AS ESTRADAS QUE ME LEVARAM A ARGANIL

A estrada é um elemento com múltiplas aplicações. Nesta história, mais do que um lugar finito relacionado com movimentos, representa o elemento simbólico do caminho associado a uma descoberta. Benditas sejam as estradas que me levaram a Arganil. Mais do que uma vila, um território que emociona aqueles que buscam e apreciam uma boa aventura.

Já conhecia Arganil. Pelo Rali. Pelos enchidos. Por ficar próximo de Coimbra. Razões claras e, ao mesmo tempo aleatórias, para uma pessoa pensar que conhece um lugar. Pensava que conhecia, mas afinal não conhecia. Arganil é muito mais do que aquilo que aparenta ser. É muito mais até que um lugar. É uma cultura onde a Natureza assume o trono e faz a gestão de tudo o que acontece por ali.

Voltando à estrada. A estrada é um elemento mágico em Arganil. Acredito que até pode transformar uma pessoa, ou até mesmo engolir uma pessoa, fazendo da estrada a sua vida. E uma vez nessa estrada o movimento assume uma diferente linguagem da normalidade do movimento, onde o tempo deixa de interessar. Arganil e o seu território não tem um fuso horário diferente, tem um relógio próprio. Talvez por culpa da tal imponência da Natureza, em jeito de poder nobre, dando a possibilidade de assistir ao espectáculo incomum de assistir à paisagem em movimento. Só em lugares com um relógio especial isto pode acontecer. Ver e ouvir uma planta a nascer, ver uma montanha a ganhar diferentes contornos, ouvir os animais nas suas rotinas e sentir que o Sol gosta, verdadeiramente, de nascer ali. É assim, Arganil.

A estrada levou-me a lugares sem nome. Balcões dignos de um teatro nacional para quadros naturais. A estrada também me levou a lugares com nome. Piodão, Foz d’Égua, Benfeita, Pardieiros, Fraga da Pena, Côja, Vila Cova de Alva, Enxudro ou a vila de Arganil, são lugares concretos para colocar os sentidos à prova com as coisas mais simples. Percorrer as ruas de pedra de Piodão, sabendo que a aldeia que, de tão bonita e graciosa que é, parece um postal vivo, já foi lar de acolhimento de fugas de criminosos, que procuravam um lugar distante do mundo, fazendo com que muitas casas da aldeia não tivessem portas, nem janelas, viradas para a rua, com medo de roubos e visitas inesperadas. Molhar os pés na Foz d’Égua, com a noção clara que as águas das ribeiras das Chãs e de Piodão, fazem deste lugar uma espécie de mini éden, digno de convite de entrada. Ir à missa em Benfeita, de preferência no dia 7 de Maio, onde o chamamento é especial e feito com o número de badaladas coincidente com número de dias que durou a Segunda Grande Guerra Mundial, 1620 dias, 1620 badaladas. Ler um livro no alto dos Pardieiros, a sentir o cheiro a fresco vindo da Mata da Margaraça e alimentando-nos convenientemente deste lugar de uma simplicidade genial. Ouvir a água a percorrer o seu caminho na Fraga da Pena, admirando a beleza da sua cascata. Ouvir as histórias da pessoas genialmente banais de Côja, sabendo da grandiosidade do lugar. Beber uma cerveja no café Flôr do Alva em Vila Cova de Alva, a ouvir histórias de algibeira, para fazer esquecer o calor tórrido do coração de Portugal. Chegar ao planeta distante chamado Enxudro, esse lugar com nome Basco, onde o tempo não existe e que mais parece pertencer a filme onde a fantasia acontece. Passar pela Mourísia com o pensamento nas lendas de tesouros e mouras encantadas, alimentando as viagens por um lugar onde os elfos se sentiriam em casa. Admirar a aldeia de Soito da Ruiva, lá bem no alto, só a ouvir o vento. Ou andar pela genuína feira semanal da vila de Arganil e sentir que afinal Arganil é uma espécie de Torre de Babel de união de povos, funcionando a feira como ponto de encontro para inúmeras famílias vindas de diferentes e longínquos pontos do mundo, para fixar raízes em Arganil. Coisas tão simples, mas tão ricas e tão capazes de alimentar qualquer alma sedenta de coisas bonitas. Tudo lugares e experiências a que a bendita estrada me levou, muitas vezes sem eu lhe ordenar tal caminho. Simplesmente, levou-me.

E depois, num sentido mais abstrato, existe o maior nome de Arganil. A Serra do Açor. Não é um lugar que eu consiga apontar e dizer “está a ali a Serra do Açor” ou “aquilo é a Serra de Açor”. Ficaria sempre aquém. A Serra do Açor é um território disfarçado de um ser com alma. A Serra do Açor talvez seja o polo magnético, a actuar de uma forma constante, que me faz colar a esta estrada da Arganil. 

Acredito que o melhor lugar é o caminho. Mais do que a chegada ou a partida. Mais do que uma conquista. E tão bom caminhar pelas estradas de Arganil. Quando gosto muito de um lugar levo-o em memórias sob forma de cheiros. Ainda consigo distinguir o cheiro de muitas das flores que encontrei nesta viagem, neste caminho.

