João Pedro Rodrigues, formado em Eng. Alimentar, enólogo na Quinta Vale Armo em Sardoal. Já tinha ouvido falar várias vezes no João. Apenas recebi boas referências. Nos últimos dias tive oportunidade de o conhecer pessoalmente, no seu local de trabalho. E confirmar as boas referências. Como diria alguém muito sábio da minha terra: “é uma jóia de rapaz”.
É natural e residente nas Bicas, pequena aldeia que dista cerca de 20km do Vale do Armo. Sorridente e bem disposto, percebe-se a léguas que é humilde e trabalhador. Gosta de andar de bicicleta como eu, com uma grande diferença para a minha pessoa, ele anda realmente de bicicleta. Neste momento fico-me apenas pelo gosto. Este gosto pelo desporto ainda o fez inscrever-se no ensino superior nessa vertente, mas rapidamente percebeu que a sua vida passava pelo mundo dos vinhos. Concluiu a licenciatura em Eng. Alimentar, na Escola Superior Agrária em Santarém, em seguida um mestrado na FCT na Caparica, e pelo meio e após a fase de formação técnica, passagem por casas com nome no mundo dos vinhos, como a Cartuxa em Évora, o Casal da Coelheira em Abrantes ou a José Maria da Fonseca em Setúbal. Diz com orgulho que já tem 6 vindimas feitas. O mais incrível desta história é que o João só tem 25 anos. Percebo perfeitamente o porquê de o dono do Vale do Armo ter marcado uma reunião com o João, numa 5a feira qualquer do ano de 2017, numa área de serviço da A2, para convencer o João a vir trabalhar para a sua quinta. Parece coisa de jogador de futebol dos anos 90, na parte das transferências entre clubes. Mas esta coisa de ser enólogo está na moda, e ainda bem, e passou de ser “o gajo que faz vinho”, para uma espécie de rockstar. Volto a referir, ainda bem que este tipo de profissões são tão valorizadas nos nossos dias de hoje.
Caminhei com o João pelas bonitas vinhas do Vale do Armo. São cerca de 90 ha de vinha. Falámos de vinho, de vindima e de viticultura. Também falámos da vida. Acho incrível a maturidade que o João tem para a sua idade. Principalmente quando me diz a sorrir que neste trabalho só tem hora para entrar, para sair logo se vê. Nem se aplica o de Sol a Sol. Nota-se que tem prazer no que faz. E não foi preciso provar o vinho para perceber que o faz bem (eu gosto muito de vinho, mas ainda era cedo para um copo). Acredito, nestas coisas do vinho, que a parte técnica ocupa o lado menor do processo, em relação à sensibilidade e ao amor pela terra. O João tem isso. Mais uma vez, de sorriso no rosto, diz-me que na quinta faz o que for preciso. Mete as mãos na terra, na uvas, no vinho ou nas paletes com lotes de vinho.
Quando falámos de futuro, do alto da sua humildade, o João não me falou em voar, (com 25 anos, assumir-se naturalmente como enólogo e como líder, acho que tem legitimidade para querer voar, sabe-se lá para onde) disse-me que o seu futuro passa por começar a vir de bicicleta para quinta. Assim, pode unir no mesmo processo duas coisas que gosta. A bicicleta e o treino, e o seu trabalho. Esta afirmação futurista diz bem da matéria que é feito o João.
Acredito que são as pessoas, e as suas histórias, que dão vida a lugares e que os fazem especiais. O João é um bom exemplo disso. A cada Vale do Armo que beber no futuro, vou certamente lembrar-me dele. Com a certeza que me vai saber bem.
Vale do Armo//coordenadas: 39.539848, -8.142463
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Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.