a vila de São bartolomeu de Messines
São Bartolomeu de Messines, é uma pequena vila no interior do Algarve, pertencente ao concelho de Silves e inserida no distrito de Faro. Localizada entre a serra e o barrocal, num vale fértil e rico em água, encostada a uma pequena montanha denominada de “Penedo Grande”. Embora considerada uma área de baixa densidade, contando com pouco mais de 8000 habitantes, esta é a maior freguesia da região do Algarve, e uma das maiores do país, com uma extensão de mais de 250 km2. Esta vila encontra-se integrada numa região marcadamente agrícola, onde são comuns as oliveiras, as alfarrobeiras, as amendoeiras, as figueiras, e os vastos pomares, e onde a criação de gado e a prática da caça, fazem parte da sua génese.
Os vestígios do Paleolítico e do Neolítico permitem afirmar que este lugar foi habitado desde os primórdios da Humanidade. Apesar da ocupação romana, estar já há muito atestada, foi entre os anos de 2009 e 2014, no decorrer de escavações nesta freguesia, que se descobriu uma villa romana da Corte. Esta villa foi o primeiro complexo edificado, do período romano, localizado no barrocal algarvio, e a mais importante estrutura deste período, escavada na região do Algarve. A descoberta de objetos importados do Sul de Itália e da Grécia, permitem assumir que as pessoas que habitaram este lugar, teriam um estatuto social elevado, relevando alguma prosperidade, e a descoberta de materiais ligados à produção têxtil, fazem também assumir, que essa seria uma das atividades ali desenvolvidas.
Apesar destas ligações, não só aos primórdios, como à presença romana, é durante o período de ocupação muçulmana, que se encontram as maiores referências, o que não é de estranhar, tendo em conta a incontestável relação entre essa época e o território de Silves. Durante esse período, antes da conquista por parte das tropas de D. Sancho I e os cruzados, a freguesia de São Bartolomeu de Messines, era então denominada de Mussiene. Este topónimo de origem árabe, deriva de mâzin, que quereria dizer elogioso. A utilização de adjetivos para denominar lugares, não era uma prática comum, mas existem outros exemplos, como a cidade de Elvas que deriva de risonha, ou Alte de elegante. Infelizmente, a igreja medieval não chegou aos nossos tempos, o que poderá ser explicado pela localização periférica e interior da vila, estando assim distanciada dos principais centros.
No século XIX, é através das guerrilhas entre Liberais e Miguelistas, que a vila de São Bartolomeu de Messines entra na história, enquanto quartel general de José Joaquim de Sousa Reis, que viria a ficar conhecido como o “Remexido”. É ainda durante este século, com a implementação de várias indústrias, ligadas à produção, por exemplo de aguardente de medronho, de frutos secos, da cortiça ou de esparto, que a freguesia consegue de alguma forma superar o isolamento e conhecer algum progresso, o que foi potenciado pela abertura de estradas e pelos caminhos de ferro, permitindo assim um contacto com os centros mais relevantes.
Ainda revisitando a herança deste lugar, o edifício mais imponente do património histórico da vila, é sem a menor dúvida, a Igreja Matriz de Messines, construída no século XVI, que sofreu uma considerável remodelação no início do século XVIII, o que explica a mistura de estilos que a compõem. De pórtico barroco, destacam-se as suas colunas torsas, em grés, de estilo salomónico, únicos exemplares algarvios que se conhecem. Esta igreja foi consagrada a São Bartolomeu, santo a quem os fiéis deveriam orar. Ao longo das colinas da vila, existem ainda, outros quatro locais religiosos dignos de destaque: a Ermida de Nossa Senhora da Saúde, a Ermida de São Pedro Ermida de São Sebastião e a Ermida de Sant’Ana, todas com admiráveis fachadas, em tons de vermelho e branco. Ali bem perto, junto à Igreja, encontramos ainda, a Casa Museu João de Deus, lugar onde viveu o poeta, a funcionar hoje enquanto espaço aberto à cultura, mas também enquanto lugar de homenagem e repositório de memória, de uma figura que marca grandemente não só esta vila, como o país. Uma visita ao Museu do Traje e das Tradições, permite também conhecer de forma mais profunda, as vivências e o papel do trabalho no campo e na terra, e a sua preponderância na economia da vila, principalmente associado à produção e comercialização de frutos secos, azeite e também ligado à pastorícia.
