Cheguei a Côja, vindo de Sul, numa solarenga manhã de final de Verão. Não me recordo bem de que caminhos tomei, para chegar a esta vila que já foi sede de concelho durante quase 500 anos. Sim, 500 anos é muito tempo e muitas histórias. Como já referi, não me recordo de que caminhos tomei, recordo que me deixei navegar por coordenadas. Senti que Côja não existia no mapa, talvez pela falta de referências que transformassem tal caminho num lugar familiar, talvez pelos muitos quilómetros que fiz, talvez porque não vem mesmo nos mapas, nos mapas do turismo, nos mapas dos lugares que toda a gente já visitou. Talvez seja essa a sua maior virtude e transforma, sempre, lugares fora de mapa em lugares únicos. Quase como sagrados. Cheguei e assim que encontrei um buraquinho, estacionei.
Caminhei em direção à ponte e atravessei-a. Lentamente e a debruçar-me sobre os seus muros. De um lado, o verde da serra. Do outro lado, o rico património edificado da vila. Depois de passar a ponte, e já na margem oposta à margem da minha chegada, entrei num das pequenas ruas que alimentam o carisma do lugar. Algumas pessoas vagueavam pelas ruas de pedra sem pressas. Outras procuravam pequenas e estratégicas sombras, como refúgio do sol de Verão, que tantas vezes transforma os lugares do coração de Portugal em autênticas estufas. Caminhei sem parar e já ligado a Côja, senti-me num carrossel de coisas, que só os lugares fora de mapa oferecem. Aqueles movimentos diários, rotinas de pessoas sem presa. Sem pressa para conversar com o vizinho do lado, sem pressa para um simples bom dia, sem pressa para regatear preços, sem pressa para marcar a sua posição na vida deste lugar. A soma de todas as vidas, dão vida a este lugar. Senti-me um privilegiado, por poder viajar, de forma constante, em lugares que não vêm no mapa.
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.