vindima no casal da coelheira

 

É tempo de vindima. Esse momento marcante vivido por diferentes gerações ao longo dos anos. Portugal é um país de vinho e de vinha, e a minha terra não é excepção. A Quinta (e adega…e vinha) do Casal da Coelheira fica em Tramagal, freguesia do concelho de Abrantes. Ali bem coladinha ao rio Tejo.

Sou muito ligado à minha terra. Acho que todos sabem isso. Às vezes exagero. Dos exageros que me recordo, um dos maiores, ou talvez mesmo o maior, está ligado ao Casal da Coelheira. Cada vez que vou à adega do Casal da Coelheira, ou falo (ou bebo) nos seus vinhos, recordo-me deste episódio. Escrever sobre o Casal da Coelheira, também activa esse sentimento. Já contei esta história 1000 vezes, mas acho que nunca por aqui. Em 2016, visitei com a Liliana a região da Toscânia, em Itália, consagrada como umas das mais importantes regiões de vinho do MUNDO. Estivemos alguns dias por lá, visitámos toda a região, com paisagens estrondosas de vinhas, provámos vários vinhos e visitámos várias quintas. Uma delas em particular, na sub-sub-região Chianti Clássico. Ou seja, se a sub-região do Chianti já é especial, a sub-sub-região do Chianti Clássico é uma espécie de meca dos vinhos. Nessa quinta, estava à nossa espera uma visita especial, à quinta, adega e prova de vinhos, guiada tão somente por aquele que tinha sido considerado o sommelier do ano anterior em Itália. Sim, estão a perceber bem. Era uma pessoa muito importante. Começamos a visita à vinha, e ele falou, falou, coisas interessantes, até nos deu um copo para provarmos um vinho feito por aquela casta que estava bem à nossa frente. Estávamos num sitio de filme e ter uma experiência de actor. Provei o vinho, que era belíssimo. E qual foi a minha primeira reação? Não foi belíssimo ou bela casta que aqui tem, ou sabe a amoras com ligeiro travo a amêndoa. Enfim, conversas típicas de provas de vinho. Foi…”e os vinhos do Casal da Coelheira? Conhece?” Mal esta expressão me saiu da boca, percebi a argolada que tinha acabada de cometer, camuflada até, com uma certa dose de parolice. Mas foi genuíno. E acho que me saiu daquela forma porque não achei o vinho melhor que os vinhos do Casal da Coelheira, ou pelo menos não me soube melhor. É claro que o sommelier olhou para mim com aquela cara típica “mas que raio está este a dizer!?”. Quero acreditar que graças a isto, o Casal da Coelheira ainda hoje é falado na famosa sub-sub-região do Chianti Clássico. Na altura fiquei um bocadinho envergonhado, mas hoje recordo esta história com um sorriso carregado de orgulho.

Voltando ao Casal da Coelheira e à sua vindima de 2017. Tal como qualquer bom português, gosto de vinho. Mesmo na minha juventude, recordo os dias em que acompanhava o meu Pai à adega próxima de casa para comprar vinho. Recordo sobretudo o cheiro ao entrar na adega e apreciar aquelas cubas de vinho old school, com um azulejo a indicar a sua qualidade. Na altura não sentia um desejo ardente em beber o líquido mas já me fascinava todo o movimento à volta da cultura do vinho. Com base neste sentimento provocado pela memória, hoje, já com tamanho para um copo de vinho, acredito que esta história do vinho é muito mais do que simplesmente beber. Cada garrafa de vinho é história. Primeiro da particularidade da terra onde está plantada a sua vinha, depois no trabalho árduo da colheita, passando, é claro, pela arte de quem o faz e depois, não menos importante, pelos momentos que provoca à mesa. É para todos estes pontos, e mais alguns em falta, que olho e “bebo” a cada copo. Reforçando este sentimento, quando esse vinho é da nossa terra, um pouco da nossa história também está a ser contada a cada copo. Sim, é uma visão muito romântica. Sim, eu sou assim (e acredito mesmo no que estou a escrever). Por tudo isso, este ano segui com muita atenção a vindima do Casal da Coelheira, o vinho da minha terra.

 O Casal da Coelheira, propriedade, está dividido em 3 núcleos. A adega (e também loja), a quinta (que também vinha) e a vinha (muito concentrada junto ao rio Tejo). Andei sobretudo entre a adega e a vinha. Na adega, gosto sobretudo dos cheiro a vinho (memórias). Gosto de deambular pela cave, onde estão as barricas de carvalho, guardadas e preservadas tal como um tesouro. Gosto de ver a uva a chegar em tratores e assistir à azáfama do pessoal, para que nada falhe. Acho que embora se tenha uma noção da qualidade que virá de determinada de uva, o mais importante, em tempo de vindima, é encher a adega de uva. Depois de ela lá estar todo o procedimento segue naturalmente, e entra a criatividade do enólogo em acção. Sem uva é que nada feito. Nesta história da criatividade, acho notável que esta arte de fazer (vulgo, ser enólogo), tenha atingido patamares dignos de capa de revista. Tal como os cozinheiros passaram a chefs, os gajos da adega passaram a enólogos. Numa era tecnológica, acho delicioso que cada mais vez se valorizem estas artes que nos ligam à terra e que nos fazem enaltecer o que é nosso e que faz de nós diferentes.

