Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Região Centro.
Portugal é um país maravilhoso. Por muitas razões. Mas talvez a que mais me encanta é a diversidade. E dentro da diversidade, a unicidade de cada território e velocidade a que tudo muda é algo de extraordinário. Chegar a este território raiano, para mim, não precisa de placa para saber cheguei. Quase que arrisco a dizer que até pelo cheiro ia lá. Bem, pelo cheiro é quase número de circo, mas pela paisagem é fácil para qualquer um. A planície de longos campos, apenas interrompidas por imponentes maciços rochosos. As suas aldeias que carácter impar. E até pelas pessoas, existe algo de diferente. Penha Garcia fica a Este de Monsanto, a pouco mais de 10km da, talvez, “aldeia mais portuguesa de Portugal”, e a pouco mais de 10km da linha de fronteira que separa Portugal de Espanha, isto a Oeste da aldeia. Cheguei pelo lado de Monsanto. A primeira imagem de Penha Garcia é um conjunto de casas, cuidadosamente alinhadas, numa encosta junto à estrada. O traço e arquitectura, não é distinto, como acontece em Monsanto ou em Idanha-a-Velha. Talvez por isso o primeiro impacto não nos deixe de boca aberta. Deixei a estrada principal e segui para o interior da aldeia. Estacionei o carro junto à praça onde está um tanque de guerra (em homenagem aos combatentes do Ultramar e ao 25 de Abril), que funciona como uma espécie de elemento 0 na visita a Penha Garcia. É aqui que tudo começa. Depois de deixar o carro e entrar na primeira rua, já a pé, é como entrar num universo paralelo e um parque de diversões, para amantes de histórias como eu. São ruas, becos, bairros, casas, paredes, portas, janelas, pessoas, enfim, um sem fim de pormenores, que me fizeram, literalmente, perder em Penha Garcia. A pequena aldeia transformou-se, num ápice, num lugar gigante. Subi ruas, desci ruas. Parecia que estava numa montanha russa, numa daquelas partes em passamos por um túnel. O nosso nível de adrenalina está alto, tudo nos parece igual, mas tudo nos provoca sensações diferentes. Sentia-me positivamente afunilado nas ruas desta graciosa aldeia. Até que, as ruas começaram a alargar, a visão começou a ficar mais ampla e novos ângulos começaram a surgir. Já conseguia ver, entre as ruas, a Igreja Matriz e a torre do Castelo. Veloz, mas atento, cheguei à escadaria da Igreja. Aí um novo cenário surgiu. A vista de Penha Garcia para o mundo. Até onde a vista alcança. A pequena aldeia de ruas estreitas, transformou-se num lugar gigante, onde nos sentimos gigantes. Tudo isto, e toda esta diferença de visões, percepções e sentimentos, a mudar em segundos. Talvez só os lugares mágicos o consigam. Sentei-me na escadaria a observar o tempo passar. Ouvia o vento e os pássaros (acredito que também seja um bom lugar para eles viverem), sons apenas interrompidos pelos toques dos sinos a assinalarem a hora do dia. Aqui, onde o tempo passa mais devagar, até essas pequenas coisas têm muita importância. Subi dos degraus e contornei a Igreja. Passei a ver o Castelo mais perto. Estava num patamar superior em relação à Igreja. Estava feliz e sentia que já tinha visto muito. Até que, de repente, o muito pareceu pouco. Vi o que estava nas “traseiras” da aldeia. Um novo mundo que nos deixa de boca aberta. Um vale e pequenas, mas imponentes, montanhas rochosas, com as cores verde e cinzento em simbiose perfeita, com moinhos a dar um toque de carácter, e uma barragem que, apesar de recente, me faz lembrar o mundo encantado do Senhor dos Anéis, construída entre gigantes rochas, com azul a surgir, formando um belíssimo lago. Como cereja no topo do bolo, uma cascata e uma praia fluvial, que apetece não só mergulhar, como apetece levar para casa, de tão perfeitas que são (assim para colocar no jardim e impressionar os amigos). Isto é o quadro que existe, como um grande segredo, nas traseiras da Igreja de Penha Garcia. Estava encantado e a pensar, “quem és tu, Penha Garcia?”.
Ainda subi ao Castelo (com uma vista deslumbrante), mas o mal já estava feito. Estava encantado com Penha Garcia.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.