PORTO

Era final da manhã e chegava à Estação de Porto-Campanhã. O dia estava cinzento e frio, quase como um microclima especial, a contrastar com o céu limpo, do Vale de Douro. Assim que coloco os pés na plataforma da estação, rapidamente pergunto qual a linha para o “transfer” para a Estação de São Bento. Era a linha 2, o próximo comboio partia em 2 minutos. Sem dificuldade (ou seja sem necessidade de fazer um sprint ofegante, ainda para mais carregado de malas), entro no comboio, para uma curta viagem até ao coração da cidade do Porto. O Porto e 1872 River House, estavam à minha espera.

Chegar à Estação de São Bento, é com entrar direto num filme de época. Ainda para mais num dia cinzento, que conferia uma dose certa de melancolismo, para atingir o seu ponto máximo de charme. Com mais de 100 anos de história, iluminada pelos azulejos pictóricos de Jorge Colaço, que não deixam ninguém indiferente na passagem pelo átrio da estação. A estação estava cheia de gente. Umas a chegar, outras a partir. Uns turistas, outros locais. Nem é pelas máquinas fotográficas ou mapas em punho, que se distinguem. É pelo passo acelerado dos locais, provavelmente atrasados para o trabalho ou para apanhar o filho na escola, em comparação com o ritmo pausado do turista, que procura absorver tudo o que é nova informação. E se o Porto tem boa informação para absorver. Este mix de “local vs turista”, é muito engraçado de observar. Naquele momento, sentia-me como um elemento invisível. Apenas a observar o desenrolar da história. E muitas vezes a imaginar a história de cada um. Mas isso é uma mania minha.

Em passo lento, saio da estação. No meio do barulho da agitação da cidade, entre pessoas a conversar, buzinas de carros, o cintilar dos eléctricos ou flashes de máquinas, já conseguia ouvir o grasnar das gaivotas, indicado a proximidade do rio Douro. Iria ser para lá que iria caminhar, em direção ao 1872 River House. Pequeno hotel, colado ao rio Douro, que iria funcionar com base e elemento de ligação a esta minha experiência no Porto. Pouco mais de 700 metros, separavam a estação do River House. Com maior das calmas, caminhei pela Mouzinho da Silveira, em direção à Praça da Ribeira, para depois seguir paralelo ao Douro, para finalmente chegar ao River House. Não é de estranhar os inúmeros prémios, que tem sido atribuídos, consecutivamente, à cidade do Porto. Caminhar por entre centenas de prédios, onde se sente que cada um deles tem uma história interessante para contar, e depois dar de caras com o rio, que ainda carrega o peso da história, do tamanho (do total) dos barcos rabelo que ali atracaram, transportando pipas cheias de vinho chegadas do vale (encantado) do Douro. História essa, que também não consegue ser esquecida, pelo infindável número de casas de vinhos, que tal como santuários, estão cuidadosamente alinhados na margem oposta, na margem de V.N. de Gaia. Sem esquecer a majestosa Ponte de D. Luís. Capaz de figurar, sem grandes problemas, numa lista com as mais icônicas pontes do Mundo. Chego ao River House, meio aturdido com tamanha informação visual e histórica. Com é obvio, não é a primeira vez que vejo isto tudo e que visito a cidade do Porto. Mas toda esta informação, inverte o conceito da racionalidade. Cada vez, a cada novo olhar, esta cidade me impressiona mais.

