postal são roque do pico
Cais do Pico, São Roque do Pico, Ilha do Pico, Açores e Portugal. Uma espécie de construção matrioska da minha projecção de um postal, onde o genuíno impera. Estava um nevoeiro cerrado no Cais do Pico. Assim começa a minha história.
Hoje em dia todos os nomes de grandes e pequenas povoações dos Açores são-me familiares. Há poucos anos não eram. Sabia o nome das ilhas. Hoje, com sorte, se me disseram um nome de uma rua da ilha do Pico, corro o risco de acertar. Como adoro aquela terra. Não é o lugar onde nasci, não vivo lá e muito provavelmente não irei lá viver lá. Mas já considero este pedaço de terra Atlântica como minha. Percebem o sentimento? Acho que um sentimento tão típico dos Açores. Sinto-o como algo magnético. Onde o natural é ser belo e onde o simples é perfeito. No final de Maio, do ano 2018, decidi viver durante 10 dias na ilha do Pico e mais concretamente no concelho de São Roque do Pico. Há anos, poucos, São Roque do Pico era um daqueles nomes dos Açores que eu não conhecia. Hoje é quase tão familiar como a palavra casa. Recuo a esse mês de Maio e ao Cais do Pico, e ao nevoeiro cerrado. O Cais do Pico, para mim, é o coração de São Roque. Junto à antiga Fábrica da Baleia Armações Baleeiras Reunidas, Lda, hoje Museu da Indústria Baleeira, com vista para a marginal de São Roque e para os contornos da ilha de São Jorge, sentei-me na rampa de entrada das baleias (a caça e transformação da baleia foi extinta em 1984) a ouvir o mar a bater nos muros de pedra e viajar no tempo. No tempo dos homens do vinho licoroso e das baleias. No tempo em que não existiam aviões. No tempo em que chegar ao Pico era apenas para os mais audazes. Não tinha plano e iria ficar durante 10 dias. Levantei-me e dei inicio à viagem. Já vos disse que estava um nevoeiro cerrado?
São Roque do Pico, é um dos três concelhos que formam o território da ilha do Pico (juntamente com as Lajes do Pico e a Madalena). Tem cerca de 3500 habitantes e cerca de 150 km2 de área. Foi terra marcada pela caça à baleia, tal como todas as ilhas do triângulo (Pico, Faial e São Jorge), e foi, e ainda é, terra de vinho e de vinhas muito particulares (rasteiras e muradas), onde “vive” destacada a casta Verdelho. Também é terra de paisagens sem fim. Para o mar, com a ilha de São Jorge a funcionar com um grande quadro onde acaba o azul. Para a terra, claro com a montanha mágica (Montanha do Pico, ponto mais alto de Portugal) a absorver todas as atenções. Também é terra de boa comida, com peixe e carne quase em igualdade pontual, no que toca ao maior destaque. Tem bons restaurantes, mas o melhor (é sempre o melhor) é encontrarem a casa da avó de alguém e comerem (e beberem) ao som de uma boa história açoreana. Não encontrei nenhuma avó, pronta a receber-me, mas encontrei a Cristina, que me recebeu de uma forma que deveria constar em todos os manuais que falam em bem receber. Tudo do melhor. Só a conversa e as histórias bastavam, mas a comida também era do melhor. Comida verdadeira, sabem? Aquela que conforta o coração. Isto tudo na Adega Buraca (portanto, vocês também podem ir visitar a Cristina). Já tinha mencionado que era terra vinho e vinha, mas ainda não tinha enaltecido que também é terra de quem faz vinho. Tenho destacar o Czar (que nome altivo para um vinho) do amigo Fortunato, que honra gerações, com uma espécie de dádiva dos deuses. Também é terra de barcos e de mestres de barcos, com a lindíssima freguesia de Santo Amaro em destaque. Santo Amaro e o seu cantinho chamado Terra Alta, dignos de um sonho do qual não vamos querer sair. Qual segredo dentro do segredo. Não posso sair de Santo Amaro sem dar um beijinho às irmãs gémeas Alzira e Conceição Neves, que são das melhores contadoras de histórias com quem já me cruzei e que fazem da sua casa e da sua escola de artesanato, uma espécie de santuário de coisas boas e genuínas. E ainda tenho de passar pela