 

A estrada é um elemento com múltiplas aplicações. Nesta história, mais do que um lugar finito relacionado com movimentos, representa o elemento simbólico do caminho associado a uma descoberta. Benditas sejam as estradas que me levaram a Arganil. Mais do que uma vila, um território que emociona aqueles que buscam e apreciam uma boa aventura.

Já conhecia Arganil. Pelo Rali. Pelos enchidos. Por ficar próximo de Coimbra. Razões claras e, ao mesmo tempo aleatórias, para uma pessoa pensar que conhece um lugar. Pensava que conhecia, mas afinal não conhecia. Arganil é muito mais do que aquilo que aparenta ser. É muito mais até que um lugar. É uma cultura onde a Natureza assume o trono e faz a gestão de tudo o que acontece por ali.

Voltando à estrada. A estrada é um elemento mágico em Arganil. Acredito que até pode transformar uma pessoa, ou até mesmo engolir uma pessoa, fazendo da estrada a sua vida. E uma vez nessa estrada o movimento assume uma diferente linguagem da normalidade do movimento, onde o tempo deixa de interessar. Arganil e o seu território não tem um fuso horário diferente, tem um relógio próprio. Talvez por culpa da tal imponência da Natureza, em jeito de poder nobre, dando a possibilidade de assistir ao espectáculo incomum de assistir à paisagem em movimento. Só em lugares com um relógio especial isto pode acontecer. Ver e ouvir uma planta a nascer, ver uma montanha a ganhar diferentes contornos, ouvir os animais nas suas rotinas e sentir que o Sol gosta, verdadeiramente, de nascer ali. É assim, Arganil.

A estrada levou-me a lugares sem nome. Balcões dignos de um teatro nacional para quadros naturais. A estrada também me levou a lugares com nome. Piodão, Foz d’Égua, Benfeita, Pardieiros, Fraga da Pena, Côja, Vila Cova de Alva, Enxudro ou a vila de Arganil, são lugares concretos para colocar os sentidos à prova com as coisas mais simples. Percorrer as ruas de pedra de Piodão, sabendo que a aldeia que, de tão bonita e graciosa que é, parece um postal vivo, já foi lar de acolhimento de fugas de criminosos, que procuravam um lugar distante do mundo, fazendo com que muitas casas da aldeia não tivessem portas, nem janelas, viradas para a rua, com medo de roubos e visitas inesperadas. Molhar os pés na Foz d’Égua, com a noção clara que as águas das ribeiras das Chãs e de Piodão, fazem deste lugar uma espécie de mini éden, digno de convite de entrada. Ir à missa em Benfeita, de preferência no dia 7 de Maio, onde o chamamento é especial e feito com o número de badaladas coincidente com número de dias que durou a Segunda Grande Guerra Mundial, 1620 dias, 1620 badaladas. Ler um livro no alto dos Pardieiros, a sentir o cheiro a fresco vindo da Mata da Margaraça e alimentando-nos convenientemente deste lugar de uma simplicidade genial. Ouvir a água a percorrer o seu caminho na Fraga da Pena, admirando a beleza da sua cascata. Ouvir as histórias da pessoas genialmente banais de Côja, sabendo da grandiosidade do lugar. Beber uma cerveja no café Flôr do Alva em Vila Cova de Alva, a ouvir histórias de algibeira, para fazer esquecer o calor tórrido do coração de Portugal. Chegar ao planeta distante chamado Enxudro, esse lugar com nome Basco, onde o tempo não existe e que mais parece pertencer a filme onde a fantasia acontece. Passar pela Mourísia com o pensamento nas lendas de tesouros e mouras encantadas, alimentando as viagens por um lugar onde os elfos se sentiriam em casa. Admirar a aldeia de Soito da Ruiva, lá bem no alto, só a ouvir o vento. Ou andar pela genuína feira semanal da vila de Arganil e sentir que afinal Arganil é uma espécie de Torre de Babel de união de povos, funcionando a feira como ponto de encontro para inúmeras famílias vindas de diferentes e longínquos pontos do mundo, para fixar raízes em Arganil. Coisas tão simples, mas tão ricas e tão capazes de alimentar qualquer alma sedenta de coisas bonitas. Tudo lugares e experiências a que a bendita estrada me levou, muitas vezes sem eu lhe ordenar tal caminho. Simplesmente, levou-me.

E depois, num sentido mais abstrato, existe o maior nome de Arganil. A Serra do Açor. Não é um lugar que eu consiga apontar e dizer “está a ali a Serra do Açor” ou “aquilo é a Serra de Açor”. Ficaria sempre aquém. A Serra do Açor é um território disfarçado de um ser com alma. A Serra do Açor talvez seja o polo magnético, a actuar de uma forma constante, que me faz colar a esta estrada da Arganil. 

Acredito que o melhor lugar é o caminho. Mais do que a chegada ou a partida. Mais do que uma conquista. E tão bom caminhar pelas estradas de Arganil. Quando gosto muito de um lugar levo-o em memórias sob forma de cheiros. Ainda consigo distinguir o cheiro de muitas das flores que encontrei nesta viagem, neste caminho.

 

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