Conseguem imaginar aquele vizinho porreiro, do qual não reclamamos, com quem gostamos de brindar num qualquer final de tarde e que vemos como um amigo, tão chegado que pode ser considerado como família. Aquela família que não é construída por sangue, mas que é feita de laços e semelhanças. Conseguem imaginar? É isto que sinto por Mação. O meu sangue é de Abrantes, mas sempre nutri uma simpatia genuína pelo meu vizinho Mação. Um sentimento que tem tanto de verdadeiro como de especial, que me leva sentir este território como meu. Sim, é aqui que entra aquela história da família.

Cheguei à vila de Mação. Existe algo que provavelmente nunca vai mudar na minha forma de visita a este lugar. Estacionar o carro junto à ladeira de Santo de António e seguir a pé a partir daí.  Fica bem na entrada da vila, ainda sem o traço característico do centro. Mas a experiência será sempre diferente a ser começada aqui. Começo por subir à ladeira, para encontrar a bonita ermida de Santo António, mas sobretudo para ter a primeira vista o centro da vila de Mação e para a floresta que a envolve. A perspectiva dos caminhos a percorrer e do que vamos encontrar será certamente diferente, com este ponto de partida. Começando aqui também me confere aquele sentimento muitas vezes chamado de “congelar do tempo”, apenas ao alcance dos lugares especiais. Parece tudo mais pausado, a um ritmo a que a palavra “desfrutar” ganha outro sentido. Volto a descer a ladeira, passo a estrada nacional para o outro lado e encontro uma ponte romana, quase escondida entre pequenas outras. Defino isto como uma genialidade genuína. Sento-me na ponte a observar um agricultor na lide da sua pequena horta e a absorver o encanto deste lugar. Para mim, e com certeza para muito boa gente no passado, esta ponte simboliza o inicio do centro histórico. É claro que imaginei mil histórias, todas com direito a uma viagem ao passado, tentando visualizar por quem ela (a ponte) tinha dado passagem. Adoro estes pequenos momentos, ainda mais clarificados, sendo feitos ao som um pequeno riacho e de dezenas de pássaros que se alimentavam dos produtos das hortas. Coisas magicas de vilas como Mação. Faço a minha passagem na ponte, com o noção da grandeza simbólica do feito. Fico por uma calçada romana ligeiramente inclinada, para o sentimento de “funil” tomar a sua posição inicial. As ruas tornaram-se estreitas e apenas nos pontos mais altos é possível voltar a vislumbrar a gigante floresta. 

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

 

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