episódio 5: bilbao + san sebastian
Partia em direção a Bilbao. Partia em direção ao final da viagem. Em todas as viagens, com elementos desconhecidos até então, apesar de um comum sentimento de adrenalina pela partida, existe sempre uma certa dose de apreensão (pelo menos comigo é assim). No inicio desta viagem, simulei, várias vezes, diversos possíveis acontecimentos numa viagem de auto-caravana. Normalmente acontecimentos maus. Tipo assaltarem a caravana, multas, canalização (sim, aquilo tem casa de banho), congelar lá dentro, etc. Apesar de não ir, propriamente, viajar para um destino desconhecido, mas não estava no meu país, ia sozinho e desconhecia a linguagem caravanês. Como também normalmente acontece, passados 15 minutos de viagem, essas questões acabaram. E como também é comum, em mim, em todas as viagens, a nostalgia do final da viagem deixa-me num misto de felicidade, por voltar a casa com histórias para contar, e de nostalgia meio lamechas a tomar conta de mim. Era assim que me sentia, a conduzir a minha casa (notam o grau de afetividade, estava a conduzir a minha casa!!!), por uma estrada secundária, em direção a Bilbao. Confesso que nem me lembro bem da estrada. Passei a viagem, de sensivelmente 1h, a recordar os dias anteriores.
Chegava a Bilbao, pela zona industrial da cidade, que é enorme. Bilbao é uma das cidades mais industrializadas de Espanha, é cidade imponente e de forte caracter. Senti isso, em 5 minutos e sem sair da estrada. Apesar dos tons fortes e quase monocromática, não é uma cidade fria e intocável, quase como se conseguisse ver um coração bom, atrás de toda esta cortina de ferro. A Indie Campers tem o seu escritório/garagem numa zona industrial nos arredores da cidade (ter 20 caravanas no centro da cidade, deve ser tarefa impossível). A lógica (de localização) é sempre essa. Perto da cidade e perto do aeroporto. Lá deixei a minha casa na casa dela. Foi tudo tão rápido que nem deu para me despedir convenientemente. Como também é comum na Indie Campers, não fiquei na zona industrial a pé e com uma mochila gigante às costas. Ofereceram-me, gentilmente, boleia até ao centro da cidade. Fiquei perto do Museu do Guggenheim. Iria ficar a dormir num hotel, ali perto (ali perto é quase um eufemismo…ficava mesmo em frente). Iria trocar uma auto-caravana, por um hotel de 5 estrelas, com vista para um dos edifícios mais famosos do Mundo. A minha vida é assim, feita de contrastes. É, também por isso, que gosto tanto dela. Assim entrava eu no Grand Hotel Domine Bilbao. De mochila às costas, despenteado, sem tomar banho à quase dois dias, mas cheio de histórias para contar, feliz da vida e, sempre, de sorriso sincero.
É claro que a primeira coisa que fiz, no meu quarto impecável, foi tomar um banho e vestir uma roupa lavada, que guardei, religiosamente, para utilizar neste dia. Tipo roupa de Domingo para ir à missa. Estava como novo. Mas com uma certa saudade da minha casinha ambulante. A vista para o Guggenheim é interessante, mas acordar num dia com vista para os Picos da Europa e no outro com vista para o mar, não tem preço.
A minha estadia em Bilbao iria ser curta. Nem 24h seriam. Não me perdi pelo Guggenheim, optei por uma visita ao centro histórico de Bilbao. Em boa hora o fiz. Tão bem que me senti por lá. A cidade é super organizada, limpa, as pessoas parecem andar todas felizes e adorarem viver ali. É bom sentir isso, passa uma boa imagem. Seguindo os bons costumes espanhóis, o final da tarde é igual a “toda a gente na rua”. Toda a gente a na rua. Engravatados misturados com rockalheiros, crianças, famílias, todos, mas todos com ar felicidade, daqueles que mostram que não desejavam estar em outro lugar. Foi, provavelmente, o que mais me impressionou por aqui. Quer dizer, os pintxos também me tocaram no coração. Gosto muito de comer, beber, conversar ao balcão de uma qualquer tasca por esse Mundo fora. Mas quando a comida é feita para o balcão, com o tamanho certo, virada para a partilha e para a democracia (cada um come o que quer), e ainda tem uma qualidade e aspecto a roçar o perfeito para esta ocasião, apetece-me abrir os braços em direção ao céu e dizer, simplesmente: “obrigado.”. Adoro pintxos! Gosto muito de tremoços, mas o pintxos são de outro campeonato. Na minha estadia num dos bares de pintxos só fiquei triste com uma coisa. Estava a dar o máximo no meu castelhano, cañas para um lado, bien para outro, gracias pelo meio. Pensei: “esta malta pensa que sou daqui, mas eu sou do Rossio lá de Portugal”. Nem tinha acabado a 3a frase, já me estavam a dizer que seu eu quisesse tinha o nome dos pintxos também escrito em inglês. Bateu-me no coração. (tenho de ver mais uns episódios do Verão Azul sem legendas). Regressei ao Hotel.