O 1872 River House segue o conceito da cidade do Porto. Não é fugaz. É melancólico, e quase uma fábrica de histórias e memórias. É uma casa, em jeito de palacete, cor-de-rosa pálido, quase plantado em cima do rio Douro. No passado foi um restaurante e passou por uns tempos como espaço devoluto, até que um incêndio consumiu boa parte da infraestrutura. Ainda bem que nunca vi este espaço assim. Hoje, e desde a sua inauguração em 2014, é uma guest house cheia de estilo e sem esquecer o passado. Começando pela entrada. Uma porta de ferro, no andar superior, que faz ligação a um passadiço cheio de vitrais muito bonitos, não sabendo bem como adjectivá-los, ou se como vintage ou se como algo do futuro, de tão boa pinta e actuais que são. É, sem dúvida, um entrada inesquecível. Entrar pela porta de ferro, que ostenta o “brazão” de 1872 e em seguida atravessar o passadiço, com a luz do dia a penetrar no colorido dos vitrais. Curiosamente, o 1872, é o ano de construção do passadiço. Depois deste momento solene, é entrar numa dimensão de receber, e no meu caso, de ser bem recebido. O River House “apenas” tem 8 quatros. E escrevo “apenas” (entre aspas), porque 8 é a medida certa. A sensação é chegarmos a casa de alguém que gosta de nós e que não nos está a receber à pressa. Os quartos estão divididos por vários pisos, com um espaço comum, no piso inferior. Neste espaço comum, super bem decorado (assim como todo o River House), o rio, através da janelas cuidadosamente alinhadas, parece um quadro vivo, para ser admirado enquanto deixamos o tempo passar. E por falar em tempo, o tempo, elemento tão escasso e valioso nos dias de hoje, é uma das palavras chave do conceito do River House. Nunca existe pressa, nem para uma palavra atenciosa das pessoas que fazem este lugar, começando pela Teresa Aguiar, dona e diretora deste espaço, que tão bem me recebeu. Lá está, como se recebe alguém em sua casa. Também não existe pressa, por exemplo, para tomar o pequeno almoço. Que pode ser tomado pelos madrugadores, às 8h00, ou por aqueles desejam carregar por completo a bateria, às 12h00. Não existe hora limite para o pequeno almoço. Tão simples, tão raro e tão bom. Entre conversas, chás, chocolates e bolinhos caseiros, depressa me senti casa. O meu quarto nesta “minha casa”, tinha vista para rio Douro. Onde as suas janelas, “plantadas” nos extremos de uma parede de pedra, para não esquecer a história do seu passado, são mais um quadro vivo, que me fizerem evocar, mais uma vez, a palavra “pressa”. Desta vez, para não ter pressa de ir embora (e desejar silenciosamente que aquele fosse o meu quarto para sempre). Este espaço é feito de memórias, assim como o retorno do nosso investimento (quer em tempo, quer em dinheiro) numa experiência, é feito, sobretudo, em memórias e as histórias que levamos para contar. O momento em que caiu o Sol, e a luz alaranjada do céu tomou o lugar da luz cinzenta charmosa do dia, onde o tempo parece que fez pausa, momento esse, vivido por mim na pequena varanda do meu quarto do River House. Certamente vai perdurar na minha memória durante muitos e bons anos, e, certamente, será o mote para inicio de muitas (e quem sabe boas) histórias que irei contar. Acho que descreve bem aquilo o que River House é, e o que representou na minha experiência, como complemento, a roçar o perfeito, à minha forma de visitar a cidade do Porto.

Depois disto, qual a melhor forma de sair pelo passadiço do River House e visitar a cidade do Porto? Deitar fora o mapa e perder-se pela ruas da cidade. Foi o que fiz. Acreditem que a surpresa é sempre maior, quando do nada, damos de caras uma (mundialmente conhecida) Livraria Lello (sim, aquela do Harry Potter) ou com uma deliciosa (e desconhecida) Taberna das Flores. E mais um sem fim, de lugares, cheiros, pessoas e momentos, que muitas vezes nem precisam de ter um nome para figurar na nossa memória, quem sabe, para sempre. Acho que este Porto “verdadeiro”, é prodígio nesses momentos. Caso leve mapa (google maps), não deixe de sintonizar os éclairs da Leitaria da Quinta do Paço. Só vos digo isto, não percebo como ainda não foram considerados como Património da Humanidade.

No dia seguinte, depois de um pequeno almoço tardio e com o coração cheio de memórias, voltei a fazer o percurso até à Estação de São Bento, desta vez no sentido inverso. Voltei a caminhar junto à ribeira e assistir a todos os rituais diários daqueles que fazem do Porto a sua casa. Acho que eles nem se apercebem disso, mas é fantástico observá-los. Voltei a admirar os murais em azulejo da estação e a entrar no primeiro comboio em direção a Campanhã. Já no comboio em direção a casa, pensei: “bolas, é fácil ter saudades disto”. Já dizia (e bem) Laurence Sterne: “O momento mais belo de uma viagem é a recordação”. Até me sentia com informação a mais, tantos que foram os bons momentos desta viagem.  Tantas recordações. Sentado num banco de comboio, com o rio Douro como pano de fundo e entre as habituais trepidações do comboio, que a mim, me embalam de uma forma muito particular, seguiam viagem comigo, entre muitos outros, a família Vinha do Solar Egas Moniz e carismático sr. Adolfo do Farelo, seguiam também os vinhos da Quinta do Vallado e toda a história da Dona Antónia Adelaide Ferreira, tudo isto sem esquecer as paisagens do Pinhão e todo o encanto das ruas do Porto. Acredito que tudo isto, vai seguir viagem comigo, talvez, para sempre.

