prainha, um paraíso diferente

 

Pouco passava das 10h de uma quase aleatória segunda feira do ano de 2018. O avião onde seguia, desde Lisboa, aterrava na ilha do Pico. O tempo estava ameno, aquele típico clima açoreano que baralha por completo qualquer boletim meteorológico. Desço as escadas do avião, caminho pela pista do aeroporto em direção à gare. Não há como não sorrir. Brisa a correr na cara e aquele cheirinho a mar e a verde (quem já esteve nos Açores sabe ao que me refiro). Como eu me sinto bem nos Açores (acho que já todos sabem isso). Não iria ser a minha primeira vez na ilha da montanha gigante, mas iria ser a primeira vez que iria explorar o lado Norte da ilha. Recolho a minha bagagem, entro no meu carro, ligo o gps e aponto na direção da Prainha. Pequena povoação localizada no extremo Este do concelho de São Roque do Pico. Iria ser a minha base durante a minha visita à ilha. Iria ficar uma semana.

Primeira questão, porquê a Prainha? A ilha é pequena, com algumas pequenas metrópoles (vulgo, capitais de concelho) e eu escolho uma povoação com pouco mais de 500 habitantes para “viver”. A resposta a esta questão é simples. Elevado conhecimento pessoal. Conheço-me bem. Na pesquisa inicial, sobre o assunto “onde ficar”, rapidamente percebi que era difícil falhar. Quase todos os lugares da ilha, e em particular no lado Norte, cumprem aquele meu pré-requisito essencial, que eu chamo de “simplicidade perfeita”. A experiência foi-me ensinando que as grandes viagens não se fazem de grandes monumentos, fazem-se de simples e preciosos momentos, todos eles ligados com uma palavra, genuinidade. E onde é mais fácil encontrar essa genuinidade? Bem, a resposta aqui poderia ser Açores (é o paraíso). Mas lugares como a Prainha é quase como encontrar o segredo dentro do segredo. Voltando à minha viagem. Segui, sem paragens, do aeroporto para a “minha” Prainha. (este pedaço de texto poderia ser considerado como spoiler alert. Sim, como um texto que anuncia o desfecho de um filme, antes de nós o vermos. Mas não. Conhecendo os Açores de uma forma global, conhecendo-me a mim e mesmo não conhecendo a Prainha, poderia escrever este texto um ano antes da minha chegada, que seria exatamente igual.)

Os cerca de 25km de distância que separam o Aeroporto da Prainha são, só por si, uma experiência. Que paisagem lindíssima. Por mais que conheça os Açores, por mais que pense “não vou voltar a ser surpreendido”, é impossível. Aquela boca meio aberta, aquele brilho nos olhos. Não falha. Ora aparece o mar, neste caso com vista para a ilha de São Jorge. Ora aparece a Montanha, como um gigante adormecido. Ora aparecem as vinhas, tão particulares, do Pico, ora aparece o verde, e a arquitectura, e as vaquinhas, e as pessoas, e tudo. Até o nevoeiro é bonito aqui. Sim, já pareço eu próprio a falar da minha filha, a rapariga não tem defeito nenhum. Todos os cantinhos são perfeitos. Continuei estrada fora, sem qualquer tipo de pressa de chegar. Acho que esta é a sintonia perfeita para os Açores, sem sofreguidão na descoberta. É um lugar para se sentir, para se viver. Poucos minutos antes de ver a placa a indicar Prainha e quando estava a atravessar uma espécie de bosque, com o verde mais verde que já vi, recebo uma mensagem do Daniel. “Carlos já estou à tua espera. Segue as indicações para a recepção das Adegas do Pico”. O Daniel seria o meu anfitrião na ilha. É continental, enamorou-se por uma rapariga do Pico (a querida Sílvia) em Coimbra e depois enamorou-se pelos Açores (fácil!). Conheci o Daniel um ano antes, em Lisboa, e dou-lhe o mérito de ser o continental, que eu conheço, que gosta mais dos Açores do que eu. E olhem que é difícil. O Daniel é um dos sócios da Adegas do Pico (conjunto de antigas adegas tradicionais, num total de 12, hoje convertidas em espaços de turismo rural, todas na Prainha), e eu iria ficar numa das suas casinhas. Depois dos tradicionais cumprimentos, sorrisos e abraços, seguimos para a “minha” casa, de seu nome “Casa das Bananeiras” (sim, tinha mesmo bananeiras). Ao chegar, depois de passar por uma pequena estrada rural entre pequenos muros de pedra vulcânica, senti-me a chegar a um pequeno paraíso. A casa ficava numa pequena elevação e o seu átrio, mais parecia um pequeno anfiteatro para o paraíso. Tinha vista total e desafogada, para a Prainha, para o mar dos Açores e para a ilha de São Jorge. Nas traseiras da casa, uma “parede” de montanha verde, que mais parecia saída de um filme ao estilo do Jurassic Park. Só me restou perguntar ao Daniel, “mas o que é isto?”. Ele só se riu e encolheu os ombros, já embutido da simplicidade genuína tão típica da gente açoreana. Eu concluí por ele, “é o paraíso Prainha”.

