Orvalho: uma ponte para a beira baixa

Orvalho. A singularidade do nome deste lugar, não poderia ir mais de encontro com a singularidade desse lugar a que esse mesmo nome pertence. A origem da sua toponímia, estará certamente ligada à própria natureza desta pequena freguesia de Oleiros, e ao facto da mesma se encontrar rodeada de pinhais e de vários cursos de água, onde a ocorrência destas gotas de humidade que se formam por condensação, é bastante habitual. Contudo, a particular beleza que ali encontramos, pede que procuremos outros sinónimos e significados para este tão curioso nome, e não é por isso de estranhar que a palavra bálsamo apareça como uma dessas possibilidades. A força da mãe natureza em Orvalho é de tal forma gritante, que a passagem por este lugar pode realmente ter forma de remédio. Uma espécie de remédio natural para a alma, e porque não mesmo um bálsamo, tais são as propriedades curativas deste lugar. Orvalho está no coração da Beira Baixa, mas é o nosso que ali parece serenar, embalado pela musicalidade da água, em todas as suas diversas formas. 

Esta freguesia, encontra-se num dos braços da Serra do Muradal, no extremo nordeste do Concelho de Oleiros, que integra o Distrito de Castelo Branco, stituada em lugar elevado e desabrigado. Curiosamente, Orvalho assume particular importância dentro desta região, uma vez que esta freguesia, que delimita geograficamente os Concelhos de Castelo Branco, Fundão e Pampilhosa de Serra. Está inserida no Geopark Naturtejo, com 5 mil km2 e que se estende pela área composta pelos municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão, dotado de um vasto património geomorfológico, geológico, paleontológico e geomineiro. junto da Meseta Meridional. Ali podemos encontrar uma queda de água que ronda os vinte e cinco metros de altura, a Fraga de Água d’Alta, um lugar simplesmente mágico, classificado pela UNESCO como um geomonumento. Apenas neste pequeno recanto do nosso país, se podem encontrar duzentos exemplares de azereiros, que está em vias de extinção. Esta planta é considerada uma relíquia das florestas laurissilva e está intimamente relacionada com o  rio Zêzere, sendo ainda hoje discutível se é o Zêzere que vem de Azereiro ou se é Azereiro que vem de Zêzere. É exatamente nesta estação do Outono, que os ramos do azereiro atingem o seu esplendor, exibindo uma folhagem lustrosa e exuberante. 

Este vale é ainda detentor de outras de outras relíquias graças à presença de um microclima específico, e se seguirmos o curso de água da Fraga de Água d’Alta, após uma descida abrupta, encontraremos mais uma delas, a Lagoa das Lontras ou também conhecida como Poça das Lontras. A natureza é por todas estas e muitas outras razões, a força maior que impera nesta freguesia, mas Orvalho esconde ainda outros encantamentos. Falamos por exemplo, da sua Igreja Matriz, datada de 1940 – já tendo sofrido várias restaurações e remodelações – cujos altares estão cobertos a talha dourada, das suas várias capelas, ou do seu Forno comunitário que se calcula ter mais de 150 anos. É possível ainda usufruir de uma paragem no Parque de Merendas, e observar uma vista inigualável através do Miradouro do Mosqueiro, onde se conseguem ver as Serras da Gardunha, da Lousã e ainda, o deslumbre do rio Zêzere. A visita não pode estar completa sem ficar a conhecer a GeoRota de Orvalho, que conta com cerca de 9 km de extensão, onde estão inseridos os Passadiços de Orvalho, construídos em pontos estratégicos da GeoRota, onde os trilhos são mais exigentes. 

Dentro das pessoas notáveis que estarão para sempre associadas a este lugar, existe uma, cuja curiosa e inédita história, permanecerá para sempre na memória desta região. Falamos de Fabião Francisco Leitão Guedelha, sogro do Visconde de Tinalhas. Fabião era um proprietário abastado, muito poupado, e como bom administrador, conseguiu juntar muito dinheiro, correndo longe essa fama. Segundo contam, foi num serão de outono do ano de 1838, que uma quadrilha composta por 46 ladrões a cavalo, invadiu a casa de Fabião. A viver sozinho, apenas na companhia de uma criada, Fabião não dispunha de meios para se puder defender de um grupo tão numeroso, ainda para mais, tendo sido apanhado pelo rompante desta ação. Os ladrões terão por isso conseguido levar elevadas quantias de dinheiro, talvez a totalidade de todas as suas poupanças, e segundo certas fontes, à custa de alguma violência. A dimensão deste assalto, e a relevância da pessoa envolvida, fizeram com que ficasse na história da região. 

A data de criação da freguesia de Orvalho é desconhecida, sabe-se apenas que o seu registo paroquial terá ocorrido em 1627, sendo São Bartolomeu, o seu Santo Padroeiro. O mistério das suas origens combina assim com a atmosfera que se sente ao chegar a Orvalho. Um lugar onde a natureza é em si tão vibrante, que torna a experiência de quem o visita numa viagem imersiva, onde os cheiros inebriam, numa sintonia perfeita com a musicalidade dos sons dos pássaros, dos cursos de água ou do vento a fazer danças as folhas. Esta freguesia foi desta forma brindada com uma beleza rara, onde a visão da silhueta das serras é quase avassaladora tal é a sua imponência. Não é por isto de estranhar, que a sensação que deixa em nós seja tão palpável, como se marcasse um antes e um depois, numa prova segura, de que é de facto impossível ficarmos indiferente aos encantos que nele se encerram.  A freguesia de Orvalho não fica apenas no coração da Beira Baixa, fica também no coração de quem a sabe sentir.

Novembro 2020

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