João de Deus de Nogueira Ramo, acima referido, é um dos nome incontornáveis, ligado a São Bartolomeu de Messines. Considerado o poeta do amor, e “o mais original do seu tempo” por Antero de Quental, o seu percurso é indissociável da sua obra lírica, mas também com igual, ou ainda maior relevo, ao seu percurso enquanto educador e pedagogo. João de Deus não só sonhou em ver o seu país a ler e a escrever, como dedicou parte da sua vida, a poder tornar esse sonho uma realidade, através das suas campanhas de alfabetização. Pioneiro na criação de uma metodologia para o ensino da leitura, considerada revolucionária, o seu livro a que chamou “Cartilha Maternal” publicado em 1876, foi traduzido para várias línguas, e é ainda considerado atual em muitas das suas vertentes. Filho deste lugar, João de Deus é ainda na atualidade, uma fonte de orgulho na terra que o viu nascer.
Além do património histórico reconhecido, existem na contemporaneidade da vila, atividades que lhe permitem atrair as atenções de quem a visita. Um desses eventos é a Semana Gastronómica, que acontece anualmente, durante o mês de Novembro, com o intuito não só de promover a diversidade da gastronomia desta freguesia, como de incentivar e valorizar os produtos regionais, dando a conhecer pratos típicos como os milhos com carne de porco ou as sopas bastante fortes. Outros deles, são ainda, a habitual Festa das Tradições, e também o mercado que se realiza mensalmente, na última segunda-feira de cada mês.
A experiência de descobrir esta encantadora vila, envolve um encontro com a natureza e uma ligação à terra, no sentido mais simbólico e também mais profundo, uma experiência que é em si tão palpável, que dificilmente se poderá atingir num outro lugar com a mesma intensidade. O facto de se encontrar entre a serra e o barrocal, confere-lhe características muito particulares, que embora lhe pudessem acrescentar uma certa dureza, pelo contrário, a embelezam, e lhe atribuem um carisma a que podemos chamar de poético. Este é também um daqueles lugares, que desafia a habitual noção de interioridade, fazendo com que nunca nos sintamos alheados ou mesmo afastados do frenesim dos grandes centros, entregando-nos a uma sensação de conforto, como se nada mais ali nos pudesse faltar. Como não poderia deixar de ser, também aqui são as pessoas quem melhor conta a verdade do lugar. Afáveis, de sorriso fácil e com o dom de bem receber quem as visita, são elas quem realmente glorifica a genuinidade desta vila, e isso é evidente mesmo antes de as ouvirmos falar, apenas com a leveza dos seus gestos e a sinceridade que carregam no rosto.
Embora todas estas razões, expressem de forma clara a unicidade deste lugar, dentro do aclamado território do Algarve, explorar a vila de São Bartolomeu de Messines, pode ainda assim, parecer uma viagem improvável. Sendo que, a ausência de praia, pode explicar em parte esse estereótipo, já que esse é um dos motivos de maior procura por esta região. Contudo, para os amantes de caminhadas e passeios pedestres, e para quem procura explorar lugares menos óbvios, onde não encontrarão enchentes de turistas, e onde um Algarve mais rural e mais autêntico ainda existe, visitar esta vila impõem-se, podendo até tornar-se um destino ideal. Este é um lugar onde nasceram políticos destacados, poetas e heróis republicanos. Este é um lugar de fronteiras curtas e vistas largas, geograficamente colocado no centro do Algarve, numa harmonia entre o mar e o início da serra e onde a sensação de plenitude ainda paira.
Julho 2020





































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