Despedi-me do Daniel e fiquei a sós com a Prainha. Tinha muito tempo e a exploração iria ser feita como gosto. Devagar. Puxei uma cadeira e ao som do vento fiquei a admirar o quadro que tinha à minha frente. É difícil arranjar uma ponta solta que me fizesse questionar a beleza deste lugar. Os pequenos pedaços de terreno, dedicados a um cultivo para consumo caseiro, as pequenas casinhas de pedra que honram os recursos que a natureza deu, as estradas que acabam no mar, a gigante ilha de São Jorge que ocupava toda a largura do quadro, o saber que seres majestosos dos mares circulavam, invisíveis, mesmo à minha frente. Sim, baleias. Tudo isto, e mais alguns pormenores de cuidado requinte faziam-me questionar que paraíso é este. Longe do olhar do turismo massificado (graças a Deus), um lugar admirado por quem lá vive, com rotinas muito próprias, que poderiam ser vistas a olho nu a partir da minha cadeira da Casa das Bananeiras. O título desta história poderia ser “ainda há pescadores” ou “ainda há pastores”. No entanto, sem ser um lugar perdido no tempo. 

Desço da minha cadeira e vou ver o quadro mais de perto. Sozinho e a pé, começo a explorar a ruas da Prainha. Não se ouve um som. Circundo o largo da bonita igreja local, com pormenores em pedra e cerâmica, e dou de caras com um pequeno café. Faço o que faço sempre. Entro e encaro o choque cultural (calma que isto não é a India). Peço uma bebida e sento-me no banco corrido da rua. Nem 5 minutos passaram e já estava a falar com a gente local. 15 minutos e já sabia o nome de 1/10 da população da Prainha, e onde deveria de ir e o que não poderia perder. Durante a conversa, não conseguia esconder a minha simples e genuína felicidade. Era uma espécie de validação ou confirmação das minhas expectativas sobre este lugar. Voltando atrás, é claro que o choque cultural nunca aconteceu. É claro que eu já sabia o que iria acontecer. Já me sentia em casa na Prainha, mesmo sem conhecer todas as ruas. E, para mim, a grandeza das viagens é isso mesmo, viver, nem que seja por um bocadinho, como os locais vivem. Estava há 2 horas na Prainha e já tinha sido convidado para pescar, para a abertura do bar da praia ou simplesmente “avisado” para estar à vontade, porque para tudo o que precisasse poderia ter ajuda. Simples. Isto é o paraíso, não é?

Deixo o pequeno café e a agradável conversa, para trás e sigo em direção ao mar. A Prainha é Prainha porque é única praia de areia da ilha do Pico. Mesmo que seja só um cantinho. É um cantinho muito bonito. Mas este ano sem areia, o mar tomou conta do pedaço. Acho que as gentes da Prainha e dos Açores já estão habituadas ao poder da natureza e aceitam-no sem contestar. Percorro a marginal, em terra batida, da praia da Prainha, apenas parando um pouco para admirar dois homens que faziam pesca submarina, numa das muitas baías que este lugar tem. Acabo por ficar mais tempo do que o tinha pensado inicialmente. Na verdade, estava sem uma agenda fechada, e poderia dar-me o prazer de viver estes pequenos momentos. No final um dos pescadores trazia um polvo entrelaçado num dos braços. Entre cumprimentos, percebo que eram gente do continente que recentemente tinham comprado casa na Prainha. Curiosamente até tinham chegado no mesmo avião que eu. Portanto foi quase saltar do avião para dentro de água. Entre conversas, lá surgiu da parte deles a conclusão mais esperada sobre o assunto “porquê a Prainha?” para compra de uma segunda casa (isto depois de perceber que não existiam quaisquer laços familiares que os ligassem a este lugar). “Isto é o paraíso!”. Bem, este paraíso, com tudo o já tinha visto e vivido, soou-me a déjà vu. Sim, é claro que o convite para jantar em casa deles surgiu. 

