Existe um Algarve tranquilo e genuíno. Parece-me que todo o ano é assim por aqui. Falo de um pequeno lugar no topo do Cerro do Botelho, bem perto de São Brás de Alportel. Tem vista para o mar, não para um mar qualquer, para a Ria Formosa. Apesar da vista, e da proximidade, fica longe o suficiente, para evitar barulhos, ruídos e agitação, por vezes constrangedores. Ao mesmo tempo que a brisa e cheiro a mar, a “inundam” toda esta colina, sopra do lado norte um ar fresco da serra. Um contraste entre o azul e o verde, entre suave e o áspero. Neste do lugar, no Cerro do Botelho, existe uma casa, uma antiga fazenda com mais de 200 anos, com aquele típico traço Algarvio. Conseguem imaginar a tranquilidade e genuinidade deste lugar? O Frank e a Veronique conseguiram. Trocaram a Bélgica por Portugal e criaram o Farmhouse of the Palms. Um pequeno alojamento cheio de carácter. Estive lá no final de Setembro.
Consigo imaginar a cara deste casal quando entrou neste lugar pela primeira vez, ainda que completamente diferente do que é hoje. É muito fácil perceber o sentimento que liga alguém a um lugar como este, a ponto de deixarem uma vida para trás e começar uma nova. É de facto um lugar especial. Senti uma empatia imediata, quase como consegui ter o melhor de dois mundos. Por um lado a proximidade (cerca de 15 minutos de carro) com a Ria Formosa, sente-se o cheiro, existe uma ligação. Por outro lado, fica na entrada do barrocal algarvio, com ares de serra, com uma tranquilidade que nos prende. Depois a casa é lindíssima. Quase como uma mini-aldeia, cheia de pequenos pormenores, quer no exterior, quer o no interior. O Frank e a Veronique, não só se prenderam a este lugar como o perceberam. Remodelaram todo este local sem perder o seu carisma. É quase como viajar no tempo, mas com todo o conforto e comodidade que o nosso tempo exige.
O Farmhouse of the Palms, tem apenas 5 quartos. O Frank e a Veronique também vivem lá, numa casa à parte do edifício principal, com o seu filho pequeno. Apenas têm uma funcionária. E são tão simpáticos. São antigos banqueiros, com nenhuma experiência ou formação em turismo. Mas fazem bem. Recebem as pessoas (clientes), como se recebe um familiar em sua casa. Tipo aquele primo, que não vemos há muito tempo, mas que gostamos, e recebemo-lo em nossa casa para o jantar de Natal, estão a ver? É parecido. O Frank sempre sorridente e com ar descontraído, sempre a falar bem sobre Portugal e sobre o que fez vir para cá. É fácil vê-lo a correr para que nada falhe no pequeno almoço, ou a regar as (muitas) plantas, ou a cuidar da piscina. Já a Veronique, mais introvertida, mas que se percebe com um simples olhar que é boa pessoa. Isto meus amigos, esta genuinidade, é mais de meio caminho andado para tudo, a nossa experiência, turisticamente falando, correr bem. E na verdade, a minha experiência, correu muito bem.
Quase como todos os alojamentos fantásticos, que ficam em lugar fantásticos, uma das melhores coisas que se pode fazer neles é sair de lá. Sim, é estranho. Mas se estão em lugares fantásticos esses lugares têm que ser explorados. E foi exactamente isso que fiz. É delicioso sair do Farmhouse of the Palms, que fica a cerca de 300m de altitude e a 15km da costa, e passados 200m de caminho começarmos a ver o mar e a Ria Formosa. É um quadro impressionante. E se olharmos para o lado, toda uma serra a envolver-nos. “Caminhei” para Sul, em direção ao mar. Visitei o centro histórico de Faro, onde estão a acontecer coisas. Daqueles coisas boas, que surgem principalmente nas grandes cidades. São constantes os eventos e festivais ligados à criatividade e à arte. As pessoas parecem participar e entrar nesta onda. São os novos “cheios de pinta” restaurantes a surgir por ali, onde a qualidade da obra (da comida), aliada à qualidade do produto, fazem brilhar estes “novos” lugares a cada dentada. Sempre com a velha e graciosa Ria Formosa à espreita. Também visitei Olhão, mesmo ao lado de Faro. É impossível estar por perto e não visitar o Mercado de Olhão. Todo ritual diário à volta deste local é, para mim, encantador. Adoro ficar parado, simplesmente a assistir a movimentos naturais. Do peixe a chegar, do apregoar, do traje dos pescadores e vendedores de peixe, da sua ginga e linguagem. Este local de vida própria. E então se sairmos do azul cinzento, do mercado do peixe e entrarmos no mercado da fruta e legumes, parece que caímos direto numa paleta de cores. Aqui a senhoras dominam o pedaço. Apetece-me levar tudo. É tudo tão fresco. Sente-se o cheiro a terra. Rio-me sozinho, de satisfação enquanto caminho por estes lugares. Não tem aldrabices (quer dizer, podemos ser enganados no preço do peixe, mas faz parte), ou mordomias, é como é. E que assim viva para sempre. De Olhão saí para a Fuseta. Mas um exemplo do carácter da Ria Formosa. O seu ar cru e rude, encanta-me. Sinto-me bem na Fuseta. Quer dizer, as suas praias/ilhas, são tudo menos rudes, são do mais gracioso que já vi. Tipo cristal. Na verdade, talvez seja este contraste que me cativa e prende a este lugar. Entre as viagens caiu o Sol e voltei ao Farmhouse. Tal perto e tão longe do Algarve da costa. Cheguei com barulho dos pássaros a recolher aos seus ninhos. Que tranquilidade, meu Deus. Tinha o Frank e a Veronique à minha espera para jantar. Fomos a um restaurante bem no centro de São Brás de Alportel. Muitas viagens e histórias à mesa.
Com o nascer do dia, um belo pequeno almoço no páteo, junto à piscina (muito bonita). Mais uma vez o Frank, entre sorrisos e corridas para que nada falte. Tudo do mais caseiro que existe. Desde o sumo de laranja, com laranjas do Algarve, ao tradicional pão algarvio. Neste dia, “caminhei” para Norte. Queria desembrulhar a serra algarvia. Cada vez acredito mais que é um verdadeiro tesouro. Acredito que muitos saibam do que falo. Querença, Alte ou Salir. Subir ao alto do Malhão. Horizonte a perder de vista, muitas vezes com o azul do mar à espreita. Como tudo muda em instantes. A paisagens, as cores, a expressão das pessoas. O tempo parece que corre mais devagar. É um Algarve de cultivo, de sobreiros e cortiça, de amendoeiras. Um Algarve distante e talvez, não secreto, mas sagrado. Pelo menos para quem vive por lá, não deve estar a desesperar para que o descubram.
Voltei mais mais uma vez, ao cair do dia, ao Farmhouse. Mais uma vez, em silêncio, vi a estrelas a surgirem no céu. Que lugar encantador.
(era capaz de viver ali)
Obrigado Frank e Veronique, por me receberem tão bem em sua casa.
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Farmhouse of the Palms
Cerro do Botelho
8150-027 São Brás de Alportel
info@farmhouseofthepalms.pt
Tel: +351 964 478 157