Atenção! Vou escrever sobre a minha terra. Qualquer exagero, culpem o meu coração.

Hoje escrevo sobre o Creative Camp e o seu legado. Nem sei bem como o descrever. Talvez como um evento criativo, com traços de festival de música, que passa também pela educação, formação e sensibilização, como uma espécie de academia, e ainda com espaço para criação de obras por toda a cidade, transformando-a numa galeria a céu aberto. Bem, talvez existir uma definição para este Creative Camp. Talvez seja mais importante falar sobre o seu legado, as sensações que provoca, o entusiasmo que cria, e talvez, sobre um roteiro à volta das suas obras e dos seus criadores.

Olho para este evento com bastante carinho. Fico muito (muito) feliz por se realizar na minha cidade. Hoje estou bem ciente daquilo que sou, das minhas capacidades, do caminho que quero seguir. Há anos atrás, a minha cabeça parecia uma tempestade à espera do amanhã. Hoje sei que, muito mais do um blogger, escritor, fotografo ou viajante, sou um criativo. É isso que faço melhor, criar. Sonhar e concretizar, por muito estanho isso que pareça, e sob diversas formas. Tenho pena que um evento deste tipo não tenha existido na minha fase de “tempestade” e de procura. Talvez tivesse aliviado a minha “dor” e antecipado a minha descoberta. Falando em legado, acredito que este pode ser o ponto número um do Creative Camp. A descoberta. A descoberta de nós. Partilhar o mesmo espaço, as mesmas experiências, as mesmas ideias, com algumas das mentes mais criativas do mundo (sim, do mundo), por ter um efeito positivamente devastador para quem anda à procura. E mesmo para quem não procura, e está bem estabelecido na sua profissão, digamos que…comum, pode “beber” aqui um pouco de criatividade e aplica-la nas suas rotinas. Acreditem, o resultado pode ser épico. Portanto, a criação de criativos, para mim, é maior legado que um evento deste tipo pode deixar. Se forem de Abrantes, tanto melhor.

Depois existe o lado do espectador. O meu. Já me encontrei, mas estou muito longe de estar estagnado. Tenho, como já me disseram, 100 ideias por minuto, e absorver matéria deste tipo, é como uma luz a piscar na minha cabeça. Música urbana que se ouve em grandes cidades, desce ao interior da minha cidade, aplicada, criativamente em lugares menos óbvios como o mercado diário ou parques infantis. Espaços comuns criam maior ligação, pelo menos comigo resulta. Faz me sentir como uma personagem deste filme. Depois ainda existem workshops, palestras, criações temporárias ou, simplesmente, conversas numa qualquer esplanada da cidade, com gente diferente de nós. De outros países e que já viram outras coisas. Acredito que também tenham muito a aprender com as pessoas de Abrantes. Acredito na partilha como um circulo. É bom para todos, os interessados, que participam nela.

Existem também o lado pós-creative camp. Talvez mais óbvio para a minha escrita de hoje. Com o conjunto de obras que os vários Creative Camp (penso que já vai na 4a edição) foram deixando. E são muitas. Algumas já com uma cor esbatida, outras deram lugar a outras coisas completamente diferentes, e, acredito, que outras deram lugar a outras obras, talvez até fora do contesto do Creative Camp (vejo o quARTel como um bom exemplo). Umas maiores outras apenas para os mais curiosos e atentos (como é o caso dos pequenos bonecos que ganham vida nas paredes da cidade), fazem da minha cidade um lugar mais bonito, mais apelativo, mais actual. Para mim, que vivo em Abrantes, quando caminho pelas ruas da cidade, sinto que muitas das obras já fazem parte da “mobília”, nem dou por elas, mas acho que ira estranhar muito se elas desaparecessem. Talvez, pela eferemidade de algumas obras, talvez ainda seja demasiado cedo para fazer um roteiro, acredito que nos próximos anos seja possível. Apesar da rapidez dos nossos dias, muitas bafejadas de contra-informação, não vejo este evento e o seu legado como algo fugaz. Tal como acontece com as melhores vinhas, acredito que a sua melhor uva ainda está por colher.

Já sei que a edição de 2018 está confirmada. Ainda bem. Aguardo ansiosamente por ela. Nem seja para uma conversa, numa qualquer esplanada da cidade, com alguém de um país distante e com outras ideias. Talvez lhe fale do que me prende a este lugar gracioso.


 

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