Trancoso, aldeia histórica. 

Lembro-me perfeitamente a primeira vez que visitei Trancoso. Algures no Outono de 2013. E lembro-me bem porque fiz uma viagem de bicicleta entre Bragança e Abrantes de bicicleta. Um das paragens foi em Trancoso. Fui folhear o meu diário de bordo (clássico) e na altura escrevi isto:

Chove sem parar, está frio e o pior, está muito vento, vindo de Sul para Norte, ou seja, estou levar com ele na cara.

Adiei a minha partida o máximo que consegui, na esperança que o tempo melhorasse. Era meio dia e não podia aguentar mais, apesar de esta ser a etapa mais curta, cerca de 50km, foi a mais inclinada, já que era sempre a subir até Trancoso, desde Foz Côa.

Lá segui e fiz-me à estrada em direcção à aldeia de Freixo de Numão. Foi sempre a subir, estrada serpenteada, com se fosse subindo degrau a degrau, deixando para trás o Norte do país. Aqui já a paisagem, os recursos, até as pessoas são diferentes, é nisto que viajar de bicicleta marca pontos, as mudanças são feitas lentamente, dá para ver e sentir tudo.

Os quilómetros passaram lentamente (até cheguei a pensar que o GPS estava avariado), aumentava a altitude e o tempo piorava. Passei por algumas aldeias nos primeiros quilómetros, pareciam desertas (com o tempo assim, em casa, à lareira, é que se está bem). Sempre que vi uma paragem de autocarro ou alguma espécie de abrigo parava um pouco, até porque não sabia quando iria encontrar o próximo e todo o tempo “longe” da chuva e vento soube como ouro.

Algumas vezes, passaram por mim carrinhas de caixa aberta e quase sonhava acordado, com o condutor a parar e a dizer “o senhor viajante por acaso vai para Trancoso e por acaso não quer uma boleia nesta carrinha onde não chove e que tem aquecimento”, depois levava com uma rabanada de vento e acordava. Adoro viajar, conhecer pessoas novas, lugares novos, viajar de bicicleta, mas em dias como hoje, o desejo de parar e dizer “já chega, quero chegar com saúde a casa!”. O vento cada vez estava mais forte, até mesmo quando apanhava uma descida tinha de pedalar. O vento, simplesmente, não me deixava andar. Mas devagar, devagarinho lá fui ultrapassando os quilómetros.

Cheguei e parei em Mêda, a maior localidade, intermédia, desta jornada. Cada vez mais alto, cada fez mais a paisagem se aproximava com a paisagem típica da Serra da Estrela. Continuei a parar em cada a abrigo, agora as paragens de autocarro eram autênticos bunkers, sempre com vestigios de antigas fogueiras, provavelmente de alguém numa situação parecida com a minha. Com mesmo muito sofrimento, lá cheguei a Trancoso.”

 

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

 

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