Depois de dar uma volta quase completa ao núcleo “mais urbano” da Prainha, volto a casa já com o dia a caminhar para o fim. Antes das última luz do Sol, pego no carro e vou percorrer os extremos desta povoação. Bem, é de filme. O risco de exagero é grande e de repetição ainda maior é. Mas a benção a que este lugar foi consagrado é digna de registo. Tudo é belo, nada é exagerado. E mais interessante, tudo é diferente, diferente do “normal” belo, mas sem duvidar que é belo. Percebem? Talvez por isso se torne quase como magnético, o não termos resposta para o que estamos a ver e  viver e, consequentemente, para o que estamos a sentir. Num ápice, a calma da Prainha transformava-se numa enorme falésia, e o “núcleo urbano” ficava a parecer pertencer a um filme de gigantes. Num ápice uma pequena casinha, com a sua particular vinha ao lado, prendia a minha total atenção, quase como um filme da idade média. Num ápice apetecia-me ficar para sempre na piscina natural Poça Branca, num acto de total veraneio. Sol, mar e mergulhos. No meio de tudo isto, questionava-me de tal forma que já roçava a afirmação, “podia viver aqui”. Iria ser feliz de certeza.

Já com Sol a dar o último raio, volto, por 5 minutos, à minha cadeira no átrio da Casa das Bananeiras. Momentos como este nunca devem ser desperdiçados. “Equipo-me” para jantar. Não sem antes, a Sílvia me ter deixado um saco de laranjas da horta da sua Mãe, para o pequeno-almoço do dia seguinte (a tal genuinidade perfeita). O jantar seria no Canto do Paço. Mais uma agradável surpresa nesta Prainha. Espaço simples, leve e bonito. E claro, comida boa e gente simpática. Jantei calmamente e caminhei para a abertura do Bar da Praia. Sim, da tal praia de areia (que este ano não tem, mas que não é problema). Encontrei novamente o Daniel, sentei-me à mesa com ele e com os seus amigos. Portanto, tudo tranquilo no meu paraíso. É um paraíso diferente, que não confere com os sinónimos de paraíso. Mas, para mim, vai ser sempre um paraíso.

Até já, Prainha.

 

Pouco passava das 10h de uma quase aleatória segunda feira do ano de 2018. O avião onde seguia, desde Lisboa, aterrava na ilha do Pico. O tempo estava ameno, aquele típico clima açoreano que baralha por completo qualquer boletim meteorológico. Desço as escadas do avião, caminho pela pista do aeroporto em direção à gare. Não há como não sorrir. Brisa a correr na cara e aquele cheirinho a mar e a verde (quem já esteve nos Açores sabe ao que me refiro). Como eu me sinto bem nos Açores (acho que já todos sabem isso). Não iria ser a minha primeira vez na ilha da montanha gigante, mas iria ser a primeira vez que iria explorar o lado Norte da ilha. Recolho a minha bagagem, entro no meu carro, ligo o gps e aponto na direção da Prainha. Pequena povoação localizada no extremo Este do concelho de São Roque do Pico. Iria ser a minha base durante a minha visita à ilha. Iria ficar uma semana.

Primeira questão, porquê a Prainha? A ilha é pequena, com algumas pequenas metrópoles (vulgo, capitais de concelho) e eu escolho uma povoação com pouco mais de 500 habitantes para “viver”. A resposta a esta questão é simples. Elevado conhecimento pessoal. Conheço-me bem. Na pesquisa inicial, sobre o assunto “onde ficar”, rapidamente percebi que era difícil falhar. Quase todos os lugares da ilha, e em particular no lado Norte, cumprem aquele meu pré-requisito essencial, que eu chamo de “simplicidade perfeita”. A experiência foi-me ensinando que as grandes viagens não se fazem de grandes monumentos, fazem-se de simples e preciosos momentos, todos eles ligados com uma palavra, genuinidade. E onde é mais fácil encontrar essa genuinidade? Bem, a resposta aqui poderia ser Açores (é o paraíso). Mas lugares como a Prainha é quase como encontrar o segredo dentro do segredo. Voltando à minha viagem. Segui, sem paragens, do aeroporto para a “minha” Prainha. (este pedaço de texto poderia ser considerado como spoiler alert. Sim, como um texto que anuncia o desfecho de um filme, antes de nós o vermos. Mas não. Conhecendo os Açores de uma forma global, conhecendo-me a mim e mesmo não conhecendo a Prainha, poderia escrever este texto um ano antes da minha chegada, que seria exatamente igual.)

