma casa e não uma espécie de templo funerário”. Sim, eu sei que naquele tempo as prioridades eram outras. O nascer do sol é o momento em que este lugar mais brilha, por isso foi eleito como o primeiro elemento desta viagem. Mas talvez não existisse mesmo melhor maneira de começar. O misticismo que este lugar confere, fazem os meus olhos brilharem mais do que o Sol. É o que eu chamo de uma simplicidade complexa. Um lugar que me obriga a questionar (inquieta-me), sempre, e ao mesmo tempo alimenta-me de uma tranquilidade que apenas os momentos simples e genuínos o conseguem fazer. Circundo várias vezes a anta, sento-me a admiro o Tejo. Quando me senti com a “bateria carregada”, percorri o caminho de volta (ao carro) com aquele sentimento chamado de “a nossa história não acaba aqui”.
Estava no extremo Oeste do concelho de Mação, o próximo ponto de paragem ficava no extremo Este. “Caminhava” para a cascata do Pego da Rainha e toda a sua zona envolvente. Esta viagem seria muito mais do que uma simples viagem de A para B. O tempo pára mesmo por aqui. Num ápice embrenhei-me entre serras e vales. E atenção que não é um apontamento, é uma imagem de marca. Arrisco a dizer que 95% no território de Mação, do total dos seus 400 km² de área, são pormenores da natureza, apenas interrompidos por pequenas povoações, que parecem ter sido construídas em ilhas, não rodeadas de azul, mas sim de verde e castanho. E foi dentro deste casulo chamado Mação que cheguei a Zimbreira. Lugar com pouco mais que uma dúzia de casas. Estava um silêncio quase universal e um calor que queimava. As primeiras horas do dia já tinham passado, acredito que grande parte da população deste lugar já caminhava para meio dia de trabalho. Imagino-os como gente honesta e boa. Não vi viva alma na aldeia. Ultrapassei a última casa da aldeia e entrei numa estrada de terra batida que corria em zig zag num vale entre um grande maciço rochoso e uma densa floresta. Que lugar tão simples e tão perfeito. Do lado do maciço, grifos sobrevoavam o seu território, sem ver já ouvia o som da água a correr, ao longe já via um longo espelho de água da albufeira da Pracana que anunciava o final do concelho de Mação. Tudo isto, debaixo do fresco de uma zona de pinhal, com aquele cheiro que curiosamente só me faz recordar…praia. Digam-me se isto não é um belo cenário? Lentamente e aproveitar todos os segundos, cheguei ao Pego da Rainha. Não sei se é um segredo bem guardado, um paraíso escondido ou uma dádiva da natureza. Sei que fiquei estarrecido com aquele lugar. Já tinha ouvido falar, nunca lá tinha ido, nunca pensei que fosse tão belo. Estava sozinho e fui ficando, entre o som da água e o barulho do vento. Nem senti a adrenalina de fotografar, apenas queria estar ali, em comunhão com aquele lugar.
Era tempo de viajar até ao Norte do concelho. Estava no extremo Sul e o ponto de encontro com o Norte iria ser feito na aldeia de Cardigos. Não sem antes atravessar as Serras dos Bandos, a bonita praia fluvial do Carvoeiro e milhentas pequenas povoações embrulhadas na floresta. O Verão caminhava para fim, mas ainda restam os últimos “foguetes” das festas. Em tudo quanto é esquina existe um palco e um recinto de festas. Em tudo quanto é esquina existe um cartaz a anunciar os grupos locais do momento ou a vangloriar-se de o melhor frango da região ser “ali”. Noutras andanças já frequentei muitas festas da região, garanto que são das melhores. Isto se o critério for a genuinidade, coisa que eu tanto aprecio. São como um legado que passa de geração em geração, sem perder o carisma. Talvez por serem povos insolados, as suas gentes fazem da união a sua força e da sua terra o seu orgulho. Hoje, lugares como este são como pequenas gotas num gigante oceano, que, para mim, se transformaram em ouro devido a uma palavra. Únicos. Lugares como este, povos com este, celebrações como estas, são únicas. E alguma coisa ser única neste mundo, vale muito. Entre as muitas dezenas de diferentes palcos e cartazes, imagino estas festas como um roteiro. Acredito que se um turista estrangeiro, se visse dentro deste roteiro, emparceirado com os costumes desta boa gente, acredito que poderia não só levar boas memórias, mas como fazer desta uma das grandes viagens da sua vida. Escrevo o que sinto, aplicando a minha velha máxima de que o “simples é perfeito”.