Já a vinha do Casal da Coelheira, com já disse, fica, maioritariamente junto ao rio Tejo. Com um pôr do sol lindíssimo. Plantada num solo que parece quase a areia da praia. Falando em areia, algumas das vinhas chegam mesmo a ficar isoladas no Inverno, com a subida das águas, formando pequenas ilhas. Acho que no passado ninguém teria plantado vinha num terreno tão pobre. Hoje, acredito que é o que lhe dá carácter e alma, e que difere os vinhos do Casal da Coelheira dos demais. Tudo a ver com a história das histórias que falei à pouco. Se existe um ponto que marca esta região, esse ponto é rio Tejo. Aliás a própria região de vinho tem o nome de Vinhos do Tejo. A cada copo, bebemos, neste caso, também um pouco da história deste rio. E também 10 almas, quase todas mulheres, que tal como pequenas formigas trabalhadoras colheram as uvas da vinha, com cerca de 70 hectares, e fizeram esta vindima especial. Ainda para mais num Verão tão quente como este, que levou a vindima a começar mais cedo, quase no inicio de Agosto, e durar quase uma eternidade, e terminar quase no final de Setembro. Acho que ausência de chuva durante a vindima, vai fazer com que a adega fique a transbordar de uva. Tenho a certeza que a qualidade também vai lá estar.

Para terminar, uma sugestão deste vosso amigo. Final do dia: ir à adega, comprar uma garrafa, pegar num copo e numa boa companhia, ir à vinha e desfrutar do pôr do sol, com um belíssimo copo de vinho, feito daquelas uvas. Sim, daquelas uvas. Para muitos, acredito que iria ser o melhor copo de vinho. De todo o sempre.

Que o vinhos do Casal da Coelheira continuem a contar histórias da minha terra, por muitos e bons anos.

 

 

É tempo de vindima. Esse momento marcante vivido por diferentes gerações ao longo dos anos. Portugal é um país de vinho e de vinha, e a minha terra não é excepção. A Quinta (e adega…e vinha) do Casal da Coelheira fica em Tramagal, freguesia do concelho de Abrantes. Ali bem coladinha ao rio Tejo.

Sou muito ligado à minha terra. Acho que todos sabem isso. Às vezes exagero. Dos exageros que me recordo, um dos maiores, ou talvez mesmo o maior, está ligado ao Casal da Coelheira. Cada vez que vou à adega do Casal da Coelheira, ou falo (ou bebo) nos seus vinhos, recordo-me deste episódio. Escrever sobre o Casal da Coelheira, também activa esse sentimento. Já contei esta história 1000 vezes, mas acho que nunca por aqui. Em 2016, visitei com a Liliana a região da Toscânia, em Itália, consagrada como umas das mais importantes regiões de vinho do MUNDO. Estivemos alguns dias por lá, visitámos toda a região, com paisagens estrondosas de vinhas, provámos vários vinhos e visitámos várias quintas. Uma delas em particular, na sub-sub-região Chianti Clássico. Ou seja, se a sub-região do Chianti já é especial, a sub-sub-região do Chianti Clássico é uma espécie de meca dos vinhos. Nessa quinta, estava à nossa espera uma visita especial, à quinta, adega e prova de vinhos, guiada tão somente por aquele que tinha sido considerado o sommelier do ano anterior em Itália. Sim, estão a perceber bem. Era uma pessoa muito importante. Começamos a visita à vinha, e ele falou, falou, coisas interessantes, até nos deu um copo para provarmos um vinho feito por aquela casta que estava bem à nossa frente. Estávamos num sitio de filme e ter uma experiência de actor. Provei o vinho, que era belíssimo. E qual foi a minha primeira reação? Não foi belíssimo ou bela casta que aqui tem, ou sabe a amoras com ligeiro travo a amêndoa. Enfim, conversas típicas de provas de vinho. Foi…”e os vinhos do Casal da Coelheira? Conhece?” Mal esta expressão me saiu da boca, percebi a argolada que tinha acabada de cometer, camuflada até, com uma certa dose de parolice. Mas foi genuíno. E acho que me saiu daquela forma porque não achei o vinho melhor que os vinhos do Casal da Coelheira, ou pelo menos não me soube melhor. É claro que o sommelier olhou para mim com aquela cara típica “mas que raio está este a dizer!?”. Quero acreditar que graças a isto, o Casal da Coelheira ainda hoje é falado na famosa sub-sub-região do Chianti Clássico. Na altura fiquei um bocadinho envergonhado, mas hoje recordo esta história com um sorriso carregado de orgulho.

