Oleiros, vila do centro de Portugal.
O dia estava cinzento, talvez tenha sido a primeira grande chuva do ainda recente Outono. Este cinzento, que por um lado tornava tudo mais melancólico, por outro tornava difícil elevar a percepção do que estava à minha frente. Oleiros é um lugar de grandes planos, onde a profundidade do campo é importante. Sem ser necessário um tiro de partida, estava de pés na calçada a sentir o batimento da vila. As rotinas e os movimentos naturais, são as observações favoritas. Tornar-me, por momentos, invisível, é uma das minhas qualidades, que fazem de mim uma espécie de ninja da antropologia turística. Se bem que, num estalar de dedos, volto à terra para dizer e ouvir um bom dia, e ouvir discursos diretos de pessoas com histórias genialmente banais. Entre uma banda sonora mista, entre o vento e os sons da vida a acontecer, olhava para cada pessoa como se soubesse para onde ela ia, olhava para cada porta como se soubesse o que estava lá dentro. As ruas de Oleiros ganhavam a minha vida e os metros somavam-se, como se nada fosse. O mini mercado Ladeira, a bonita igreja matriz, o talho Simões ou café Boaventura, passaram de desconhecidos a lugares comuns, a partes sentidas do caminho. São, principalmente, eles, os lugares comuns, que fazem deste lugar, como algo único, inigualável e, por vezes, extraordinário. Se juntarmos a isto, a Dona Maria que cuida das suas flores como ninguém, ou melhor, como a sua avó cuidava, ou da conversa do sr. Manuel que divide a conversa entre o último jogo do Benfica e o próximo jogo do clube da terra, é o mesmo que transformar pedras em diamantes. Num ápice inesperado, Oleiros, a vila, passava a ser um habitat natural para a minha pessoa.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.