episódio 1: PONTE DE LIMA – PUERTO DE VEGA

Comecei esta viagem num Domingo, 26 de Março, mas como já cheguei quase final de tarde ao Porto (ao Aeroporto, local de entrega) foi apenas uma espécie de dia 0. Não iria conseguir chegar muito longe e dava para testar a carrinha. Ponte de Lima foi o local escolhido para destino deste dia 0. Tudo tranquilo, apesar da muita chuva que apanhei. Estacionei o veículo/casa junto ao rio Lima, bem pertinho da Ponte Medieval e por ali fiquei. Tinha 3 vizinhos (caravanas) ao lado, mas esta malta, apesar de simpática, é muito cada um no seu canto. Não estranhei a cama e até adormeci bem ao som da chuva. Na manhã seguinte, lá se deu a primeira agonia. Todas as aventuras têm que ter pelos menos uma. Apesar de ter chuveiro, a água quente apenas funciona quando a carrinha estiver ligada à corrente eléctrica. Ou seja, num parque de campismo. Em parques de campismo “selvagens” ou tomas banho de água fria ou não tomas banho. Estava um frio do caraças, optei pela segunda opção. Isto já era manhã de segunda-feira, dia 1 de viagem.

Tinha planeado este dia, como o dia onde iria conduzir mais tempo e mais quilómetros. Iria sair de Ponte de Lima em direção à zona da Corunha e ficar por ali. Sem local definido. Era um que me agradasse. Quando pensava que tinha água quente, o plano seria ficar apenas em locais bonitos e não ficar em parques de campismo. Mas como ficar em hipotermia ou andar a cheirar mal, não eram hipóteses, sabia que mais tarde ou mais cedo iria parar num parque a sério (sem ser dos selvagens). Saí de Ponte de Lima em direção ao Gêres. Sempre deslumbrante esta região. Estradas estreitas, vales de perder de vista e aldeias de filmes fofinhos (ou de terror, se for noite). Juro que quase me deu vontade de fazer esta viagem só por ali. Mas lá continuei caminho.

Num ápice já estava em Espanha e o Parque do Gêres continuava. E o rio Lima, aquele que passou nas minhas costas na noite passada, continuava a acompanhar-me. Aos poucos a paisagem do Gerês ia ficando com montanhas gigantes, com neve no topo, como pano de fundo. Impressionante cenário. Mas com a velocidade que aparecia, entre a as curvas, com a mesma velocidade desaparecia. Segui pelo interior da Galiza, paralelo às míticas cidades de Vigo e Santiago de Compostela. Ourense foi a maior cidade por onde passei. Confesso que as paisagens, na sua maioria, neste percurso não me deslumbraram. Sobretudo nas aldeias por onde passei, muito pouco cuidadas, quase a roçar o abandono. Mas o objetivo aqui era mesmo chegar ao mar. Era uma espécie de etapa de transição, com final feliz. Optei pela famosa Praia das Catedrais como destino final e por ali iria encontrar um lugar para dormir. Ao sair da estrada onde seguia, para um estrada mais curta em direção ao mar, tudo se alterou. Um verde, mesmo verde, parecia um relvado gigante, descia das montanhas e acabava no mar. Impressionante este primeiro impacto. Normalmente a vegetação da praia é seca e sem grande brilho. Mas aqui, o brilho do verde, fazia inveja ao tapete do Estádio da Luz. Mas não estou a falar de metros, era quilómetros, mas tarde percebi que é uma constante por aqui. Quase a lembrar a costas da Irlanda ou da Escócia, mas com clima mediterrânico.