Ermidas perdidas na floresta, povos com nomes curiosos, e comida, sim ainda nem tinha falado na comida. Muito particular, pois a grandiosidade geográfica do território também se reflecte na comida. A Sul o peixe do rio, pelo meio presuntos e enchidos, e a norte o tão típico maranho. Tudo coisas boas, tudo tão diferente dentro do mesmo espaço e a poucos minutos de distância. Com uma velocidade espaçada, tão relacionada quem tudo quer ver e sentir, chegava a Cardigos, uma das maiores e mais desenvolvidas povoações do concelho. Também muito conhecida pela sua praia fluvial, que completa uma espécie de tridente muito competente que este território tem para oferecer no “negócio” praias fluviais. Ortiga, Carvoeiro e Cardigos. E ainda podemos juntar um mergulho no Pego da Rainha. Três lugares onde o homem tocou com mestria na natureza. Que me perdoem todas as outras, mas a praia de Cardigos, faz-me vacilar pelo meu amor (incondicional, pensava eu) pelas praias de mar. Na praia de Cardigos, repleta de locais, de gente que por aqui nasceu e que a vida os levou para longe, de familiares de locais e muitos “estrangeiros” que já fazem desta praia e desta terra, a sua, terminei esta viagem pelo território de Mação. Que quadro admirável. Um delicioso destino improvável.
Expectativa, uma palavra tão simples que faz o nosso coração vibrar de emoção antes do início da próxima viagem. Tudo a ver com sonhos. Na face oposta, a mesma palavra, pode ter o efeito inverso (a chamada expectativa nula). O que pode levar a nem sequer embarcarmos na aventura da próxima viagem (pelo menos para aquele destino). Por isso considero a gestão das expectativas um dos pontos mais importantes no “ante-viagem”. Por um lado, uma expectativa desmesurada pode levar à desilusão e numa outra face uma expectativa negativa pode levar à surpresa e a um alavancar de outra palavra poderosa no universo das viagens. Memórias. Quem nunca contou ou ouviu histórias construídas na base de uma aventura inesperada? Sim, já me estão a perceber. E onde entra Mação no meio disto tudo? Não é um destino que surja com frequência no mapa de viagens dos “passageiros frequentes”. Não tem um monumento ou um evento que absorva atenções suficientes para aglutinar muitos “clientes”. Portanto, numa primeira análise, as expectativas em redor de Mação, como destino turístico, serão diminutas. Juro que percebo. Mas e se eu vos disser, com garantia de sucesso, que Mação será uma agradável surpresa e uma experiência que poderá levar o rótulo de inesquecível? Não acreditam? Então vou levá-los comigo numa viagem pelo território de Mação, um destino improvável.
Pouco passavam das 8h, um dia de céu limpo, tão típico de final de Verão. Uma ligeira brisa soprava quente e o rio Tejo brilhava de tão dourado que estava. Tinha acabado de chegar à Anta da Foz do Rio Frio, bem pertinho da povoação de Ortiga, numa encosta junto ao rio. Demasiado fácil lá chegar, demasiado difícil perceber a dimensão do que o caminho esconde. Um conjunto de pedras cuidadosamente alinhadas formando um circulo e uma espécie de corredor de entrada. Mesmo sem perceber o que representa ou a idade que tem, percebe-se facilmente que é diferente e que é importante. Outra coisa que se percebe facilmente é o porquê de estar ali, a presença do rio não engana. Tem uma vista majestosa, a emanar tranquilidade. Não se encontra resposta é para algo tão belo e peculiar ter perdurado no tempo, quase como se tivesse sido congelado ou simplesmente esquecido pelo próprio tempo. A expectável construção da anta remonta ao ano de 3200 a.c.(sim! impressionante). Percebem a razão do meu espanto e admiração? Com os olhos postos no meu Tejo e num silêncio apenas interrompido pelo vento, viajava no tempo. Imaginava o que se tinha passado por ali, quem por ali tinha circulado e mais uma vez a agradecer o facto de provavelmente ter sido ignorado. E também não deixando de me interrogar “o lugar é tão bonito, podiam ter construindo uma casa e não uma espécie de templo funerário”. Sim, eu sei que naquele tempo as prioridades eram outras. O nascer do sol é o momento em que este lugar mais brilha, por isso foi eleito como o primeiro elemento desta viagem. Mas talvez não existisse mesmo melhor maneira de começar. O misticismo que este lugar confere, fazem os meus olhos brilharem mais do que o Sol. É o que eu chamo de uma simplicidade complexa. Um lugar que me obriga a questionar (inquieta-me), sempre, e ao mesmo tempo alimenta-me de uma tranquilidade que apenas os momentos simples e genuínos o conseguem fazer. Circundo várias vezes a anta, sento-me a admiro o Tejo. Quando me senti com a “bateria carregada”, percorri o caminho de volta (ao carro) com aquele sentimento chamado de “a nossa história não acaba aqui”.
