episódio 6: CALDAS DE REIS – PADRÓN
O dia começou de uma forma bastante atribulada, com o meu vizinho de cima (o que dormia na cama de cima no beliche), um espanhol com cerca de 60 anos, chamado Xavier, a perguntar-me às 6h00 se tinha visto o telemóvel dele. Só apeteceu dar-lhe com o meu (na cabeça dele). O Javier não tem bem o estilo peregrino e assim que chegou ao quarto a primeira que disse foi perguntar-me se eu ressonava, num tom não amigável. O Javier também tinha a particularidade de não entender uma única palavra que eu dizia, seja um portunhol, em português ou em inglês, nada. Acho que não fez (nem vai fazer) nenhum amigo no caminho.
Passado este percalço matinal, levantei-me por volta das 7h15. Estava a chover e ainda era noite. Ao equipar-me para começar a caminhada rasguei logo parte do poncho (comprado nos chineses de Pontevedra) que me iria “abrigar” da chuva. Não vi esse momento como um bom sinal, aquele sinal de fiabilidade. Lá segui a caminhada em direção a Padrón, com noite e chuva.
A chuva não estava forte e até se tornava agradável. Quer dizer, agradável se calhar é demasiado forte, tornou o dia diferente e isso foi positivo. Tornou a paisagem diferente, intensificou os cheiros e tinha um farda diferente, um “belo” poncho azul. O percurso começou bem engraçado, quase sempre por terra batida. Parei num café quase a meio do caminho e lá encontrei os meus comparsas de ontem. Mas entre sorrisos e perguntar se estava tudo bem, cada um seguiu o seu caminho separadamente. Hoje queria andar sozinho. Ainda bem que assim o fiz. A última metade do percurso foi de uma beleza extraordinária. Quase que aproveitei cada passo, para completar tamanha beleza, para sentir os cheiro de terra molhada, para passar a mão pelo musgo húmido, para ouvir o correr da água nos ribeiros próximos. Soube-me muito bem, passar por troço completamente sozinho, com ele só para mim. Passado este cenário de filme, foi seguir o caminho entre vinhas até Padrón. Cidade interessante, bem conhecida pelos pimentos com o seu nome.
Já depois do banho no albergue, tive de ir comer os tais pimentos padrón (em Padrón a experiência é outra) e um polvo à moda da Galiza. Curiosamente, na mesa ao lado, sentaram-se um grupo de 4 que caminham juntos e com quem me vou cruzando desde Tuí (ou seja, desde o início) e temos ficado quase sempre nos mesmos albergues. Até agora tinham sido uns buen caminos, mas quase a chegar a Santiago tínhamos de saber mais qualquer coisa uns dos outros. Ficamos à conversa depois de almoço. Duas irmãs de Sevilha, mais ou menos da idade da minha mãe, Mariola e Maricruz, o Pedro também da mesma idade, de Granada, e o quarto elemento, a improvável a Natalie (não sei se é assim que se escreve) uma simpática alemã da minha idade. O mais curioso deste grupo é que seguem há 5 dias (sempre) juntos, sem a Natalie falar espanhol e sem os espanhóis falarem inglês. Mas parecem entender-se às mil maravilhas. Falei sobretudo com a Mariola, que tem um filho da minha idade. Essa coisa de que os espanhóis são antipáticos é mito. Falei de Portugal, falei da minha vida, mostrei-lhe fotografias da Liliana. Ela falou-me dos filhos, que começou a estudar psicologia na Universidade da Sevilha, que tinha de trazer a minha mãe para fazer o caminho, e mais umas 300 coisas. Tudo em português/espanhol. Gostei muito deste bocadinho.
Agora voltei ao albergue para a tradicional siesta (tento de seguir os costumes locais e também estou um bocado cansadito ).
Amanhã é último dia desta jornada, se tudo correr bem, chego a Santiago após um caminhada de 25km.