Na manhã seguinte, levantei bem cedo, tinha um autocarro para apanhar, rumo a San Sebastian. O dia estava chuvoso, mas ainda assim, arrisquei a atravessar meia cidade, a pé. Tenho um tendência natural para ver o lado positivo das coisas. Sim, levei com uns pingos na cabeça. Mas soube-me tão bem ter a cidade quase só para mim.
A viagem até San Sebastian durou cerca de 1h, e é uma das formas de partir (e chegar) de Bilbao em direção a Portugal. De Bilbao, existem voos diretos para Lisboa. De San Sebastian, parte o comboio noturno internacional, também em direção a Lisboa. Optei pela segunda hipótese. Tenho um fascínio por viagens de comboio. Cheguei a San Sebastian a meio da manhã e chovia quase torrencialmente. Mesmo debaixo de varandas e entre entradas e saídas de bares, deu sentir que é um lugar especial. Em comparação com a vizinha Bilbao, é mais pequena, mas igualmente com carácter forte. Mesmo com chuva, deveriam estar, ao final da manhã (era Sábado), cerca de 3 pessoas em casa. Impressionante. Tudo na rua. Muitos de copo na mão, quase todos a sorrir. Uma vibração incrível. Ruas alinhadas, quase todas a desaguar na baía da praia da cidade (La Concha). A chuva e o tempo curto não deu para muito. Apenas para uma vontade enorme de voltar, com mais tempo. Uma cidade bonita, com pessoas, bonitas, cheia de histórias, com uma cultura gastronómica de renome internacional (é a cidade com mais estrelas michelin por m2 do Mundo), tem tudo para figurar num dos lugares favoritos de todo o sempre.
A meio da tarde caminhei para estação e pouco depois embarquei no comboio rumo a Lisboa. Estava preparado para ver um filme e pensar na vida. Enganei-me. No meu compartimento estava um inglês, que ia para Portugal para explorar o Gêres, e um alemão, que falava português do Brasil, que vinha ao encontro da namorada que conquistou no Brasil, nos tempos que viveu por lá. A viagem durava quase 10h. Ao final da 1h já estávamos a ir buscar rodadas de Super Bock ao bar do comboio e partilhar longas histórias de guerra (de viagens). Muito bom momento para terminar em grande esta viagem.
Partia em direção a Bilbao. Partia em direção ao final da viagem. Em todas as viagens, com elementos desconhecidos até então, apesar de um comum sentimento de adrenalina pela partida, existe sempre uma certa dose de apreensão (pelo menos comigo é assim). No inicio desta viagem, simulei, várias vezes, diversos possíveis acontecimentos numa viagem de auto-caravana. Normalmente acontecimentos maus. Tipo assaltarem a caravana, multas, canalização (sim, aquilo tem casa de banho), congelar lá dentro, etc. Apesar de não ir, propriamente, viajar para um destino desconhecido, mas não estava no meu país, ia sozinho e desconhecia a linguagem caravanês. Como também normalmente acontece, passados 15 minutos de viagem, essas questões acabaram. E como também é comum, em mim, em todas as viagens, a nostalgia do final da viagem deixa-me num misto de felicidade, por voltar a casa com histórias para contar, e de nostalgia meio lamechas a tomar conta de mim. Era assim que me sentia, a conduzir a minha casa (notam o grau de afetividade, estava a conduzir a minha casa!!!), por uma estrada secundária, em direção a Bilbao. Confesso que nem me lembro bem da estrada. Passei a viagem, de sensivelmente 1h, a recordar os dias anteriores.
Chegava a Bilbao, pela zona industrial da cidade, que é enorme. Bilbao é uma das cidades mais industrializadas de Espanha, é cidade imponente e de forte caracter. Senti isso, em 5 minutos e sem sair da estrada. Apesar dos tons fortes e quase monocromática, não é uma cidade fria e intocável, quase como se conseguisse ver um coração bom, atrás de toda esta cortina de ferro. A Indie Campers tem o seu escritório/garagem numa zona industrial nos arredores da cidade (ter 20 caravanas no centro da cidade, deve ser tarefa impossível). A lógica (de localização) é sempre essa. Perto da cidade e perto do aeroporto. Lá deixei a minha casa na casa dela. Foi tudo tão rápido que nem deu para me despedir convenientemente. Como também é comum na Indie Campers, não fiquei na zona industrial a pé e com uma mochila gigante às costas. Ofereceram-me, gentilmente, boleia até ao centro da cidade. Fiquei perto do Museu do Guggenheim. Iria ficar a dormir num hotel, ali perto (ali perto é quase um eufemismo…ficava mesmo em frente). Iria trocar uma auto-caravana, por um hotel de 5 estrelas, com vista para um dos edifícios mais famosos do Mundo. A minha vida é assim, feita de contrastes. É, também por isso, que gosto tanto dela. Assim entrava eu no Grand Hotel Domine Bilbao. De mochila às costas, despenteado, sem tomar banho à quase dois dias, mas cheio de histórias para contar, feliz da vida e, sempre, de sorriso sincero.