A Praia das Catedrais não desiludiu. É umas das praias mais conhecidas de Espanha, digna de postal e bandeira desta região. Famosa pelos seus arcos naturais, que forma um enredo digno de um filma épico, daqueles com cavalos e espadas. Calhou-me em sorte a maré alta, quase não vi areia. Mas não me pareceu mais feio assim. Ainda percorri algumas das praias em volta, entusiasmado com o que estava a ver. O pior veio a seguir. Não encontrava um lugar para pernoitar. Aquela costa, ou seja, uns 10 quilómetros de costa, pareciam fechados para balanço (e se calhar estavam mesmo). Estava tudo um deserto. Parques de campismo fechados. Restaurantes fechados. Bairros sem viva alma. Depois, numa parte mais prática, os parques mais arranjadinhos, nos melhores locais, tinham todos um “proibido auto-caravanas”. Fiquei quase como quando faço um viagem de bicicleta e não encontro lugar para dormir. Cada quilómetro a mais era um pesadelo. Os lugares por onde passava eram muito bonitos, mas por uma razão ou por outra, fui passando. Andei estacionei, num espaço com uma vista muito bonita, quase colado à água, mas no topo de um monte e disse: “é mesmo aqui!”. Mas assim que parei, para começar a preparar as coisas para ficar, veio uma rabanada de vento que quase me derrubou e eu estava dentro da carrinha, só pensei: “se isto é assim às 5 da tarde, às 5 da manhã estou dentro de água, que o vento leva-me a carrinha”. Realmente era um local desabrigado e num zona que fazia muito vento. Não ia parar dentro de água, mas não iria conseguir dormir. Arrumei a trouxa e segui para outro lado. Segui em direção a Ribadeo, cidade concelho. Parques havia, mas a cidade pareceu-me tão desinteressante em comparação com o já tinha visto, fiquei sempre a pensar, meio arrependido de não ter decidido ficar num dos lugares lá atrás, que aqui não era o lugar que tinha “sonhado”. Arranquei sem destino. Segui o caminho, junto à costa, que tinha programado para o dia seguinte, com o compromisso, quando vir alguma coisa que me agrade, fico por lá. Ia na estrada, vi uma placa destinada a lugares “especiais” a 2000m, isto já tinha feito uns 20 quilómetros depois de Ribadeo, a povoação chamava-se Puerto de Vega, o nome agradou-me, fiz um pesquisa rápida no google, agradou-me, e disse para mim (epá, não tinha mais ninguém para quem falar): “é aqui!”. Sem querer, fiquei num lugar quase perfeito.

Este Puerto de Vega, é uma pequena aldeia piscatória, com um porto de pesca (o nome não engana). Muito cuidada, quer a parte nova, quer a parte histórica, junto ao porto. Segui em direção ao porto, onde tinha indicação que existia um parque para auto-caravanas. Meti-me numa rua estreita e pensei: “já tás lixado! Não existe nenhum parque aqui e carrinha não vai caber aqui”. Parei e comecei a fazer marcha atrás. Um senhor lá da terra, percebeu o que se estava a passar e depressa correu na minha direção a dizer: “SIGA!”. Entre sorrisos e uns gracias gracias lá fiz o que ele disse e deparei-me com um parque gigante para auto-caravanas, colado ao porto, com a água ao lado, com vista para a aldeia e bem a tempo de assistir ao pôr do sol. Tudo corre bem, quando acaba bem.

Dormi que foi um descanso.

Comecei esta viagem num Domingo, 26 de Março, mas como já cheguei quase final de tarde ao Porto (ao Aeroporto, local de entrega) foi apenas uma espécie de dia 0. Não iria conseguir chegar muito longe e dava para testar a carrinha. Ponte de Lima foi o local escolhido para destino deste dia 0. Tudo tranquilo, apesar da muita chuva que apanhei. Estacionei o veículo/casa junto ao rio Lima, bem pertinho da Ponte Medieval e por ali fiquei. Tinha 3 vizinhos (caravanas) ao lado, mas esta malta, apesar de simpática, é muito cada um no seu canto. Não estranhei a cama e até adormeci bem ao som da chuva. Na manhã seguinte, lá se deu a primeira agonia. Todas as aventuras têm que ter pelos menos uma. Apesar de ter chuveiro, a água quente apenas funciona quando a carrinha estiver ligada à corrente eléctrica. Ou seja, num parque de campismo. Em parques de campismo “selvagens” ou tomas banho de água fria ou não tomas banho. Estava um frio do caraças, optei pela segunda opção. Isto já era manhã de segunda-feira, dia 1 de viagem.

Tinha planeado este dia, como o dia onde iria conduzir mais tempo e mais quilómetros. Iria sair de Ponte de Lima em direção à zona da Corunha e ficar por ali. Sem local definido. Era um que me agradasse. Quando pensava que tinha água quente, o plano seria ficar apenas em locais bonitos e não ficar em parques de campismo. Mas como ficar em hipotermia ou andar a cheirar mal, não eram hipóteses, sabia que mais tarde ou mais cedo iria parar num parque a sério (sem ser dos selvagens). Saí de Ponte de Lima em direção ao Gêres. Sempre deslumbrante esta região. Estradas estreitas, vales de perder de vista e aldeias de filmes fofinhos (ou de terror, se for noite). Juro que quase me deu vontade de fazer esta viagem só por ali. Mas lá continuei caminho.

