Sou um sonhador. Com uma característica muito particular. Acredito não me devo render ao “normal e pré-concebido” e acredito que é possível ser aquilo que eu quiser ser (aqui não vale o só porque que sim, é preciso também lutar e ir à luta). Quando me perguntam qual a minha profissão (muita vezes me fazem esta pergunta, não percebo porquê 😉 ), quase sempre com um sorriso meio atrapalhado, mas sem qualquer vergonha, não me conseguindo definir profissionalmente numa palavra, pergunto-me a mim, sempre, antes de responder: “Será que sou um blogger? um escritor? um viajante? um influenciador? ou simplesmente um empresário? ou será que sou isto tudo (se calhar sou)?!”… depois lá respondo: “a minha profissão é ser sonhador!” (é claro que as finanças ainda não têm este CAE, para eles sou outra coisa “normal”).
Ser sonhador, talvez num sentido mais técnico ser criativo, não digo que seja a minha melhor ou pior (se é que se pode qualificar assim) característica, mas talvez a característica que melhor me define. Como nada é por acaso e os genes também não explicam tudo, sou desembrulhar um pouca a minha vida. Como começou, onde estou e para onde quero ir.
Fui uma criança porreira e feliz, sempre adorei a minha aldeia, Rossio ao Sul do Tejo, com todos os seus defeitos e virtudes, o que me faz querer viver para sempre perto dela. Sou filho único e filho de uns pais fantásticos, que adoro de coração. Sou também neto único (dos avós do lado da mãe), e muito devo aos meus avós, com quem passei boa parte da minha infância, onde o amor sempre abundou e me ensinaram a apreciar e dar imenso valor a coisas simples da vida (acho que a profissão, aquela do sonhador, começou aqui). Comecei a jogar futebol federado aos 9 anos, no Pego, aldeia ao lado da minha. Que mais do que belas tardes desportivas, me deram amigos para a vida. Passei horas quase infinitas no ringue da minha terra, que me levou a construir mais uma rede de amizades, onde muito mais do que golos, me levou a ser diretor do clube da minha terra e do meu coração, o Clube Desportivo “Os Patos” (na minha terra, pela proximidade do rio Tejo, somos conhecidos como Patos Bravos), desde os meus 15 anos até aos hoje. No meio disso, ainda fui capitão da equipa de futsal dos Patos e ganhei uma Taça de Portugal no escalão de Juvenis (um dos feitos que mais me orgulho).
Não menos importante, tenho a mesma namorada, com quem entretanto casei (tivemos um casamento muito bonito, podem ler a história AQUI 😉 ), desde os meus 18 anos (tenho 32, é uma questão de fazer as contas) e se ela não se fartar de mim 🙂 já não vou ter outra. Chama-se Liliana, é muito bonita e inteligente. O papel dela na minha vida, mais do que o normal e super importante amor da vida, vai mais longe que isso, é ela que quando chego à Lua, de tanto sonhar, me puxa de volta para a terra. Acho sinceramente, que ela é a principal responsável por eu tornar alguns dos sonhos em realidade e por me poder rotular de “sonhador profissional” (aquela parte do isto dá trabalho, entra aqui. Sem concretizar, um sonho é apenas um sonho). Todos os artistas têm uma musa e eu, felizmente, tenho a minha.
Com 19 anos entrei para o curso de Eng.Civil em Coimbra, ainda hoje não sei bem porquê (quer dizer a parte de ir para Coimbra sei 🙂 a parte da Eng. Civil é que não). Adorei a experiência Coimbra, que elevou o meu lado sonhador, conheci imensa gente boa e mais uma vez, ganhei amigos para a vida. Sempre vivi na esperança ou expectativa que o gosto pela Eng. Civil chegasse, mas nunca chegou. Desisti do curso na fase final. Quando comecei a ver que iria ser Engenheiro Civil, não gostei nada do vi. Senti que aquilo não era para mim, que iria ser um mau profissional e iria detestar todos os dias do meu trabalho, e muito provavelmente iria ser infeliz, e isso não poderia acontecer. Literalmente, fugi de ser Engenheiro Civil. Tomei aqui a mais difícil e mais importante decisão da minha vida (pelo menos, até aqui). Alterou tudo e sempre que penso nisto, digo ou penso (com as mão viradas para o céu 🙂 ): “ainda bem que tive a coragem de tomar esta decisão” (quase com um alivio ligeiro de satisfação, porque, realmente, foi difícil e a decisão poderia ter sido outra).
Sempre gostei muito de viajar. De viver experiências novas. Nunca tinha visto esta área como uma profissão (quando tinha 18 anos, ser profissional na área do turismo era pouco mais que trabalhar num hotel). Mas tomada a decisão de “fugir”, senti que não poderia voltar a falhar, que o tempo da minha vida estava a andar (e não estava ir para novo). Não poderia escolher ser uma coisa que gostasse mais ou menos, tinha de arriscar tudo naquilo que mais gostava e naquilo que poderia ser melhor. Investi tudo na área do turismo. Apesar de não ter concluído a Licenciatura, concorri a um Mestrado em Desenvolvimento de Produtos de Turismo Cultural no Politécnico em Tomar. Como estava na fase final da Licenciatura, entrei, com o compromisso de acabar a Licenciatura antes de entrar no ano da tese de Mestrado. Na verdade, o que eu queria, não era um papel a dizer que era Mestre, queria era saber mais (isto das omeletes sem ovos não existe, e independentemente da forma e do onde, a formação e conhecimento é fundamental) e sobretudo saber se era mesmo aquilo que queria. Superou todas as expectativas. Fiz o primeiro ano de Mestrado, ou seja, toda a parte curricular. E correu tão bem, que já não voltei mais para Coimbra e coloquei o derradeiro ponto final na Eng. Civil. Como é obvio, não concluí o Mestrado, mas o meu objectivo ali estava mais que cumprido.