É claro que a primeira coisa que fiz, no meu quarto impecável, foi tomar um banho e vestir uma roupa lavada, que guardei, religiosamente, para utilizar neste dia. Tipo roupa de Domingo para ir à missa. Estava como novo. Mas com uma certa saudade da minha casinha ambulante. A vista para o Guggenheim é interessante, mas acordar num dia com vista para os Picos da Europa e no outro com vista para o mar, não tem preço.
A minha estadia em Bilbao iria ser curta. Nem 24h seriam. Não me perdi pelo Guggenheim, optei por uma visita ao centro histórico de Bilbao. Em boa hora o fiz. Tão bem que me senti por lá. A cidade é super organizada, limpa, as pessoas parecem andar todas felizes e adorarem viver ali. É bom sentir isso, passa uma boa imagem. Seguindo os bons costumes espanhóis, o final da tarde é igual a “toda a gente na rua”. Toda a gente a na rua. Engravatados misturados com rockalheiros, crianças, famílias, todos, mas todos com ar felicidade, daqueles que mostram que não desejavam estar em outro lugar. Foi, provavelmente, o que mais me impressionou por aqui. Quer dizer, os pintxos também me tocaram no coração. Gosto muito de comer, beber, conversar ao balcão de uma qualquer tasca por esse Mundo fora. Mas quando a comida é feita para o balcão, com o tamanho certo, virada para a partilha e para a democracia (cada um come o que quer), e ainda tem uma qualidade e aspecto a roçar o perfeito para esta ocasião, apetece-me abrir os braços em direção ao céu e dizer, simplesmente: “obrigado.”. Adoro pintxos! Gosto muito de tremoços, mas o pintxos são de outro campeonato. Na minha estadia num dos bares de pintxos só fiquei triste com uma coisa. Estava a dar o máximo no meu castelhano, cañas para um lado, bien para outro, gracias pelo meio. Pensei: “esta malta pensa que sou daqui, mas eu sou do Rossio lá de Portugal”. Nem tinha acabado a 3a frase, já me estavam a dizer que seu eu quisesse tinha o nome dos pintxos também escrito em inglês. Bateu-me no coração. (tenho de ver mais uns episódios do Verão Azul sem legendas). Regressei ao Hotel.
Na manhã seguinte, levantei bem cedo, tinha um autocarro para apanhar, rumo a San Sebastian. O dia estava chuvoso, mas ainda assim, arrisquei a atravessar meia cidade, a pé. Tenho um tendência natural para ver o lado positivo das coisas. Sim, levei com uns pingos na cabeça. Mas soube-me tão bem ter a cidade quase só para mim.
A viagem até San Sebastian durou cerca de 1h, e é uma das formas de partir (e chegar) de Bilbao em direção a Portugal. De Bilbao, existem voos diretos para Lisboa. De San Sebastian, parte o comboio noturno internacional, também em direção a Lisboa. Optei pela segunda hipótese. Tenho um fascínio por viagens de comboio. Cheguei a San Sebastian a meio da manhã e chovia quase torrencialmente. Mesmo debaixo de varandas e entre entradas e saídas de bares, deu sentir que é um lugar especial. Em comparação com a vizinha Bilbao, é mais pequena, mas igualmente com carácter forte. Mesmo com chuva, deveriam estar, ao final da manhã (era Sábado), cerca de 3 pessoas em casa. Impressionante. Tudo na rua. Muitos de copo na mão, quase todos a sorrir. Uma vibração incrível. Ruas alinhadas, quase todas a desaguar na baía da praia da cidade (La Concha). A chuva e o tempo curto não deu para muito. Apenas para uma vontade enorme de voltar, com mais tempo. Uma cidade bonita, com pessoas, bonitas, cheia de histórias, com uma cultura gastronómica de renome internacional (é a cidade com mais estrelas michelin por m2 do Mundo), tem tudo para figurar num dos lugares favoritos de todo o sempre.
A meio da tarde caminhei para estação e pouco depois embarquei no comboio rumo a Lisboa. Estava preparado para ver um filme e pensar na vida. Enganei-me. No meu compartimento estava um inglês, que ia para Portugal para explorar o Gêres, e um alemão, que falava português do Brasil, que vinha ao encontro da namorada que conquistou no Brasil, nos tempos que viveu por lá. A viagem durava quase 10h. Ao final da 1h já estávamos a ir buscar rodadas de Super Bock ao bar do comboio e partilhar longas histórias de guerra (de viagens). Muito bom momento para terminar em grande esta viagem.