Num ápice já estava em Espanha e o Parque do Gêres continuava. E o rio Lima, aquele que passou nas minhas costas na noite passada, continuava a acompanhar-me. Aos poucos a paisagem do Gerês ia ficando com montanhas gigantes, com neve no topo, como pano de fundo. Impressionante cenário. Mas com a velocidade que aparecia, entre a as curvas, com a mesma velocidade desaparecia. Segui pelo interior da Galiza, paralelo às míticas cidades de Vigo e Santiago de Compostela. Ourense foi a maior cidade por onde passei. Confesso que as paisagens, na sua maioria, neste percurso não me deslumbraram. Sobretudo nas aldeias por onde passei, muito pouco cuidadas, quase a roçar o abandono. Mas o objetivo aqui era mesmo chegar ao mar. Era uma espécie de etapa de transição, com final feliz. Optei pela famosa Praia das Catedrais como destino final e por ali iria encontrar um lugar para dormir. Ao sair da estrada onde seguia, para um estrada mais curta em direção ao mar, tudo se alterou. Um verde, mesmo verde, parecia um relvado gigante, descia das montanhas e acabava no mar. Impressionante este primeiro impacto. Normalmente a vegetação da praia é seca e sem grande brilho. Mas aqui, o brilho do verde, fazia inveja ao tapete do Estádio da Luz. Mas não estou a falar de metros, era quilómetros, mas tarde percebi que é uma constante por aqui. Quase a lembrar a costas da Irlanda ou da Escócia, mas com clima mediterrânico.

A Praia das Catedrais não desiludiu. É umas das praias mais conhecidas de Espanha, digna de postal e bandeira desta região. Famosa pelos seus arcos naturais, que forma um enredo digno de um filma épico, daqueles com cavalos e espadas. Calhou-me em sorte a maré alta, quase não vi areia. Mas não me pareceu mais feio assim. Ainda percorri algumas das praias em volta, entusiasmado com o que estava a ver. O pior veio a seguir. Não encontrava um lugar para pernoitar. Aquela costa, ou seja, uns 10 quilómetros de costa, pareciam fechados para balanço (e se calhar estavam mesmo). Estava tudo um deserto. Parques de campismo fechados. Restaurantes fechados. Bairros sem viva alma. Depois, numa parte mais prática, os parques mais arranjadinhos, nos melhores locais, tinham todos um “proibido auto-caravanas”. Fiquei quase como quando faço um viagem de bicicleta e não encontro lugar para dormir. Cada quilómetro a mais era um pesadelo. Os lugares por onde passava eram muito bonitos, mas por uma razão ou por outra, fui passando. Andei estacionei, num espaço com uma vista muito bonita, quase colado à água, mas no topo de um monte e disse: “é mesmo aqui!”. Mas assim que parei, para começar a preparar as coisas para ficar, veio uma rabanada de vento que quase me derrubou e eu estava dentro da carrinha, só pensei: “se isto é assim às 5 da tarde, às 5 da manhã estou dentro de água, que o vento leva-me a carrinha”. Realmente era um local desabrigado e num zona que fazia muito vento. Não ia parar dentro de água, mas não iria conseguir dormir. Arrumei a trouxa e segui para outro lado. Segui em direção a Ribadeo, cidade concelho. Parques havia, mas a cidade pareceu-me tão desinteressante em comparação com o já tinha visto, fiquei sempre a pensar, meio arrependido de não ter decidido ficar num dos lugares lá atrás, que aqui não era o lugar que tinha “sonhado”. Arranquei sem destino. Segui o caminho, junto à costa, que tinha programado para o dia seguinte, com o compromisso, quando vir alguma coisa que me agrade, fico por lá. Ia na estrada, vi uma placa destinada a lugares “especiais” a 2000m, isto já tinha feito uns 20 quilómetros depois de Ribadeo, a povoação chamava-se Puerto de Vega, o nome agradou-me, fiz um pesquisa rápida no google, agradou-me, e disse para mim (epá, não tinha mais ninguém para quem falar): “é aqui!”. Sem querer, fiquei num lugar quase perfeito.

Este Puerto de Vega, é uma pequena aldeia piscatória, com um porto de pesca (o nome não engana). Muito cuidada, quer a parte nova, quer a parte histórica, junto ao porto. Segui em direção ao porto, onde tinha indicação que existia um parque para auto-caravanas. Meti-me numa rua estreita e pensei: “já tás lixado! Não existe nenhum parque aqui e carrinha não vai caber aqui”. Parei e comecei a fazer marcha atrás. Um senhor lá da terra, percebeu o que se estava a passar e depressa correu na minha direção a dizer: “SIGA!”. Entre sorrisos e uns gracias gracias lá fiz o que ele disse e deparei-me com um parque gigante para auto-caravanas, colado ao porto, com a água ao lado, com vista para a aldeia e bem a tempo de assistir ao pôr do sol. Tudo corre bem, quando acaba bem.

Dormi que foi um descanso.

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