Estava no extremo Oeste do concelho de Mação, o próximo ponto de paragem ficava no extremo Este. “Caminhava” para a cascata do Pego da Rainha e toda a sua zona envolvente. Esta viagem seria muito mais do que uma simples viagem de A para B. O tempo pára mesmo por aqui. Num ápice embrenhei-me entre serras e vales. E atenção que não é um apontamento, é uma imagem de marca. Arrisco a dizer que 95% no território de Mação, do total dos seus 400 km² de área, são pormenores da natureza, apenas interrompidos por pequenas povoações, que parecem ter sido construídas em ilhas, não rodeadas de azul, mas sim de verde e castanho. E foi dentro deste casulo chamado Mação que cheguei a Zimbreira. Lugar com pouco mais que uma dúzia de casas. Estava um silêncio quase universal e um calor que queimava. As primeiras horas do dia já tinham passado, acredito que grande parte da população deste lugar já caminhava para meio dia de trabalho. Imagino-os como gente honesta e boa. Não vi viva alma na aldeia. Ultrapassei a última casa da aldeia e entrei numa estrada de terra batida que corria em zig zag num vale entre um grande maciço rochoso e uma densa floresta. Que lugar tão simples e tão perfeito. Do lado do maciço, grifos sobrevoavam o seu território, sem ver já ouvia o som da água a correr, ao longe já via um longo espelho de água da albufeira da Pracana que anunciava o final do concelho de Mação. Tudo isto, debaixo do fresco de uma zona de pinhal, com aquele cheiro que curiosamente só me faz recordar…praia. Digam-me se isto não é um belo cenário? Lentamente e aproveitar todos os segundos, cheguei ao Pego da Rainha. Não sei se é um segredo bem guardado, um paraíso escondido ou uma dádiva da natureza. Sei que fiquei estarrecido com aquele lugar. Já tinha ouvido falar, nunca lá tinha ido, nunca pensei que fosse tão belo. Estava sozinho e fui ficando, entre o som da água e o barulho do vento. Nem senti a adrenalina de fotografar, apenas queria estar ali, em comunhão com aquele lugar.
Era tempo de viajar até ao Norte do concelho. Estava no extremo Sul e o ponto de encontro com o Norte iria ser feito na aldeia de Cardigos. Não sem antes atravessar as Serras dos Bandos, a bonita praia fluvial do Carvoeiro e milhentas pequenas povoações embrulhadas na floresta. O Verão caminhava para fim, mas ainda restam os últimos “foguetes” das festas. Em tudo quanto é esquina existe um palco e um recinto de festas. Em tudo quanto é esquina existe um cartaz a anunciar os grupos locais do momento ou a vangloriar-se de o melhor frango da região ser “ali”. Noutras andanças já frequentei muitas festas da região, garanto que são das melhores. Isto se o critério for a genuinidade, coisa que eu tanto aprecio. São como um legado que passa de geração em geração, sem perder o carisma. Talvez por serem povos insolados, as suas gentes fazem da união a sua força e da sua terra o seu orgulho. Hoje, lugares como este são como pequenas gotas num gigante oceano, que, para mim, se transformaram em ouro devido a uma palavra. Únicos. Lugares como este, povos com este, celebrações como estas, são únicas. E alguma coisa ser única neste mundo, vale muito. Entre as muitas dezenas de diferentes palcos e cartazes, imagino estas festas como um roteiro. Acredito que se um turista estrangeiro, se visse dentro deste roteiro, emparceirado com os costumes desta boa gente, acredito que poderia não só levar boas memórias, mas como fazer desta uma das grandes viagens da sua vida. Escrevo o que sinto, aplicando a minha velha máxima de que o “simples é perfeito”.
Ermidas perdidas na floresta, povos com nomes curiosos, e comida, sim ainda nem tinha falado na comida. Muito particular, pois a grandiosidade geográfica do território também se reflecte na comida. A Sul o peixe do rio, pelo meio presuntos e enchidos, e a norte o tão típico maranho. Tudo coisas boas, tudo tão diferente dentro do mesmo espaço e a poucos minutos de distância. Com uma velocidade espaçada, tão relacionada quem tudo quer ver e sentir, chegava a Cardigos, uma das maiores e mais desenvolvidas povoações do concelho. Também muito conhecida pela sua praia fluvial, que completa uma espécie de tridente muito competente que este território tem para oferecer no “negócio” praias fluviais. Ortiga, Carvoeiro e Cardigos. E ainda podemos juntar um mergulho no Pego da Rainha. Três lugares onde o homem tocou com mestria na natureza. Que me perdoem todas as outras, mas a praia de Cardigos, faz-me vacilar pelo meu amor (incondicional, pensava eu) pelas praias de mar. Na praia de Cardigos, repleta de locais, de gente que por aqui nasceu e que a vida os levou para longe, de familiares de locais e muitos “estrangeiros” que já fazem desta praia e desta terra, a sua, terminei esta viagem pelo território de Mação. Que quadro admirável. Um delicioso destino improvável.