Os cerca de 25km de distância que separam o Aeroporto da Prainha são, só por si, uma experiência. Que paisagem lindíssima. Por mais que conheça os Açores, por mais que pense “não vou voltar a ser surpreendido”, é impossível. Aquela boca meio aberta, aquele brilho nos olhos. Não falha. Ora aparece o mar, neste caso com vista para a ilha de São Jorge. Ora aparece a Montanha, como um gigante adormecido. Ora aparecem as vinhas, tão particulares, do Pico, ora aparece o verde, e a arquitectura, e as vaquinhas, e as pessoas, e tudo. Até o nevoeiro é bonito aqui. Sim, já pareço eu próprio a falar da minha filha, a rapariga não tem defeito nenhum. Todos os cantinhos são perfeitos. Continuei estrada fora, sem qualquer tipo de pressa de chegar. Acho que esta é a sintonia perfeita para os Açores, sem sofreguidão na descoberta. É um lugar para se sentir, para se viver. Poucos minutos antes de ver a placa a indicar Prainha e quando estava a atravessar uma espécie de bosque, com o verde mais verde que já vi, recebo uma mensagem do Daniel. “Carlos já estou à tua espera. Segue as indicações para a recepção das Adegas do Pico”. O Daniel seria o meu anfitrião na ilha. É continental, enamorou-se por uma rapariga do Pico (a querida Sílvia) em Coimbra e depois enamorou-se pelos Açores (fácil!). Conheci o Daniel um ano antes, em Lisboa, e dou-lhe o mérito de ser o continental, que eu conheço, que gosta mais dos Açores do que eu. E olhem que é difícil. O Daniel é um dos sócios da Adegas do Pico (conjunto de antigas adegas tradicionais, num total de 12, hoje convertidas em espaços de turismo rural, todas na Prainha), e eu iria ficar numa das suas casinhas. Depois dos tradicionais cumprimentos, sorrisos e abraços, seguimos para a “minha” casa, de seu nome “Casa das Bananeiras” (sim, tinha mesmo bananeiras). Ao chegar, depois de passar por uma pequena estrada rural entre pequenos muros de pedra vulcânica, senti-me a chegar a um pequeno paraíso. A casa ficava numa pequena elevação e o seu átrio, mais parecia um pequeno anfiteatro para o paraíso. Tinha vista total e desafogada, para a Prainha, para o mar dos Açores e para a ilha de São Jorge. Nas traseiras da casa, uma “parede” de montanha verde, que mais parecia saída de um filme ao estilo do Jurassic Park. Só me restou perguntar ao Daniel, “mas o que é isto?”. Ele só se riu e encolheu os ombros, já embutido da simplicidade genuína tão típica da gente açoreana. Eu concluí por ele, “é o paraíso Prainha”.

Despedi-me do Daniel e fiquei a sós com a Prainha. Tinha muito tempo e a exploração iria ser feita como gosto. Devagar. Puxei uma cadeira e ao som do vento fiquei a admirar o quadro que tinha à minha frente. É difícil arranjar uma ponta solta que me fizesse questionar a beleza deste lugar. Os pequenos pedaços de terreno, dedicados a um cultivo para consumo caseiro, as pequenas casinhas de pedra que honram os recursos que a natureza deu, as estradas que acabam no mar, a gigante ilha de São Jorge que ocupava toda a largura do quadro, o saber que seres majestosos dos mares circulavam, invisíveis, mesmo à minha frente. Sim, baleias. Tudo isto, e mais alguns pormenores de cuidado requinte faziam-me questionar que paraíso é este. Longe do olhar do turismo massificado (graças a Deus), um lugar admirado por quem lá vive, com rotinas muito próprias, que poderiam ser vistas a olho nu a partir da minha cadeira da Casa das Bananeiras. O título desta história poderia ser “ainda há pescadores” ou “ainda há pastores”. No entanto, sem ser um lugar perdido no tempo. 