Era final da manhã e chegava à Estação de Porto-Campanhã. O dia estava cinzento e frio, quase como um microclima especial, a contrastar com o céu limpo, do Vale de Douro. Assim que coloco os pés na plataforma da estação, rapidamente pergunto qual a linha para o “transfer” para a Estação de São Bento. Era a linha 2, o próximo comboio partia em 2 minutos. Sem dificuldade (ou seja sem necessidade de fazer um sprint ofegante, ainda para mais carregado de malas), entro no comboio, para uma curta viagem até ao coração da cidade do Porto. O Porto e 1872 River House, estavam à minha espera.

Chegar à Estação de São Bento, é com entrar direto num filme de época. Ainda para mais num dia cinzento, que conferia uma dose certa de melancolismo, para atingir o seu ponto máximo de charme. Com mais de 100 anos de história, iluminada pelos azulejos pictóricos de Jorge Colaço, que não deixam ninguém indiferente na passagem pelo átrio da estação. A estação estava cheia de gente. Umas a chegar, outras a partir. Uns turistas, outros locais. Nem é pelas máquinas fotográficas ou mapas em punho, que se distinguem. É pelo passo acelerado dos locais, provavelmente atrasados para o trabalho ou para apanhar o filho na escola, em comparação com o ritmo pausado do turista, que procura absorver tudo o que é nova informação. E se o Porto tem boa informação para absorver. Este mix de “local vs turista”, é muito engraçado de observar. Naquele momento, sentia-me como um elemento invisível. Apenas a observar o desenrolar da história. E muitas vezes a imaginar a história de cada um. Mas isso é uma mania minha.

Em passo lento, saio da estação. No meio do barulho da agitação da cidade, entre pessoas a conversar, buzinas de carros, o cintilar dos eléctricos ou flashes de máquinas, já conseguia ouvir o grasnar das gaivotas, indicado a proximidade do rio Douro. Iria ser para lá que iria caminhar, em direção ao 1872 River House. Pequeno hotel, colado ao rio Douro, que iria funcionar com base e elemento de ligação a esta minha experiência no Porto. Pouco mais de 700 metros, separavam a estação do River House. Com maior das calmas, caminhei pela Mouzinho da Silveira, em direção à Praça da Ribeira, para depois seguir paralelo ao Douro, para finalmente chegar ao River House. Não é de estranhar os inúmeros prémios, que tem sido atribuídos, consecutivamente, à cidade do Porto. Caminhar por entre centenas de prédios, onde se sente que cada um deles tem uma história interessante para contar, e depois dar de caras com o rio, que ainda carrega o peso da história, do tamanho (do total) dos barcos rabelo que ali atracaram, transportando pipas cheias de vinho chegadas do vale (encantado) do Douro. História essa, que também não consegue ser esquecida, pelo infindável número de casas de vinhos, que tal como santuários, estão cuidadosamente alinhados na margem oposta, na margem de V.N. de Gaia. Sem esquecer a majestosa Ponte de D. Luís. Capaz de figurar, sem grandes problemas, numa lista com as mais icônicas pontes do Mundo. Chego ao River House, meio aturdido com tamanha informação visual e histórica. Com é obvio, não é a primeira vez que vejo isto tudo e que visito a cidade do Porto. Mas toda esta informação, inverte o conceito da racionalidade. Cada vez, a cada novo olhar, esta cidade me impressiona mais.