Voltando ao Casal da Coelheira e à sua vindima de 2017. Tal como qualquer bom português, gosto de vinho. Mesmo na minha juventude, recordo os dias em que acompanhava o meu Pai à adega próxima de casa para comprar vinho. Recordo sobretudo o cheiro ao entrar na adega e apreciar aquelas cubas de vinho old school, com um azulejo a indicar a sua qualidade. Na altura não sentia um desejo ardente em beber o líquido mas já me fascinava todo o movimento à volta da cultura do vinho. Com base neste sentimento provocado pela memória, hoje, já com tamanho para um copo de vinho, acredito que esta história do vinho é muito mais do que simplesmente beber. Cada garrafa de vinho é história. Primeiro da particularidade da terra onde está plantada a sua vinha, depois no trabalho árduo da colheita, passando, é claro, pela arte de quem o faz e depois, não menos importante, pelos momentos que provoca à mesa. É para todos estes pontos, e mais alguns em falta, que olho e “bebo” a cada copo. Reforçando este sentimento, quando esse vinho é da nossa terra, um pouco da nossa história também está a ser contada a cada copo. Sim, é uma visão muito romântica. Sim, eu sou assim (e acredito mesmo no que estou a escrever). Por tudo isso, este ano segui com muita atenção a vindima do Casal da Coelheira, o vinho da minha terra.

 O Casal da Coelheira, propriedade, está dividido em 3 núcleos. A adega (e também loja), a quinta (que também vinha) e a vinha (muito concentrada junto ao rio Tejo). Andei sobretudo entre a adega e a vinha. Na adega, gosto sobretudo dos cheiro a vinho (memórias). Gosto de deambular pela cave, onde estão as barricas de carvalho, guardadas e preservadas tal como um tesouro. Gosto de ver a uva a chegar em tratores e assistir à azáfama do pessoal, para que nada falhe. Acho que embora se tenha uma noção da qualidade que virá de determinada de uva, o mais importante, em tempo de vindima, é encher a adega de uva. Depois de ela lá estar todo o procedimento segue naturalmente, e entra a criatividade do enólogo em acção. Sem uva é que nada feito. Nesta história da criatividade, acho notável que esta arte de fazer (vulgo, ser enólogo), tenha atingido patamares dignos de capa de revista. Tal como os cozinheiros passaram a chefs, os gajos da adega passaram a enólogos. Numa era tecnológica, acho delicioso que cada mais vez se valorizem estas artes que nos ligam à terra e que nos fazem enaltecer o que é nosso e que faz de nós diferentes.

Já a vinha do Casal da Coelheira, com já disse, fica, maioritariamente junto ao rio Tejo. Com um pôr do sol lindíssimo. Plantada num solo que parece quase a areia da praia. Falando em areia, algumas das vinhas chegam mesmo a ficar isoladas no Inverno, com a subida das águas, formando pequenas ilhas. Acho que no passado ninguém teria plantado vinha num terreno tão pobre. Hoje, acredito que é o que lhe dá carácter e alma, e que difere os vinhos do Casal da Coelheira dos demais. Tudo a ver com a história das histórias que falei à pouco. Se existe um ponto que marca esta região, esse ponto é rio Tejo. Aliás a própria região de vinho tem o nome de Vinhos do Tejo. A cada copo, bebemos, neste caso, também um pouco da história deste rio. E também 10 almas, quase todas mulheres, que tal como pequenas formigas trabalhadoras colheram as uvas da vinha, com cerca de 70 hectares, e fizeram esta vindima especial. Ainda para mais num Verão tão quente como este, que levou a vindima a começar mais cedo, quase no inicio de Agosto, e durar quase uma eternidade, e terminar quase no final de Setembro. Acho que ausência de chuva durante a vindima, vai fazer com que a adega fique a transbordar de uva. Tenho a certeza que a qualidade também vai lá estar.

Para terminar, uma sugestão deste vosso amigo. Final do dia: ir à adega, comprar uma garrafa, pegar num copo e numa boa companhia, ir à vinha e desfrutar do pôr do sol, com um belíssimo copo de vinho, feito daquelas uvas. Sim, daquelas uvas. Para muitos, acredito que iria ser o melhor copo de vinho. De todo o sempre.

Que o vinhos do Casal da Coelheira continuem a contar histórias da minha terra, por muitos e bons anos.

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