Sou casado com a Liliana. Vou ser Pai da Alice daqui a uns dias. Sou blogger de profissão, num blog cujo o tema principal são viagens, logo, faz de mim, também, um viajante. Agora a questão que se coloca é…como conciliar isto tudo? E isto sem falar nos 1001 projectos em que me estou a meter e de ser um criativo romântico (uma expressão que eu inventei), que quer ser muitas coisas ao mesmo tempo (e leva isso muito a sério). Ainda no mês passado queria ser arquitecto e realizador (já coloquei uma de parte). Sim, a minha cabeça anda sempre em ebulição.
Antes da Liliana estar grávida, a expressão mais ouvida, nas abordagens em relação ao meu trabalho, era: “tu é que tens uma bela vida! Viajas, depois escreves umas coisas, tiras umas fotos, e ainda te pagam para isso”. Ninguém se lembrava da coitada da Liliana. Depois da Liliana estar grávida, a expressão mais ouvida, nas abordagens em relação meu trabalho, é (sim, ainda as ando a ouvir): “e agora?”. Sim, só assim. E a arregalarem-me os olhos também. O que eu interpreto como um “agora, que vais ser Pai, vais ter arranjar uma profissão “normal”, tipo canalizador, advogado ou funcionário da Segurança Social. Porque ser blogger viajante é proibido e “o mais certo, se não mudares de profissão, é a Alice crescer abandonada, sem amor e carinho de um Pai ausente”. Sim, estou a exagerar. Mas não ando completamente longe. Sim, existem muitas pessoas que gostam de semear o pânico paternal. Sim, eu sei que a minha vida vai mudar. Sim, a minha vida já está a mudar. E agora, espantem-se, está a mudar e vai mudar ainda mais, para melhor (ai, ando tão feliz). E não, não vou mudar de profissão.
Namoro com Liliana desde os tempos em estudávamos no liceu. Sim, quase no século passado. Anos mais tarde, de vida em comum, casámos. A Liliana conheceu-me nos tempos em que eu era um jovem aspirante a tudo e que não era nada. Estava comigo quando comecei a viajar (aliás, começamos a viajar os dois) e estava comigo quando fundei O Meu Escritório é lá Fora!. Sempre partilhei tudo com ela. Sempre coloquei em primeiro lugar o equilíbrio da nossa relação. Não foi difícil. Primeiro, porque acho que sou o primeiro a morrer de saudades. Adoro viajar, adoro o meu trabalho, mas não consigo estar muito tempo seguido longe de casa. Felizmente, consigo trabalhar bem assim. Não construí o meu modelo de blog e de histórias em função do que outros bloggers faziam, construí o meu próprio modelo. Acho que é, também, uma das razões do (pequeno) sucesso que tenho, está no conforto com que faço o meu trabalho. Portanto, a questão de marido e mulher, muito pelas minhas características, ficou resolvida logo à partida. Também ajuda o facto da minha história de vida fazer parte, tranquilamente, da história do Meu Escritório. Seguem paralelas, o que faz com que toda a gente saiba quem é a Liliana e o que ela significa para mim. Ser nunca ter dado voz ao Meu Escritório, ela também faz parte dele, desde o inicio (e talvez ainda venha a ter um papel mais activo no futuro, mas isso são surpresas). Mas agora, com a Alice, é claro que o desafio vai ser maior.
Fiquei tão feliz quando soube que a Liliana estava grávida. Já alimentava esse desejo dentro de mim há uns tempos. Mas o querer e o ser, nem sempre andam de mãos dadas. No meu caso, resultou bem. O meu processo paternal tem seguido em crescendo. Sim, cada vez mais feliz e tranquilo. Continuei a trabalhar, continuei a viajar, mas sempre participei em tudo. Consultas, compras, obras em casa, horas a olhar para a barriga da Liliana ou “simples” tarefas como fazer a comida e lavar a roupa, porque a mãe Liliana tem que descansar e estar como uma rainha. Nunca pensei “vou ter deixar de viajar”, “vou ter que mudar de profissão”. Muito pelo contrário. Esta profissão faz com que, em parte, seja dono do meu tempo e posso dar-me ao luxo de estar a 100% (e fazer o meu trabalho a partir de casa) com a mãe Liliana nesta fase, e posso dar-me ao luxo de poder estar com a minha Alice, a toda hora, nos seus primeiros meses de vida. Depois, volto a viajar sozinho, mas sempre sem abusar no tempo que estou fora. Não será um sacrifício. Não consigo estar muito tempo longe dos meus.
E depois, é claro, tal como um carpinteiro, naturalmente, ensina os seus filhos a martelar, eu não vejo a hora de começar a viajar com a minha Alice. Já tenho muitas histórias para lhe contar, mas quero viver e escrever muitas histórias com ela. Ser pai, marido, viajante e blogger? Como se concilia isto tudo? Simples, com muito amor, carinho e criatividade. Simples, não?