O 1872 River House segue o conceito da cidade do Porto. Não é fugaz. É melancólico, e quase uma fábrica de histórias e memórias. É uma casa, em jeito de palacete, cor-de-rosa pálido, quase plantado em cima do rio Douro. No passado foi um restaurante e passou por uns tempos como espaço devoluto, até que um incêndio consumiu boa parte da infraestrutura. Ainda bem que nunca vi este espaço assim. Hoje, e desde a sua inauguração em 2014, é uma guest house cheia de estilo e sem esquecer o passado. Começando pela entrada. Uma porta de ferro, no andar superior, que faz ligação a um passadiço cheio de vitrais muito bonitos, não sabendo bem como adjectivá-los, ou se como vintage ou se como algo do futuro, de tão boa pinta e actuais que são. É, sem dúvida, um entrada inesquecível. Entrar pela porta de ferro, que ostenta o “brazão” de 1872 e em seguida atravessar o passadiço, com a luz do dia a penetrar no colorido dos vitrais. Curiosamente, o 1872, é o ano de construção do passadiço. Depois deste momento solene, é entrar numa dimensão de receber, e no meu caso, de ser bem recebido. O River House “apenas” tem 8 quatros. E escrevo “apenas” (entre aspas), porque 8 é a medida certa. A sensação é chegarmos a casa de alguém que gosta de nós e que não nos está a receber à pressa. Os quartos estão divididos por vários pisos, com um espaço comum, no piso inferior. Neste espaço comum, super bem decorado (assim como todo o River House), o rio, através da janelas cuidadosamente alinhadas, parece um quadro vivo, para ser admirado enquanto deixamos o tempo passar. E por falar em tempo, o tempo, elemento tão escasso e valioso nos dias de hoje, é uma das palavras chave do conceito do River House. Nunca existe pressa, nem para uma palavra atenciosa das pessoas que fazem este lugar, começando pela Teresa Aguiar, dona e diretora deste espaço, que tão bem me recebeu. Lá está, como se recebe alguém em sua casa. Também não existe pressa, por exemplo, para tomar o pequeno almoço. Que pode ser tomado pelos madrugadores, às 8h00, ou por aqueles desejam carregar por completo a bateria, às 12h00. Não existe hora limite para o pequeno almoço. Tão simples, tão raro e tão bom. Entre conversas, chás, chocolates e bolinhos caseiros, depressa me senti casa. O meu quarto nesta “minha casa”, tinha vista para rio Douro. Onde as suas janelas, “plantadas” nos extremos de uma parede de pedra, para não esquecer a história do seu passado, são mais um quadro vivo, que me fizerem evocar, mais uma vez, a palavra “pressa”. Desta vez, para não ter pressa de ir embora (e desejar silenciosamente que aquele fosse o meu quarto para sempre). Este espaço é feito de memórias, assim como o retorno do nosso investimento (quer em tempo, quer em dinheiro) numa experiência, é feito, sobretudo, em memórias e as histórias que levamos para contar. O momento em que caiu o Sol, e a luz alaranjada do céu tomou o lugar da luz cinzenta charmosa do dia, onde o tempo parece que fez pausa, momento esse, vivido por mim na pequena varanda do meu quarto do River House. Certamente vai perdurar na minha memória durante muitos e bons anos, e, certamente, será o mote para inicio de muitas (e quem sabe boas) histórias que irei contar. Acho que descreve bem aquilo o que River House é, e o que representou na minha experiência, como complemento, a roçar o perfeito, à minha forma de visitar a cidade do Porto.

Depois disto, qual a melhor forma de sair pelo passadiço do River House e visitar a cidade do Porto? Deitar fora o mapa e perder-se pela ruas da cidade. Foi o que fiz. Acreditem que a surpresa é sempre maior, quando do nada, damos de caras uma (mundialmente conhecida) Livraria Lello (sim, aquela do Harry Potter) ou com uma deliciosa (e desconhecida) Taberna das Flores. E mais um sem fim, de lugares, cheiros, pessoas e momentos, que muitas vezes nem precisam de ter um nome para figurar na nossa memória, quem sabe, para sempre. Acho que este Porto “verdadeiro”, é prodígio nesses momentos. Caso leve mapa (google maps), não deixe de sintonizar os éclairs da Leitaria da Quinta do Paço. Só vos digo isto, não percebo como ainda não foram considerados como Património da Humanidade.

No dia seguinte, depois de um pequeno almoço tardio e com o coração cheio de memórias, voltei a fazer o percurso até à Estação de São Bento, desta vez no sentido inverso. Voltei a caminhar junto à ribeira e assistir a todos os rituais diários daqueles que fazem do Porto a sua casa. Acho que eles nem se apercebem disso, mas é fantástico observá-los. Voltei a admirar os murais em azulejo da estação e a entrar no primeiro comboio em direção a Campanhã. Já no comboio em direção a casa, pensei: “bolas, é fácil ter saudades disto”. Já dizia (e bem) Laurence Sterne: “O momento mais belo de uma viagem é a recordação”. Até me sentia com informação a mais, tantos que foram os bons momentos desta viagem.  Tantas recordações. Sentado num banco de comboio, com o rio Douro como pano de fundo e entre as habituais trepidações do comboio, que a mim, me embalam de uma forma muito particular, seguiam viagem comigo, entre muitos outros, a família Vinha do Solar Egas Moniz e carismático sr. Adolfo do Farelo, seguiam também os vinhos da Quinta do Vallado e toda a história da Dona Antónia Adelaide Ferreira, tudo isto sem esquecer as paisagens do Pinhão e todo o encanto das ruas do Porto. Acredito que tudo isto, vai seguir viagem comigo, talvez, para sempre.

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