Onde dormi: Albergue Corredoiras, Padrón
O dia começou de uma forma bastante atribulada, com o meu vizinho de cima (o que dormia na cama de cima no beliche), um espanhol com cerca de 60 anos, chamado Xavier, a perguntar-me às 6h00 se tinha visto o telemóvel dele. Só apeteceu dar-lhe com o meu (na cabeça dele). O Javier não tem bem o estilo peregrino e assim que chegou ao quarto a primeira que disse foi perguntar-me se eu ressonava, num tom não amigável. O Javier também tinha a particularidade de não entender uma única palavra que eu dizia, seja um portunhol, em português ou em inglês, nada. Acho que não fez (nem vai fazer) nenhum amigo no caminho.
Passado este percalço matinal, levantei-me por volta das 7h15. Estava a chover e ainda era noite. Ao equipar-me para começar a caminhada rasguei logo parte do poncho (comprado nos chineses de Pontevedra) que me iria “abrigar” da chuva. Não vi esse momento como um bom sinal, aquele sinal de fiabilidade. Lá segui a caminhada em direção a Padrón, com noite e chuva.
A chuva não estava forte e até se tornava agradável. Quer dizer, agradável se calhar é demasiado forte, tornou o dia diferente e isso foi positivo. Tornou a paisagem diferente, intensificou os cheiros e tinha um farda diferente, um “belo” poncho azul. O percurso começou bem engraçado, quase sempre por terra batida. Parei num café quase a meio do caminho e lá encontrei os meus comparsas de ontem. Mas entre sorrisos e perguntar se estava tudo bem, cada um seguiu o seu caminho separadamente. Hoje queria andar sozinho. Ainda bem que assim o fiz. A última metade do percurso foi de uma beleza extraordinária. Quase que aproveitei cada passo, para completar tamanha beleza, para sentir os cheiro de terra molhada, para passar a mão pelo musgo húmido, para ouvir o correr da água nos ribeiros próximos. Soube-me muito bem, passar por troço completamente sozinho, com ele só para mim. Passado este cenário de filme, foi seguir o caminho entre vinhas até Padrón. Cidade interessante, bem conhecida pelos pimentos com o seu nome.
Já depois do banho no albergue, tive de ir comer os tais pimentos padrón (em Padrón a experiência é outra) e um polvo à moda da Galiza. Curiosamente, na mesa ao lado, sentaram-se um grupo de 4 que caminham juntos e com quem me vou cruzando desde Tuí (ou seja, desde o início) e temos ficado quase sempre nos mesmos albergues. Até agora tinham sido uns buen caminos, mas quase a chegar a Santiago tínhamos de saber mais qualquer coisa uns dos outros. Ficamos à conversa depois de almoço. Duas irmãs de Sevilha, mais ou menos da idade da minha mãe, Mariola e Maricruz, o Pedro também da mesma idade, de Granada, e o quarto elemento, a improvável a Natalie (não sei se é assim que se escreve) uma simpática alemã da minha idade. O mais curioso deste grupo é que seguem há 5 dias (sempre) juntos, sem a Natalie falar espanhol e sem os espanhóis falarem inglês. Mas parecem entender-se às mil maravilhas. Falei sobretudo com a Mariola, que tem um filho da minha idade. Essa coisa de que os espanhóis são antipáticos é mito. Falei de Portugal, falei da minha vida, mostrei-lhe fotografias da Liliana. Ela falou-me dos filhos, que começou a estudar psicologia na Universidade da Sevilha, que tinha de trazer a minha mãe para fazer o caminho, e mais umas 300 coisas. Tudo em português/espanhol. Gostei muito deste bocadinho.
Agora voltei ao albergue para a tradicional siesta (tento de seguir os costumes locais e também estou um bocado cansadito ).
Amanhã é último dia desta jornada, se tudo correr bem, chego a Santiago após um caminhada de 25km.
Onde dormi: Albergue Corredoiras, Padrón