Foi neste momento, algures em 2012, que começou a verdadeira viagem.
Comecei a viajar cada vez mais, sobretudo em Portugal, sobretudo de bicicleta, sozinho e de mochila às costas. Falei com imensas pessoas (desde pastores, a padeiros ou taberneiros), bebi vinho tinto nas mais remotas tabernas, jantei à mesa com famílias que conheci no dia, apanhei chuva, frio, vento e calor, mergulhei nas águas de algumas das praias mais bonitas que já vi, saltei de cascatas, fiz surf (sem ter jeito nenhum para a coisa), comi comidas incríveis, quase que fui atropelado por uma vaca e muito outras coisas relacionadas com a palavra viver. Queria conhecer tudo (ainda não conheci tudo, nunca vou conhecer tudo, mas nunca vou parar de tentar conhecer tudo) e cada vez sentia maior paixão e admiração pelo meu país, tão pequeno, tão diverso e tão particular. Criei um blog chamado O Meu Escritório é lá Fora!. Para cortar de vez as poucas amarras que ainda me prendiam à Eng. Civil e sobretudo na maneira como os outros me viam (não era o mais importante, mas acho que resultou). Queria ter um escritório lá fora, fora de um gabinete aborrecido, queria ser senhor do meu tempo e lutar pelos meus sonhos. Criei o blog no Verão de 2013 e nunca alguma vez pensei que pudesse ter a projeção que tem hoje. No inicio, sinceramente, aquilo nem era bem um blog, era um site (ou uma coisa) onde de tempos a tempos colocava uma história de uma aventura ou viagem minha. Demorou cerca de um ano a ganhar forma de blog e hoje é a minha imagem de marca. Tão forte, que acho que enquanto eu viver o Meu Escritório é lá Fora! também vai existir. Aqui, penso eu, o sucesso resulta de uma aliança de características, a velhinha 🙂 criatividade e um maneira muito genuína de partilhar o que vejo, o que vivo e o que sinto. Tenho o coração ao pé da boca, basicamente é isso.
Descobri que gosto tanto de contar histórias sobre as minhas viagens, como de viajar.
O blog foi crescendo, o interesse sobre ele e sobre mim foi aumentando. Estava a seguir o meu caminho. No final de 2014, achei que era tempo de ter o primeiro emprego nesta área. E para além de ai já existir alguma dificuldade em me qualificar profissionalmente, sentia que me tinha de “vender” de uma forma diferente. Até porque o meu percurso fugi um pouco ao padrão e os formatos de currículo e candidaturas de emprego estão formatados para o padrão. Resolvi “sair da caixa” e mostrar que quem me contratasse, estaria a contratar alguém diferente. Fiz um video currículo, já que em papel era difícil e nos formatos de CV standard mais difícil ainda, e assim mostrava a mostrar a mais valia que seria contratar-me. Lá fiz o video, comigo como protagonista. Em 3 minutos, falei do meu percurso, das minhas viagens, do meu blog, da minha vida. Para além do que falei e mostrei, penso que consegui transmitir a tal criatividade e vontade de arriscar, ser diferente (e capacidade de desenrascar, já que nunca tinha feito/editado um video anteriormente 😉 ). Publiquei-o numa 3a feira à noite. Na 4a feira de manhã já tinha duas propostas de trabalho, na 4a feira à noite já tinha quase aceite uma, na 2a feira seguinte fui conhecer pessoalmente o dono da empresa e passado uma semana já estava a trabalhar na A2Z Adventures, agência de viagens, especializada em viagens a pé e de bicicleta, como gestor do projeto Bikotel. Mais uma aventura e história para contar aos netos. Esta aventura na A2Z durou 1 ano e meio e terminou em Junho de 2016, por minha vontade. Sempre soube que não iria trabalhar ali para sempre. Era apenas uma etapa. Quase como uma última etapa na minha formação antes de avançar para a minha “viagem” em solitário. Senti que era tempo de ser o dono do meu tempo e seguir o meu caminho.
Sim, é isso mesmo, despedi-me para trabalhar a tempo inteiro n’O Meu Escritório é lá Fora! 😉 (só ao nível de um sonhador profissional, certo? 🙂 )
Em 2015 o blog disparou e minha vida foi um turbilhão. Fui (o blog, é quase a mesma que eu) nomeado na categoria de Melhor Blog de Viagens Pessoal na BTL, apareci em diversas publicações, dei uma entrevista na RTP no programa Verão Total e finalizei o ano como capa do jornal mensal da minha região. Em 2016 as visualizações no blog quintuplicaram, falei em público em seminários e palestras diversas vezes (adoro), e tive a minha primeira publicação lá fora (este lá fora é mesmo no estrangeiro), com um artigo sobre São Miguel no site de viagens da atriz norte-americana Meghan Markle. Pelo meio, lá continuei com as minhas viagens e experiências (sempre o mesmo, não é?).
2017 tem sido o ano de afirmação e reconhecimento do blog. Um espécie de “estou a colher o que plantei”. Fui consagrado com prémios, como “Blog de Viagens Mais Popular de 2017”, conquistado na FITUR (Feira de Turismo de Madrid), nomeação como “Melhor Blog de Viagens Profissional” no BTL Blogger Travel Awards (ainda em concurso) ou a atribuição do “Galardão Turismo” na gala da rádio Antena Livre. Tive, também, menções honrosas em publicações como Público, Publituris ou NIT. Escrevo isto com um orgulho que nem imaginam.
Acredito que somos do tamanho das histórias que temos para contar. Acredito mesmo. Vou continuar a crescer.