Prainha. Mais uma freguesia de São Roque. Bem, falar da Prainha é tocarem-me no coração. As ruas, a vista da Igreja, o cais, o bar da Neide, as laranjas da mãe da Sílvia, o sorriso da Sílvia, a simpatia do Daniel. Enfim, é um lugar a roçar aqueles lugares são feitos com poções mágicas. Lindíssima e com pessoas do melhor. Falando da Prainha, não posso esquecer o caminho da Prainha para São Roque. Um misto de bosque, com uma floresta que acaba no mar, e prados, com desníveis, a desafiar a física, a perder de vista. Claro, o azul do mar e a imponência estão sempre presentes. E depois também é terra acolhedora. Sim, acolheu-me a mim, como se acolhe um filho, durante os tais meus 10 dias disfarçado de açoreano. Mas também acolheu, por exemplo, o Pavel. Um russo que chegou ao Pico para mergulhar, apaixonou-se por aquele lugar (fácil!) e ali assentou arraiais. É dono do Casa Âncora, que fica em plena marginal de São Roque. Um dos restaurantes mais boa pinta, não só o Pico, mas dos Açores. E no final, como no início, é regressar ao Cais do Pico, voltar a sentar-me no muro e ouvir o som do mar. Como se o mar dissesse tudo, e onde nesse tudo o mais importante é o silêncio. Silêncio que nos faz olhar para dentro, sentir o lugar e sentirmo-nos como parte dele. Para quem acredita em fantasia, como eu, a palavra magia tem sempre que entrar aqui. Esta terra é mágica.
Sentado no muro do Cais Pico, num lugar dos baleeiros, com tal nevoeiro cerrado, tão típico dos Açores e do Pico. Que não afeta porque sabemos que tudo muda, num segundo, sabendo que o Sol vai aparecer e aquecer. Já vos tinha falado em magia? Sentado no tal muro, penso se São Roque pode ser um postal. Normalmente, os postais são de areia branca e em lugares que não existem da maneira como são mostrados. Para mim, um postal é pegar numa fotografia e entrar para dentro dela, numa mistura entre sonhos, fantasia e uma confortante realidade. São Roque, para mim, não só é um postal, como é um dos meus favoritos. Com essa conclusão, e no tal silêncio que diz tudo, fiquei no muro que ainda deve ter a minha marca. Maravilhoso, este meu São Roque.
Cais do Pico, São Roque do Pico, Ilha do Pico, Açores e Portugal. Uma espécie de construção matrioska da minha projecção de um postal, onde o genuíno impera. Estava um nevoeiro cerrado no Cais do Pico. Assim começa a minha história.
Hoje em dia todos os nomes de grandes e pequenas povoações dos Açores são-me familiares. Há poucos anos não eram. Sabia o nome das ilhas. Hoje, com sorte, se me disseram um nome de uma rua da ilha do Pico, corro o risco de acertar. Como adoro aquela terra. Não é o lugar onde nasci, não vivo lá e muito provavelmente não irei lá viver lá. Mas já considero este pedaço de terra Atlântica como minha. Percebem o sentimento? Acho que um sentimento tão típico dos Açores. Sinto-o como algo magnético. Onde o natural é ser belo e onde o simples é perfeito. No final de Maio, do ano 2018, decidi viver durante 10 dias na ilha do Pico e mais concretamente no concelho de São Roque do Pico. Há anos, poucos, São Roque do Pico era um daqueles nomes dos Açores que eu não conhecia. Hoje é quase tão familiar como a palavra casa. Recuo a esse mês de Maio e ao Cais do Pico, e ao nevoeiro cerrado. O Cais do Pico, para mim, é o coração de São Roque. Junto à antiga Fábrica da Baleia Armações Baleeiras Reunidas, Lda, hoje Museu da Indústria Baleeira, com vista para a marginal de São Roque e para os contornos da ilha de São Jorge, sentei-me na rampa de entrada das baleias (a caça e transformação da baleia foi extinta em 1984) a ouvir o mar a bater nos muros de pedra e viajar no tempo. No tempo dos homens do vinho licoroso e das baleias. No tempo em que não existiam aviões. No tempo em que chegar ao Pico era apenas para os mais audazes. Não tinha plano e iria ficar durante 10 dias. Levantei-me e dei inicio à viagem. Já vos disse que estava um nevoeiro cerrado?