Desço da minha cadeira e vou ver o quadro mais de perto. Sozinho e a pé, começo a explorar a ruas da Prainha. Não se ouve um som. Circundo o largo da bonita igreja local, com pormenores em pedra e cerâmica, e dou de caras com um pequeno café. Faço o que faço sempre. Entro e encaro o choque cultural (calma que isto não é a India). Peço uma bebida e sento-me no banco corrido da rua. Nem 5 minutos passaram e já estava a falar com a gente local. 15 minutos e já sabia o nome de 1/10 da população da Prainha, e onde deveria de ir e o que não poderia perder. Durante a conversa, não conseguia esconder a minha simples e genuína felicidade. Era uma espécie de validação ou confirmação das minhas expectativas sobre este lugar. Voltando atrás, é claro que o choque cultural nunca aconteceu. É claro que eu já sabia o que iria acontecer. Já me sentia em casa na Prainha, mesmo sem conhecer todas as ruas. E, para mim, a grandeza das viagens é isso mesmo, viver, nem que seja por um bocadinho, como os locais vivem. Estava há 2 horas na Prainha e já tinha sido convidado para pescar, para a abertura do bar da praia ou simplesmente “avisado” para estar à vontade, porque para tudo o que precisasse poderia ter ajuda. Simples. Isto é o paraíso, não é?

Deixo o pequeno café e a agradável conversa, para trás e sigo em direção ao mar. A Prainha é Prainha porque é única praia de areia da ilha do Pico. Mesmo que seja só um cantinho. É um cantinho muito bonito. Mas este ano sem areia, o mar tomou conta do pedaço. Acho que as gentes da Prainha e dos Açores já estão habituadas ao poder da natureza e aceitam-no sem contestar. Percorro a marginal, em terra batida, da praia da Prainha, apenas parando um pouco para admirar dois homens que faziam pesca submarina, numa das muitas baías que este lugar tem. Acabo por ficar mais tempo do que o tinha pensado inicialmente. Na verdade, estava sem uma agenda fechada, e poderia dar-me o prazer de viver estes pequenos momentos. No final um dos pescadores trazia um polvo entrelaçado num dos braços. Entre cumprimentos, percebo que eram gente do continente que recentemente tinham comprado casa na Prainha. Curiosamente até tinham chegado no mesmo avião que eu. Portanto foi quase saltar do avião para dentro de água. Entre conversas, lá surgiu da parte deles a conclusão mais esperada sobre o assunto “porquê a Prainha?” para compra de uma segunda casa (isto depois de perceber que não existiam quaisquer laços familiares que os ligassem a este lugar). “Isto é o paraíso!”. Bem, este paraíso, com tudo o já tinha visto e vivido, soou-me a déjà vu. Sim, é claro que o convite para jantar em casa deles surgiu. 

Depois de dar uma volta quase completa ao núcleo “mais urbano” da Prainha, volto a casa já com o dia a caminhar para o fim. Antes das última luz do Sol, pego no carro e vou percorrer os extremos desta povoação. Bem, é de filme. O risco de exagero é grande e de repetição ainda maior é. Mas a benção a que este lugar foi consagrado é digna de registo. Tudo é belo, nada é exagerado. E mais interessante, tudo é diferente, diferente do “normal” belo, mas sem duvidar que é belo. Percebem? Talvez por isso se torne quase como magnético, o não termos resposta para o que estamos a ver e  viver e, consequentemente, para o que estamos a sentir. Num ápice, a calma da Prainha transformava-se numa enorme falésia, e o “núcleo urbano” ficava a parecer pertencer a um filme de gigantes. Num ápice uma pequena casinha, com a sua particular vinha ao lado, prendia a minha total atenção, quase como um filme da idade média. Num ápice apetecia-me ficar para sempre na piscina natural Poça Branca, num acto de total veraneio. Sol, mar e mergulhos. No meio de tudo isto, questionava-me de tal forma que já roçava a afirmação, “podia viver aqui”. Iria ser feliz de certeza.

Já com Sol a dar o último raio, volto, por 5 minutos, à minha cadeira no átrio da Casa das Bananeiras. Momentos como este nunca devem ser desperdiçados. “Equipo-me” para jantar. Não sem antes, a Sílvia me ter deixado um saco de laranjas da horta da sua Mãe, para o pequeno-almoço do dia seguinte (a tal genuinidade perfeita). O jantar seria no Canto do Paço. Mais uma agradável surpresa nesta Prainha. Espaço simples, leve e bonito. E claro, comida boa e gente simpática. Jantei calmamente e caminhei para a abertura do Bar da Praia. Sim, da tal praia de areia (que este ano não tem, mas que não é problema). Encontrei novamente o Daniel, sentei-me à mesa com ele e com os seus amigos. Portanto, tudo tranquilo no meu paraíso. É um paraíso diferente, que não confere com os sinónimos de paraíso. Mas, para mim, vai ser sempre um paraíso.

Até já, Prainha.

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