São Roque do Pico, é um dos três concelhos que formam o território da ilha do Pico (juntamente com as Lajes do Pico e a Madalena). Tem cerca de 3500 habitantes e cerca de 150 km2 de área. Foi terra marcada pela caça à baleia, tal como todas as ilhas do triângulo (Pico, Faial e São Jorge), e foi, e ainda é, terra de vinho e de vinhas muito particulares (rasteiras e muradas), onde “vive” destacada a casta Verdelho. Também é terra de paisagens sem fim. Para o mar, com a ilha de São Jorge a funcionar com um grande quadro onde acaba o azul. Para a terra, claro com a montanha mágica (Montanha do Pico, ponto mais alto de Portugal) a absorver todas as atenções. Também é terra de boa comida, com peixe e carne quase em igualdade pontual, no que toca ao maior destaque. Tem bons restaurantes, mas o melhor (é sempre o melhor) é encontrarem a casa da avó de alguém e comerem (e beberem) ao som de uma boa história açoreana. Não encontrei nenhuma avó, pronta a receber-me, mas encontrei a Cristina, que me recebeu de uma forma que deveria constar em todos os manuais que falam em bem receber. Tudo do melhor. Só a conversa e as histórias bastavam, mas a comida também era do melhor. Comida verdadeira, sabem? Aquela que conforta o coração. Isto tudo na Adega Buraca (portanto, vocês também podem ir visitar a Cristina). Já tinha mencionado que era terra vinho e vinha, mas ainda não tinha enaltecido que também é terra de quem faz vinho. Tenho destacar o Czar (que nome altivo para um vinho) do amigo Fortunato, que honra gerações, com uma espécie de dádiva dos deuses. Também é terra de barcos e de mestres de barcos, com a lindíssima freguesia de Santo Amaro em destaque. Santo Amaro e o seu cantinho chamado Terra Alta, dignos de um sonho do qual não vamos querer sair. Qual segredo dentro do segredo. Não posso sair de Santo Amaro sem dar um beijinho às irmãs gémeas Alzira e Conceição Neves, que são das melhores contadoras de histórias com quem já me cruzei e que fazem da sua casa e da sua escola de artesanato, uma espécie de santuário de coisas boas e genuínas. E ainda tenho de passar pela Prainha. Mais uma freguesia de São Roque. Bem, falar da Prainha é tocarem-me no coração. As ruas, a vista da Igreja, o cais, o bar da Neide, as laranjas da mãe da Sílvia, o sorriso da Sílvia, a simpatia do Daniel. Enfim, é um lugar a roçar aqueles lugares são feitos com poções mágicas. Lindíssima e com pessoas do melhor. Falando da Prainha, não posso esquecer o caminho da Prainha para São Roque. Um misto de bosque, com uma floresta que acaba no mar, e prados, com desníveis, a desafiar a física, a perder de vista. Claro, o azul do mar e a imponência estão sempre presentes. E depois também é terra acolhedora. Sim, acolheu-me a mim, como se acolhe um filho, durante os tais meus 10 dias disfarçado de açoreano. Mas também acolheu, por exemplo, o Pavel. Um russo que chegou ao Pico para mergulhar, apaixonou-se por aquele lugar (fácil!) e ali assentou arraiais. É dono do Casa Âncora, que fica em plena marginal de São Roque. Um dos restaurantes mais boa pinta, não só o Pico, mas dos Açores. E no final, como no início, é regressar ao Cais do Pico, voltar a sentar-me no muro e ouvir o som do mar. Como se o mar dissesse tudo, e onde nesse tudo o mais importante é o silêncio. Silêncio que nos faz olhar para dentro, sentir o lugar e sentirmo-nos como parte dele. Para quem acredita em fantasia, como eu, a palavra magia tem sempre que entrar aqui. Esta terra é mágica.
Sentado no muro do Cais Pico, num lugar dos baleeiros, com tal nevoeiro cerrado, tão típico dos Açores e do Pico. Que não afeta porque sabemos que tudo muda, num segundo, sabendo que o Sol vai aparecer e aquecer. Já vos tinha falado em magia? Sentado no tal muro, penso se São Roque pode ser um postal. Normalmente, os postais são de areia branca e em lugares que não existem da maneira como são mostrados. Para mim, um postal é pegar numa fotografia e entrar para dentro dela, numa mistura entre sonhos, fantasia e uma confortante realidade. São Roque, para mim, não só é um postal, como é um dos meus favoritos. Com essa conclusão, e no tal silêncio que diz tudo, fiquei no muro que ainda deve ter a minha marca. Maravilhoso, este meu São Roque.